Toda a gente se lembraria de Peter devido a dezanove minutos da sua vida, mas então e os outros nove milhões? Lacy teria de ser a guardiã deles, porque essa era a única maneira de aquela parte de Peter se manter viva. Por cada lembrança dele que envolvesse uma bala ou um grito, ela teria outras cem: de um rapazinho a chapinhar num lago, ou a andar de bicicleta pela primeira vez, ou a acenar de cima de uma estrutura de ferro num parque infantil. De um beijo de boa-noite, ou de um cartão do Dia da Mãe pintado com lápis de cera, ou de uma voz desafinada no duche. Ia juntá-los a todos - os momentos em que o filho tinha sido igual aos filhos das outras pessoas. Ia exibi-los, como pérolas preciosas, todos os dias da sua vida; porque se os perdesse, então o rapaz que ela tinha amado, criado e conhecido desapareceria realmente.
Jodi Picoult, Dezanove Minutos
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Quando começou a ser difícil respirar, mergulhou num sonho. Ainda tinha 18 anos, mas era o seu primeiro dia no jardim-infantil. Levava a sua mochila e lancheira do Super-Homem. A camioneta cor-de-laranja da escola tinha parado, com um suspiro, escancarando as mandíbulas. Peter subiu os degraus e ficou virado para a traseira da camioneta, mas desta vez, era o único aluno que lá estava. Percorreu o corredor até ao fim, perto da saída de emergência. Colocou a lancheira ao seu lado e olhou pelo vidro de trás. Havia tanta luz que pensou que o próprio sol devia estar a segui-lo pela estrada.
- Estamos quase a chegar - disse uma voz, e Peter virou-se para olhar para o condutor. Mas tal como não havia passageiros, também não estava ninguém ao volante.
Eis o mais espantoso do seu sonho: no seu sonho, Peter não tinha medo. Sabia que, de alguma forma, ia precisamente para onde desejava ir.
No seu mais recente romance mágico, Sarah Addison Allen convida-nos a visitar uma pitoresca cidade do Sul dos Estados Unidos onde duas mulheres bem diferentes descobrem como encontrar o seu lugar no mundo, por mais deslocadas que se sintam.
Emily Benedict vai para Mullaby, na Carolina do Norte, na esperança de resolver pelo menos alguns dos mistérios que rodeiam a vida da mãe. Porém, assim que Emily entra na casa onde a mãe cresceu e trava conhecimento com o avô, cuja existência sempre desconhecera, descobre que os mistérios não se resolvem em Mullaby, são um modo de vida: o papel de parede muda de padrão para se adequar ao estado de espírito do ocupante do quarto, luzes inexplicáveis dançam pelo quintal à meia-noite, e uma vizinha, Julia Winterson, cozinha esperança sob a forma de bolos, desejando não apenas satisfazer a gulodice da cidade mas também reacender o amor que receia ter perdido para sempre. Mas porque desencorajam todos a relação de Emily com o atraente e misterioso filho da família mais importante de Mullaby? Ela veio para a cidade a fim de obter respostas, mas tudo o que encontra são mas perguntas. Um bolo de colibri poderá trazer de volta um amor perdido? Haverá mesmo um fantasma a dançar no quintal de Emily? As respostas não são nunca o que esperamos, mas nesta pequena cidade de adoráveis desadaptados, o inesperado faz parte do dia-a-dia.
Opinião
Este foi o segundo livro que li da Sarah Addison Allen e foi de encontro às minhas expectativas... Um romance preenchido por recantos de magia, mistério, amor, amizade, reencontros... É uma leitura muito leve e agradável que nos transporta a lugares mágicos, a personagens muito únicas e muito próprias. Contudo, queria mais deste livro... senti que a autora poderia dar mais ao leitor, em vez de o deixar pela superficialidade. Na minha opinião, a narrativa do livro beneficiaria se fosse mais esmiuçada. Acho que falta mais enredo, falta mais actividade para as personagens, falta um maior desenvolvimento do final, e também penso que o livro merecia outro final (a não ser que o livro tenha continuação).
A sinopse é excelente, por isso conseguem perceber muito bem a história a partir daí. Gostei muito de todas as personagens. Todas elas têm um papel importante na narrativa, contudo, e como já referi anteriormente, mereciam mais destaque no livro. Gostaria de saber mais sobre a mãe de Emily, dos acontecimentos que marcaram a vida de Julia e Sawyer, e da história familiar do Win.
O mistério em torno dos membros da família de Win é muito engraçado, mas acho que seria ainda melhor se fosse mais aprofundado, se a autora criasse mais situações em que ele era visível, se houvesse mais história por detrás de toda esta magia.
O final não cria muitas surpresas aos leitores. É uma narrativa aberta (que eu, por acaso, gostaria de ver fechada e desenvolvida, porque a Júlia merecia!!) que dá espaço ao leitor para imaginar o restante. Neste sentido acho que este livro carece de um livro de continuação para dar a conhecer a história da personagem que entra no último capítulo e desenvolver aquele tão aguardado reencontro.
A capa é muito bonita e o título brilha no escuro.
Quem?Não sei quem és. Já não te vejo bem... E ouço-me dizer (ai, tanta vez!...) Sonho que um outro sonho me desfez? Fantasma de que amor? Sombra de quem?
Névoa? Quimera? Fumo? Donde vem?... - Não sei se tu, amor, assim me vês!... Nossos olhos não são nossos, talvez... Assim, tu não és tu! Não és ninguém!...
És tudo e não és nada... És a desgraça... És quem nem sequer vejo; és um que passa... És sorriso de Deus que não mereço...
És aquele que vive e que morreu... És aquele que é quase um outro eu... És aquele que nem sequer conheço...
Autor: Jude Deveraux Ano: 2010 Editora: Quinta Essência Número de Páginas: 352 Classificação: 4 Estrelas Desafio: Reading Romances De A a Z...
Sinopse Jocelyn Minton é uma mulher dividida entre dois mundos. A mãe estudou em colégios particulares e frequentava as melhores salas de chá, mas acabou por casar com o biscateiro local. Joce tinha apenas cinco anos quando a mãe morreu e, quando o pai volta a casar, a criança sente-se mais só do que nunca - até que conhece Edilean Harcourt, que, apesar de já não ser uma jovem, compreende Joce melhor que ninguém. Quando Miss Edi morre, deixa à amiga todos os seus bens, incluindo uma histórica mansão do século XVIII e uma carta com pistas para a jovem decifrar um mistério que remonta a 1941. Na carta, Miss Edi também revela que encontrou o homem perfeito para Joce, um jovem advogado.
Joce fica chocada ao saber que a mansão e o futuro amor da sua vida se encontram em Edilean, de que nunca antes ouvira falar. Curiosa perante esta reviravolta do destino, Joce mudou-se para a pequena cidade, decidida a dar um novo rumo à sua vida.
Em Edilean, todos conhecem a história da jovem e já delinearam o seu futuro, incluindo o homem com quem se deverá casar. Acontece, porém, que Joce tem as suas próprias ideias acerca do homem que terá de conquistar o seu coração e o que fazer aos segredos que ninguém quer ver divulgados. Mas, quando estes se revelam parte da sua história, o certo é que a vida parece ganhar uma nova cor...
Opinião
Este foi o livro ideal para quebrar com o estado de espírito (diga-se pesado) que o livro anterior deixou. Jardim de Alfazema é um romance leve e muito romântico que conduz o leitor por lugares bem descritos e que apetece conhecer.
Comparando este livro com o livro anterior que li da mesma autora, Ninguém para amar,este possui uma narrativa mais dinâmica que deixa o leitor preso à história desde a primeira página.
Joce é uma mulher jovem, muito calma, com umas piadas engraçadas (conseguiram despertar-me alguns sorrisos) que herda uma mansão num lugar que ela nunca ouviu falar na vida. Quem lhe deixou este mansão foi uma velha senhora, Edi, com quem ela partilhou grande parte da sua vida e a ajudou a suportar uma família que fugia aos padrões da sua personalidade. A própria Edi tem um história de vida fantástica que Joce vai descobrindo com a evolução do livro. Confesso que fiquei com pena de o livro não ter mais uns capítulos com a história de Edi... As passagens que aparecem no livro são deliciosas e deixam o leitor com vontade de ler e saber mais.
Joce muda-se para a nova mansão e vê-se obrigada a lidar com um conjunto de personalidades que chocam um pouco com a sua pacatez e introversão... Pessoas que lhe aparecem pela casa adentro; dois homens que entram na sua vida, um que ela simpatiza desde o início e outro que é o oposto daquilo que ela é (mas será mesmo o oposto). Estes dois homens são o Ramsey, um advogado, e Luke, um jardineiro. As interações entre Luke e Joce, no início do livro são muito engraçadas. Luke encerra em si um mistério que vai despertando o coração das leitoras... No meu caso, simpatizei logo com Luke desde o início, o Ramsey era meloso de mais e parecia-me sem carisma.
É uma narrativa misteriosa, envolvente, cativante. Proporciona-nos momentos descontraídos, calmos e que nos despertam os sentidos. É uma boa leitura para momentos em que sentimos o nosso pensamento pesado, para momentos em que nos sentimos em baixo... É um livro optimista!
Acho que avida de uma pessoa dever ser como um DVD. Podemos ver versão que toda a gente vê, ou podemos escolher a versão editada pelo realizador - a forma como ele desejava que a víssemos, antes de tudo o resto se ter metido no caminho.
Em Sterling, New Hampshire, Peter Houghton, um estudante de liceu com dezassete anos, suportou anos de abuso verbal e físico por parte dos colegas. A sua amiga Josie Cormier, sucumbiu à pressão dos colegas e agora dá-se com os grupos mais populares que muitas vezes instigam o assédio. Um incidente de perseguição é a gota de água para Peter, levando-o a cometer um acto de violência que mudará para sempre a vida dos residentes de Sterling.
Opinião
Quando iniciei a leitura deste livro estava longe de imaginar aquilo que eu ali iria encontrar. Acreditem, a sinopse é extremamente reduzida quando comparada com a complexidade que Jodi Picoult nos presentei ao longo destas páginas.
Dezanove Minutos é um livro que deixa as emoções à flor da pele que retracta um acontecimento que, muito recentemente, aconteceu nos EUA (o massacre numa escola). Aliada a esta memória recente, surgem aspectos como a enorme capacidade de descrever os acontecimentos, a complexidade psicológica das personagens envolvidas, o enredo fantasticamente bem construído tornando o livro uma "bomba atómica" de emoções que nos prendem até à ultima página... Posso dizer que à medida que vão lendo serão sempre surpreendidos e não existem "pontos mortos" no livro. É simplesmente viciante e difícil de largar.
Peter é um jovem que nunca soube o que é ser admirado na escola... Sempre foi uma alvo fácil à intimidação e à agressão. Se até ao sexto ano tinha o apoio incondicional da sua amiga Josie tornava as coisas mais suportáveis, a separação de ambos tornou a vida de Peter muito mais difícil. Apesar da crueldade do acto de Peter consegui sentir empatia por ele e pena, frequentemente fiquei emocionada com as intimidações que ele ia sofrendo. Era um miúdo sensível e diferente dos outros, mas a pressão a que foi sujeito foi-se acumulando dentro dele culminando num acto condenável e macabro. Sentia-se incompreendido por todos, até pelos próprios pais.
Josie foi aquele que mais sofreu mudanças ao longo que a narrativa se desenvolvida e foi também a personagem que mais me fez pensar, proporcionando-me diferentes experiências emocionais. Havia momentos em que sentia pena dela, outros em que admirava aquilo que ela fazia, havia ainda outros que me irritava profundamente e outros em que me sentia completamente desesperada por não poder fazer nada contra as atitudes e passividade dela perante determinadas situações. Josie aprendeu a usar uma máscara para poder sobreviver no seu meio escolar. Assim, a maquilhagem proporcionou-lhe a criação de uma Josie popular, adorada por muitos. Rendeu-se às miúdas de personalidade consumista e oca, mas no fundo havia outra Josie, completamente diferentes e a quilómetros de distância de atitudes mesquinhas, materialistas e sem inteligência. Na minha opinião, esta incongruência entre aquilo que ela era e aquilo que ela se mostrava aos outros causava-lhe um enorme sofrimento. Depois havia o Matt, o namorado de Josie, que simplesmente me fazia revirar os olhos de tão estúpido que era. Pelas descrições imaginei-o como sendo um grande monte de músculos sem o mínimo de inteligência. Odiava a forma como ele tratava Peter e como pressionava psicologicamente a Josie.
Há uma passagem do livro que retrata a Josie no seu mais profundo ser. É a seguinte:
Se passarmos a vida concentrados naquilo que os outros pensam de nós, será que nos esquecemos de quem realmente somos? E se o rosto que mostramos ao mundo for uma máscara... sem nada por baixo?
O final de Peter é um bocadinho previsível. Confesso que até pensei que tal acontecimento iria acontecer mais cedo. Os pais de Peter, Lucy e Lewis, também me fizerem ter os sentimentos à flor da pele. Viveram um sofrimento atroz... Aliás eles foram a prova viva de que quando a vida começa a andar para trás não há maneira de se conseguir dar a volta por cima. É muito interessante ver as reacções deles, muito bem construídas e descritas pela escritora que deixam qualquer pessoa a pensar.
Quero destacar um aspecto muito interessante do livro (e não sei se faz parte do género de escrita adoptado pela escritora), e do qual gostei muito, que é o facto de a autora ir deixando um conjunto de perguntas retóricas que activam o pensamento do leitor. São fantásticas, surgindo no momento certo que fazem com que o nosso pensamento mergulhe num mar profundo e cheio de "ses".
É um livro fantástico e marcante... Acho que é um livro que me vai acompanhar ao longo de vários dias! É emocionalmente intenso.
Saudade Ter saudade é vaga disforme de um corpo. Ter saudade é pássaro que aparece e se apaga erguido de confusão na angústia, teste dado à natureza bruxuleante dentro de mim. Ter saudade é fingir qualquer coisa que inquieta, levantada, desenterrada do crivo da memória. Por vezes quando o tempo por ela passa não passa o tempo da saudade, estátua rígida dum destino anoitecido, passa um nada meio acontecido. Saudade, é filha da alma do mundo que de tanto ser outro sou eu já. Saudade, porque viajas cansada em horas dentro de mim? Saudade que vieste até à última força desta linha, brumosa da eterna caminhada. Sempre que vieres sem avisares leva-me contigo para que a paz volte à memória de meu corpo como o rio que passa no tempo final da minha natureza.