Gosto sempre de dar uma oportunidade aos autores portugueses. Cabe-nos a nós não deixar que o trabalho deles fique esquecido. Nestas minhas aventuras por novos autores nacionais tenho-me cruzado com agradáveis e desagradáveis surpresas. Mas é certo, só poderemos formular estas nossas opiniões se dermos uma oportunidade aos livros e, consequentemente aos autores que os fazem nascer.
A linha ténue do passado marca a minha estreia com a autora Mónica Cortesão Gonçalves. Ganhei este livro num passatempo e estava na estante há algum tempo. Infelizmente, esta foi um leitura pouco agradável. É um livro muito pobre, com maus diálogos e com personagens mal exploradas e apresentadas.
Eu gostei da premissa que está por detrás de todo o enredo. Temos um passado familiar para descobrir, uma casa de familiar para explorar e alguém que se sente curioso a desvendar todas estas particularidades em busca de respostas. A curiosidade ainda se aguça mais ao saber que ali há um pouco das vivências de núcleo familiar durante a 2ª Guerra Mundial.
Infelizmente, a forma como a autora deu corpo a tudo o que povoava a sua imaginação não correu bem. A autora precisava de amadurecer a sua escrita, ler mais obras no sentido de perceber qual a dinâmica que está por detrás da construção de um livro, nomeadamente na construção dos diálogos e da sequência narrativa.
Os diálogos são bastante artificias, com pouca expressividade e aborrecidos. Isto dificultou imenso a minha ligação às personagens. Outro aspeto pouco positivo é o facto de a autor se limitar a contar o que vai acontecendo, mas precisa de mostrar, precisa de nos dar acesso ao interior e exterior das personagens e não se limitar a escrever o que aconteceu. Todos estes aspetos fizeram com que eu sentisse este livro como uma leitura bastante artificial, apressada e pouco realista.
Para mim, um bom escritor tem que ser um bom leitor. Aprendemos imenso a ler os outros e a refletir sobre como os outros escrevem e constroem as suas histórias. Penso que a autora ganharia muito se lesse mais e de forma atenta e reflexiva. Penso que iria melhorar de forma exponencial o seu processo de escrita.
Que este livro seja apenas uma primeira experiência de onde possa retirar as suas aprendizagens para, num futuro, fazer melhor.
Este mês, o ACMA convida-nos a refletir sobre o conforto. Ora, eu queria fugir um bocadinho aquilo que poderia ser mais comum ou que facilmente associamos a situações de conforto. Esta reflexão levou-me aos livros e ao conforto que deles podemos obter, e lembrei-me de falar sobre Biblioterapia.
Aos longos dos anos têm emergido diferentes definições e abordagens para o tema. A primeira definição surgiu em 1941, no dicionário especializado norte-americano Dorland’s Ilustrated Medical Dictionary, definindo biblioterapia como “o emprego de livros e a leitura deles no tratamento de doença nervosa”.
No decorrer dos anos seguintes foram muitos os autores que se dedicaram a estudar o tema. Mais recentemente, as autoras Ana Cristina Abreu e Anabela Henriques (2013, p.96), procurando apresentar-nos uma definição mais ampla do conceito, definiram biblioterapia como “uma atividade com vertentes preventiva e terapêutica que, através da leitura de livros de ficção ou de autoajuda, individualmente ou em grupo, tem o propósito de facultar uma experiência recobradora da saúde, ou permitir um contínuo desenvolvimento, em qualquer idade do ciclo vital”. Podemos referir que esta atividade é um recurso que, quando bem utilizado, poderá funcionar como um excelente aliado das técnicas psicoterapêuticas. Assim, através dos livros estamos a oferecer conforto aos pacientes no seu processo de superação pessoal e na conquista pela sua saúde mental.
O interesse pela temática tem vindo a ganhar lugar no mundo da investigação e a diversa literatura científica reforça o valor da biblioterapia como uma ferramenta psicoterapêutica extremamente útil no tratamento da doença mental. Complementando esta informação, as investigações apontam para o aumento da eficácia da psicoterapia quando combinada com a biblioterapia. Neste sentido, a investigação acerca da combinação destas ferramentas mostra que realmente existem benefícios no tratamento de depressão, alcoolismo, automutilação, ataques de pânico, disfunção sexual e na promoção de competências socais (Fanner & Urquhartt, 2008).
Por fim, uma outra investigação que eu achei bastante interessante á a da autora Maria Silva (2011). Esta autora desenvolveu uma investigação em que aplicou as técnicas de biblioterapia junto de crianças do ensino pré-escolar na gestão emocional, nomeadamente na gestão do medo e da agressividade; aspetos tão presentes nesta etapa do desenvolvimento.
Esta é um campo de investigação ainda recente e, por isso, penso que ainda há um longo caminho a percorrer. Porém, nada invalida que reconheçamos a importância dos livros e os benefícios associados à leitura. Para mim, a leitura é uma enorme fonte de conforto, de descontração e de estimulação. Através dos livros consigo desenvolver-me enquanto profissional, enquanto pessoa e enquanto ser emocional. Desta forma, acho que não será diferente para outros leitores. Espero que muitas outras pessoas se dediquem a este tipo de investigações. Pessoalmente, se tivesse disponibilidade gostaria de explorar as potencialidades da leitura em crianças ao nível da gestão emocional, da agressividade e de comportamentos de oposição e na estimulação da inteligência emocional e empatia.
Se quiserem fazer parte deste projeto, basta falarem com a Ju, através do seguinte email, acma.cultura@gmail.com. O projeto também está presente no facebook, através da página que podem consultar aqui.
Azevedo, F., & Haydê, C. (2016). Práticas e discursos académicos sobre biblioterapia desenvolvidas em Portugal. Álabe, 14, pp. 1-14.
Fanner, D., & Urquahartt, C. (2008). Bibliotherapy for mental health services users part I: A systematic review.Health Information Libraries Journal, 25, pp.237-252.
Silva, M. P. T. da (2011). Biblioterapia na educação pré-escolar: a gestão do medo e da agressividade. Dissertação de Mestrado, Escola Superior de Educação de Paula Frassinetti, Porto, Portugal. 74 f. Retirada de 2015, http://repositorio.esepf.pt/ handle/10000/479
Apaixonada por poesia, por contos infantis e crónicas. Não há um dia que não escreva nem que seja um qualquer recado.
Formada em Jornalismo e Comunicação. Mestre em Jornalismo, Comunicação e Cultura.
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Como é que nasceu a Ana escritora? O que é que a Ana escritora tem da Ana enquanto mulher e Ser Humano?
A Ana escritora nasceu há mais de dez anos quando conheci Pessoa e Florbela. Na altura devorava os seus poemas e li-os vezes e vezes sem conta. Descobri que gostava de escrever, e por isso decidi formar-se em Jornalismo e Comunicação, e mais tarde tirei o mestrado em Jornalismo, Comunicação e Cultura.
A escrita jornalística é igualmente uma paixão que vivi durante três anos. Quando deixei de ser jornalista dediquei-me à poesia e compilei poemas que fui escrevendo ao longo dos anos.
A Ana escritora é tudo o que a Ana mulher não mostra, a todos, ser: emotiva, apaixonada e nostálgica. Quem me lê vê-me nua, despida de sorrisos falsos e palavras simpáticas. Quem me lê conhece-me.
Que motivos te levam a escrever poesia?
A poesia é sentimento e por isso faz sentido para mim.
O motivos pelo qual escrevo poesia está relacionado com a paixão que me faz ler poesia. É o meu género literário preferido, seguido das crónicas.
Consideras que a poesia é um género literário mais fácil ou mais difícil do que os outros? Porquê?
Para mim é natural, por isso, se estiver inspirada considero fácil. Talvez não seja tão fácil de ler como uma história com princípio, meio e fim, mas é genuína.
Podes partilhar connosco a forma como é que nasce um poema teu? Onde procuraras inspiração, como articulas as palavras.
Um poema meu nasce de um pensamento que coloco no papel. É espontâneo. Não me sento a tentar escrever poesia. Às vezes, escrevo mentalmente no carro, na cama.
A minha inspiração nasce do que sinto no momento, do meu filho, do meu marido, da minha mãe, da minha terra. No fundo do amor e da dor.
Vês-te a escrever outros géneros literários? Quais? Tens algum projeto em construção?
Sim. Enquanto jornalista escrevi notícias, reportagens e fiz entrevistas. E a escrita jornalística é igualmente fascinante para mim, sendo que enquanto jornalista os meus sentimentos não iam para o papel e prezava pela objectividade.
Também escrevo crónicas, algumas estão no blogue debocaencerrada.blogspot.pt, outras poderão vir a ser um livro. Publiquei três no P3 - site do jornal Público.
Neste momento, além dos poemas que escrevo com bastante frequência, estou a escrever um livro em prosa, que conta a história de duas pessoas que se amam e acompanham, mas que são mais do que um casal.
Porque é que as pessoas devem ler o livro “Os meus poemas não rimam”? O que é que as pessoas vão encontrar no livro.
"Os Meus Poemas Não Rimam" é um livro para todos os dias, para nos confortar em dias menos bons, nos deixar com saudade e nos fazer acreditar no amor puro.
No livro encontram-se pedaços de mim, pedaços de nós, pedaços de toda a gente que sente, que teme, que vive, que ama.
Ana, muito obrigada pela disponibilidade para responderes à minha entrevista.