Terminada a leitura é altura de responder ao desafio que a Denise me propôs para o livro Limões na madrugada de Carla M. Soares.
Os cinco sentidos
Os limões e o seu perfume apresentam um significado especial para Adriana.
Procura identificar os cinco sentidos na tua vida:
- um som especial;
A buzina do carteiro! Geralmente é sinal de envelopes com coisas boas para mim.
- um perfume que se destaque;
Alfazema. Sou viciada neste aroma. Acho-o calmante e adoro a flor. Tenho um saquinho na estante, oferecido por uma pessoa especial, que contém alfazema seca e que perfuma o ar.
- um sabor que te cative;
Prefiro doces a salgados e, de entre os doces, aquele sabor mesmo especial é sabor do maracujá. Adoro o sabor em gelados, rebuçados e claro a própria fruta. Eles já crescem no meu jardim, mais um mês e poderei sentir o sabor novamente.
- uma textura que não esqueces;
Não sou muito de texturas e de lhe prestar atenção, mas adoro sentir a textura das camisolas de lã no Inverno. É uma forma de sentir aconchego.
- uma visão que te deslumbre.
O pôr do sol visto pela janela do meu quarto. Hoje não vos posso mostrar, está nublado, mas quando dá para ver é uma imagem bonita. É agradável ver o sol a esconder-se, gradualmente, por detrás de uma montanha.
Desde já quero pedir desculpa aos meus leitores pelo uso de spoilers na opinião a este livro, mas não os consigo evitar. Quero fundamentar muito bem a classificação que atribui e que poderá surpreender-vos, uma vez que é um livro muito bem cotado no Goodreads e já conquistou imensos leitores.
Assim que saiu este livro admito que fiquei curiosa com a história, ou não fosse eu uma fã de romances com drama à mistura. A Denise foi uma querida e emprestou-me o seu exemplar (depois da experiência dela, acho que ela queria era ver-me a destilar frustração e impaciência - brincadeira).
Comecei a leitura já um pouco reticente. Aquele entusiasmo inicial diminui à medida que a Denise partilhava comigo algumas das suas impressões sobre o livro.
Visão geral do livro
Este livro tem uma das edições mais bonitas que já me passou pelas mãos. A capa está muito bem conseguida e o interior acompanha esta delicadeza. Mas a beleza do livro fica por aqui. Com uma escrita mediana, cheia de frases feitas e detentoras de uma filosofia barata que nos transforma os diálogos numa experiência surreal. Nós não comunicamos com as pessoas usando, constantemente, frases que parecem retiradas daqueles livros de citações. Este estilo de escrita fica pior nos diálogos. Quando é narração uma ou outra frase destas, inserida de forma correta e com sentido, não me atrapalha. Já nos diálogos faz-me trepar paredes por me sentir afastada da história, pois tudo me soa artificial.
A partir de agora vão começar os spoilers...
Depois de partilhar com vocês esta visão mais geral tenho de destacar certos aspetos da história que a tornam pouco credível aos meus olhos. Sim, eu sei,é um livro e não a realidade. Mas quando escrevemos um romance com características contemporâneas ou inserido no género YA, ou mesmo numa romance de época não queremos que ele pareça real aos nossos olhos? Eu gosto de sentir essa aproximação à realidade. Gosto de me apoderar da história e pensar fogo isto parece mesmo que está a acontecer aqui ao meu lado.
O prólogo tem logo um conjunto de situações mal explicadas. Paola decide fugir do marido violento, que está em casa, pois ela até sabe quais as escadas evitar para que não seja ouvida pelo marido que está... não sei onde, mas pelo comportamento da nossa personagem feminina ela sabe onde ele está. Mas, qual milagre ou poder do teletransporte, ele aparece-lhe no carro. Podem dizer, que há vários caminhos para ir para o carro, que ela não se apercebeu... A mim parece-me pouco credível pela forma como ela descreve o seu percurso até ao carro. Então o Roberto está sentado na parte traseira do carro e consegue agredi-la dali com uma facilidade que me deixou a pensar (sim, fui-me colocar na parte traseira do carro para testar). Poderia ser possível, mas os movimentos ficam muito limitados e tendo em conta a estrutura física da Paola não acho que tenha sido a opção mais correta.
A narrativa avança e temos a Paola numa clínica. Não consigo perceber de onde vem o dinheiro para a Paola ficar tanto tempo numa clínica. Dá a sensação que ela é uma "dondoca" que nunca precisou de fazer nada na vida e que os pais financiam todas as suas necessidades. E depois a "clínica" é um tanto ou quanto irreal ao misturar pessoas com incapacidade física com a pessoas que estejam a lutar contra traumas e sofrimento psicológico muito específicos. Geralmente, não se misturam estes grupos em comunidades terapêuticas, uma vez que as necessidades são muito diferentes. Mais um ponto que não abona para a criação de uma cenário real. Também aqui assisti a uma das conversas mais estranhas entre a Paola e o seu psicólogo. Foi uma espécie de consulta, com os diálogos cheios de frases feitas, sem realismo, sem emotividade e sem expressividade. E claro, era uma "clínica" tão descontraída que até permitia que os pacientes recebessem visitas no quarto e até dessem umas cambalhotas na cama.
O André também me causou muita comichão mental. Ele transpira sexo por todos os lados do corpo. Só procura a Paola para sexo, ou para sexo e depois para uma espécie de conversa. Nunca senti o carinho e amor a nascer entre os dois, nunca vi aquela relação crescer com diálogos, momentos de interação realistas... Entre eles, era tudo uma questão física. Houve um momento em que o meu cérebro parou!! Quando li a passagem em que o André experimenta um sexo algo selvagem, com direito a palmadinhas. Como é que uma mulher, sujeita a tamanho sofrimento numa relação abusiva e cheia de violência, consegue sentir prazer com uma experiência sexual tão dura e exigente (logo num dos primeiros encontros)? Sei que cada caso é um caso, mas a probabilidade de tal acontecer na realidade é ínfima. Não gostei deste André, não gostei da forma dramática que a autora o pintou. Era um homem que vivia para o trabalho, para a filha e para o sexo. E é isto que nos oferece esta personagem. Para mim, tornou-se vazio e sem empatia nenhuma.
A dinâmica entre André e Paola não é muito cativante e só piora com a tentativa de provocação de ciúmes com o Jorge. Ah! O Jorge é outra alma quebrada, que apenas serve para introduzir mais drama e não trazer nada de novo e significativo à história e às personagens.
A Sol é uma criança amorosa. Gostei de algumas coisas dela e de algumas intervenções dela, mas a carga dramática que lhe foi atribuída não faz sentido. Ela foi vítima de negligência física e emocional grave quando ainda era uma bebé de colo. Felizmente, não ficam memórias desse género em bebés. É irreal o contexto que a escritora criou. Teria feito mais sentido se ela pegasse por possíveis marcas físicas no corpo! Como ela descreve que a menina foi queimada com pontas de cigarro, poderia ter explorado por aí, criado algumas inseguranças, jogar com o facto de pertencer a uma família monoparental, onde a mãe está ausente. Agora torná-la numa criança antissocial e atribuir como causa desse comportamento algo que ela vivenciou com meses de idade, não faz sentido. A explicação para o facto de ela não ser filha do André também não é convincente. Tenho casos na família em que os avós são morenos de cabelo castanho, o mesmo acontece nos pais e os filhos nascem loiros e com olhos claros. A genética não é algo tão linear-
Por fim, quero escrever sobre o contexto social criado pela autora. Acho que ela faz uma mistura entre o contexto português e o brasileiro. Não está bem clara essa caracterização. No Brasil, até há uns tempos atrás (agora não faço ideia como esteja) os estudos universitários eram gratuitos. Vi muito gente vir para Portugal com boas bolsas de doutoramento e com tudo pago. Pelo que me contavam só pessoas de nível socioeconómico muito baixo, que vivem em favelas é que facilmente abandonam os estudo. Posso estar enganada, mas dado o lugar onde o André e os pais viviam não me parecia uma zona de famílias com poucos recursos. Eu colocá-lo-ia na classe média-baixa aqui em Portugal. Teriam apoios e ele poderia estudar. A questão dele não ter terminado os estudos por causa da Sol, também está mal explicada. Quando a criança nasceu ele já tinha idade suficiente para ter terminado o curso. Acho que houve aqui uma falha de cálculos.
Fim dos spoilers!!
Faltam muitas coisas a este livro. Aspetos que um bom trabalho de revisão por parte de um leitor beta teria ajudado a autora a esclarecer e completar. É normal ficarmos muito ligados à nossa história e não darmos conta de algumas imperfeições. Aliás, quando não temos conhecimento de causa acerca dos temas acabamos por utilizar uma versão romanceada ou conduzir a narrativa através de erros sucessivos.
A autora precisa de perceber melhor a diferença entre o contar e o mostrar. Ela conta muito e mostra pouco e isso não satisfaz um leitor assíduo. Escrever: Roberto deu-me um estalo na cara é diferente de Eu tentava desviar-me das investidas do Roberto. A sala era um labirinto demasiado simples para que eu me pudesse esconder. E, quando menos esperava, uma mão forte e certeira atingiu o o meu lado esquerdo da face. A sua passagem deixou o calor, o ardor e vermelhidão de uma mão que só conhecia a força da violência. Na minha cabeça ficou a humilhação de, mais uma vez, sucumbir a essa mesma violência.
Deve pesquisar mais e melhor sobre os assuntos que quer retratar no livro para que não caia em incongruências e coisas irrealistas.
Não é um livro sobre abusos físicos e violência doméstica. Considero que seja um livro de superação dos traumas, de viver a felicidade para além do do sofrimento.
Esta opinião não é um destilar de veneno. Quero que ela seja útil a quem a lê, quero quebrar um bocadinho o feitiço de encantamento e a sobrevalorização que está a ser criada em volta do livro. No fundo, é a minha visão dos acontecimentos é o meu desencanto por um livro que prometia tanto e que os leitores me fizeram acreditar que valia esse tanto.
Nem sou muito de expor as fragilidades de um livro assim, em opinião. Quem já levou com a minha caneta azul da censura em revisões de leitora beta sabe que eu não perdoou. Acho que chego a ser um pouco obsessiva com a história e desconstruo muito do que é escrito. A minha intenção é sempre ajudar a tornar os livros melhores e mais realistas.
Não sei se a Sofia vai ou não ler a minha opinião. Se a ler e achar ofensiva, peço desculpa por isso. Quero apenas escangalhar-lhe este livro para que ela tenha hipótese de mudar no futuro e eu ter a oportunidade de vir aqui escrever e vibrar com a evolução dela.
Aos meus leitores, as maiores desculpas pela imensidão de texto que aqui mora.
Se tivesse de escolher uma palavra que refletisse a minha experiência de leitura com este livro, seria sofrimento. Foi um sofrimento terminar o livro, foi um sofrimento vaguear por uma história narrada de forma complexa e com uma escrita demasiado poética, foi um sofrimento ver o escritor a dialogar com a Florbela e com o Apeles... E assim, três semanas se passaram, enquanto ia lendo o livro aos poucos e em que tive necessidade de meter outras leituras pelo meio de forma a conseguir sobreviver enquanto leitora.
Há uns valentes anos atrás já tinha lido uma biografia sobre Florbela Espanca. Foi para um trabalho da universidade, em que elaboramos o perfil psicológico dela. Não me lembro da pessoa que escreveu a biografia que li, mas na altura gostei e contribuiu para que o me fascínio (que já vinha da escola e da análise dos seus poemas) para com esta poetiza e escritora portuguesa aumentasse. Ora, desde aí, tudo o que está relacionado com Florbela Espanca e certo que passará pelas minhas mãos.
Assim que vi este livro na biblioteca sabia que precisava de o trazer. Estava tão entusiasmada que o embate com a realidade foi maior.
Não fui conquistada por nada no livro. Fui divagando na leitura na esperança de chegar ao fim o quanto antes. O livro tornasse aborrecido devido à escrita demasiado elaborada e cheia de contornos poéticos e à forma como a vida da escritora nos é apresentada.
Esperava mais. Esperava uma narrativa clara, sem interferências do escritor que só tornaram o livro mais fastidioso.
Apesar de tudo, o livro não matou o meu interesse pela escritora. Num futuro breve quero conhecer melhor a obra que nos deixou e perder-me nos poemas cheios de angústias, dores interiores e fantasmas emocionais.
Este filme é magnífico. A banda sonora revela uma certa delicadeza sentimental, o guarda roupa espelha bem as épocas que o filme vai percorrendo e as interpretações destes atores são soberbas.
Desde que este filme saiu que tinha vontade de o ver. Talvez por se tratar de um filme que pretende espelhar uma história de vida real, talvez por Stephen Hawking ter uma mente inspiradora... O que eu sei é que tudo me atraia para este filme.
Adorei conhecer melhor a magnífica vida de um homem da ciência e de uma mulher das letras com um coração demasiado humano e capaz de abraçar a diferença indo contra tudo e contra todos aqueles que lhe indicavam outros caminhos. Não sei até que ponto o filme é fiel ao que se passou na realidade, mas o amor de Jane é inspirador. A força e a determinação que ela carrega é fenomenal. E claro, a inteligência e o sentido de humor de Stephen é das coisas mais deliciosas do filme.
É claro que todas estas emoções boas só aparecem porque temos dois brilhantes atores a dar corpo a duas pessoas inspiradoras. Eddie Redmayne está fenomenal no papel de Stephen, as semelhanças físicas foram assustadoras para mim. Esteve brilhante em cada etapa da vida e da doença que se apoderou da autonomia deste homem. E claro que ao lado de um grande homem, só pode caminhar uma grande mulher e Felicity Jones transparece força, amor, determinação. No início não me estava a conquistar muito, achava-a um pouco apagada e ofuscada pelo brilho de Eddie Redmayne, mas com o desenrolar do filme ela vai-se transformando e assume-se como uma peça chave ao longo do filme.
Quando cheguei ao fim, a sensação com que fiquei é: queria mais. Queria saber mais pormenores da vida de cada um, das consequências das suas escolhas e da relação saudável que Stephen parece ter mantido com Jane. Apesar de tudo, acho que eram perfeitos um para o outro, mas consigo perceber na perfeição quer a escolha de Stephen (que acho que foi para dar a Jane a possibilidade de viver um amor com outros contornos - não fiquei certa de que ele tenha deixado de gostar dela) quer o cansaço e a frustração de Jane perante os desafios da vida.
Stephen Hawking ultrapassou todas as leis da medicina e desafiou a sentença de morte que lhe deram. Viveu muito mais dos que os dois anos que lhe tinham dado e assim, teve tempo de amar, ser amado e de desafiar as teorias científicas que ele próprio criava. E isto deixou-me feliz e fez-me pensar muito no que ele disse: Não importa o quando a nossa vida seja má, há sempre alguma coisa que podemos fazer e triunfar. Enquanto há vida, há esperança. Esta será uma daquelas frases que irei guardar sempre comigo e olhar para ela em momento mais negros da minha própria vida.
Mais uma vez, em poucas palavras, Clarice Lispector consegue transportar-me para os dois mundos que podem cobrir a infância: o mundo da fantasia aliado ao sonho, e o mundo da floresta negra aliado ao sofrimento e às necessidades.
Neste conto temos uma menina que sonhava com o Carnaval. Sonhava com a alegria que esta quadra encerra. Porém, o destino e as suas condições impediam-na de viver o lado alegre e festivo do Carnaval. Ao longo do conto assistimos às mudanças do lado mais negro da vida desta criança oferecendo-lhe um rasgo de boas vibrações no meio da tristeza e da dor.
Conto:Come, meu filho
Classificação: 2 Estrelas
Este conto é demasiado curto para me permitir uma opinião mais complexa.
É um conto que nos transposta para a exigente "idade dos porquês". Então encontramos uma criança curiosa, cheia de perguntas e uma mãe que apenas está preocupada com a refeição do filho. É um conto interessante do ponto de vista em retrata a relação entre mães e filhos.
Conto:A quinta história
Classificação: 4 Estrelas
Este conto está muito engraçado. Partindo do mesmo assunto, a autora consegue dar-nos quatro histórias que ficam todas reunidas numa só: a quinta história.
A forma como as palavras são conjugadas e como os acontecimentos estão encaixados deixa sobressair a inteligência da autora na construção de histórias.
Conto:Tentação
Classificação: 3 Estrelas
Tentação é um conto sobre a diferença. Uma menina diferente, num mundo de iguais, que encontra um ser que com ela partilha essa diferença. São atraídos um para o outro, mas ainda não estavam preparados para caminharem em conjunto.
Aquilo que mais gostei neste conto é a ternura que está associada à história.
Conto:O ovo e a galinha
Classificação: 1 Estrela
Senti-me extremamente ignorante a ler este conto porque não cheguei a perceber qual a mensagem que a autora queria transmitir, nem qual a intenção dela perante toda a filosofia acerca do ovo, da galinha e do amor.
Uma leitura confusa, que me aborreceu e me frustrou.
Conto:Macacos
Classificação:2 Estrelas
Mais um conto estranho de uma menina que escolhe como animal de estimação um macaco.
Penso que, com este conto, a autora pretendia mostras que os animais devem ser tratados com respeito e não ajustá-los às nossas necessidades. Contudo não estou bem certa de ter feito uma boa interpretação da mensagem do conto.
Conto:Menino a bico de pena
Classificação: 3 Estrelas
Este conto é uma breve reflexão sobre o crescimento, a aprendizagem e as potencialidades de desenvolvimento de uma criança. E ao longo de todo este caminho, há uma personagem que tem de ser valorizada: a mãe.
É um conto bastante simples, muito fiel ao estilo metafórico que a autora deixa sobressair em alguns dos seus trabalhos.
Aprendeste cedo que os desconhecidos ficam a olhar para uma cadeira de rodas. Ensinei-te a sorrir-lhes, dizer olá, para que percebessem que és uma pessoa e não apenas uma curiosidade da natureza.
Andava muito indecisa relativamente ao autor de Julho. Depois do livro de Maio ter sido responsável por uma das minhas maiores ressacas literárias e de em Julho a escolha não ter sido muito positiva, não sabia muito bem em que livro apostar.
Dadas as circunstâncias, achei que escolher um livro que não me parecesse tão exigente em termos cognitivos. Queria uma leitura leve e descontraída, que me fizesse viajar por outras realidades.
Então pesquisei um pouco nos ebooks que tinha para ler e a minha escolha recaiu sobre um livro do jornalista e escritor Júlio Magalhães.
Relativamente aos livros que tinha como opção, acabei por escolher o livro Longe do meu coração.
Espero que este mês a leitura seja melhor do que o do anterior. Nunca li nada do autor, mas pelo que vi no Goodreads, esta livro parece corresponder àquilo que eu procurava.
Junho foi a antítese de Maio. Se em Maio as leituras integraram os melhores sabores, as de Junho arrefeceram até se tornarem amargas. No fundo, o meu eu leitor arrefeceu com as chuvas de verão e vi-me no meio de uma ressaca literária que denegria todas as leituras com que me ia cruzando. Não me impediu de ver a beleza de algumas, porém nenhuma me encheu o coração como esperava. Saída de uma grande história terminada no mês anterior, entrei devagar, a apostar em algo que seguro e que me consegue, no geral, agrada. Embrenhei-me em relações familiares complexas (Laços familiares - Danielle Steel) com alguma emoção à mistura, mas emaranharam-se demais e não ofereceram toda a complexidade que eu esperava. Em busca de algo que me aquecesse a alma e me libertasse a mente investi em novas paragens. Sem numa ter lido as palavras da autora, atirei-me por emoções proibidas que nasciam de um erotismo bem conseguido mas a quem faltava contexto (Emoções proibidas - Jesse Michaels). Continua insatisfeita e a ressaca adensava-se. Pensei que o melhor era apostar em palavras nacionais. Foi a pior escolha que fiz no mês, e uma leitura que eu esperava entusiasmante, na companhia de uma das minhas poetizas preferidas (Florbela, Apeles e eu - Vicente Alves do Ó) tornou-se um suplício que se arrastou até ao final do mês. Continuei em modo nacional, intercalando novos sabores de forma a adoçar um pouco o amargo que se estava a instalar em força. Comecei com o ácido do limão (Limões na madrugada - Carla M. Soares) que apesar da história ácida, o aroma fresco e reconfortante da escrita prevaleceu. Inundada pelo cheiro a limão não estava à espera de ser quebrada por uma história medíocre e sem emoção (Sorrisos quebrados - Sofia Silva). Só não me quebrou a frustração nem a incompreensão perante tanto fascínio dos leitores para com uma história cheia de falhas e que está longe de provocar falhas nas batidas cardíacas. Pelo meio, fui alimentando a minha ressaca com alguns contos do livro que continua a ler da Clarice Lispector. São contos muito metafóricos, mas foram insuficientes para ressuscitar a minha veia leitora.