Classificação: 4 Estrelas
"Perto de Casa"é o livro de estreia de Cara Hunter e deixa-me antever a qualidade dos próximos livros da autora. É um livro construído de forma diferente quando comparado com outros livros do género e só esse aspeto já lhe acresce um enorme valor.
A narrativa desenrola-se em torno do desaparecimento de uma menina de 8 anos, a Daisy. A partir daqui segue a estrutura de outros livros do género. Investigações policiais, atuação da equipa forense, perícias científicas, interrogatórios, pistas que são lançadas para nos gerar confusão (ou não) e profissionais da polícia em choque perante o crime em que se vêem obrigados a trabalhar. E depois temos um elemento surpresa: a atividade paralela que se desenvolve nas redes sociais.
Atualmente, crimes mais mediáticos acendem a atividade nas redes sociais. De repente, todos são capazes de encontrar os culpados e de os julgar com uma facilidade tremenda. Pela primeira vez na minha vida enquanto leitora de livros do género vi o papel das redes sociais a ser abordado. É muito interessante e realista a forma como a escritora vai encaixando estes elementos ao longo do texto. É muito real, muito próximo daquilo que, nos dias de hoje, facilmente encontramos no Facebook e no Twiter. Foi tão realista que enquanto lia o livro facilmente me recordei de crimes mediáticos que aconteceram em Portugal, nomeadamente o desaparecimento da Joana, da Maddie, do bebé Madeirense... Infelizmente, é um livro ficcional que tem muito de realista e espero que a escritora mantenha este registo.
Servindo-se de todas estas armas narrativas, Cara Hunter atira-nos para o desespero de uma família cheia de esqueletos no armário. E como não bastam os esqueletos da família de Daisy, ainda nos oferece os esqueletos inspetor Adam.
Quanto à família de Daisy, a autora conduz-nos por um ambiente familiar complexo. A complexidade é nos oferecida de forma doseada, mas sem deixar espaço para aborrecimentos. É um livro cheio de ação e de acontecimentos. Não há tempo para o tédio. Ao virar de cada página encontramos algo de novo, algo que nos faz pensar afinal quem é que andou a tramar isto tudo. Tive sempre muitas desconfianças, mas muito poucas certezas.
Achei toda a equipa de investigação muito interessante e muito bem construída. Fiquei com vontade de saber mais sobre todos eles, e espero receber mais informação no livro seguinte. Adam é a cereja no topo do bolo. Um homem com um passado doloroso, que no fim, ao saber o que lhe aconteceu fiquei com o coração apertado. Infelizmente, senti falta de mais. Precisava de ter lá escrito tudo o que aconteceu na vida deste homem um meses antes daquela fatalidade. Precisa de o compreender mais, de ver o seu interior de uma forma mais plena.
O final... Bem, mais um daqueles que jamais irei esquecer. Se por lado foi surpreendente (apesar de ao longo do livro pensar que aquela personagem estava implicada de alguma forma) por outro deixou-me um gosto agridoce. Tenho dificuldade em lidar com injustiças. E este final é de certa forma injusto. Fiquei frustrada porque não fechou da história de forma totalmente conclusiva. Eu precisa de mais. Porém, tenho a leve desconfiança que num próximo livro este caso ainda irá ressuscitar.