— Estás louca? O que é que achas que uma taróloga poderá fazer por ti?
— Ei.. Ei! Para já aí! Por mim não! Por nós! O problema é comum. Eu não tenho um filho sozinha. Os meus óvulos precisam do teu espermatozoide. De preferência um dos bons.
Ele revirou os olhos. Já lhe faltava a paciência para o assunto. Andavam a tentar ter um filho há um ano. Até ao momento ainda não se tinha conseguido.
— Então? Não dizes mais nada?
— O que é que queres que eu te diga? Uauu… Bora lá ver o que é que as cartas têm a dizer relativamente ao nosso desempenho sexual. – Os olhos dela já quase saíam das órbitas, mas ele ignorou e continuou. – Não, espera! Vamos ver se as cartas atestam a saúde das nossas células reprodutoras, antes sequer de termos consultado um médico.
Ele ouvi-a respirar fundo umas três vezes antes de lhe dar uma resposta.
— Sabes que neste assunto, médicos, nunca fiando. Há uma certa aura mística no que toca à conceção de uma criança… Os ciclos lunares, o alinhamento dos astros… Já pensaste que podemos não estar a treinar no momento certo?
— Decididamente estás a ficar doida… Sim, podemos não estar a treeeiiiinar no momento certo, ou seja, não estamos a respeitar o teu período fértil. Ou os meus espermatozoides não estão com a pedalada suficiente para conquistar um óvulo dos teus. Mas querida, as respostas a estas questões não estão nas cartas de uma taróloga, estão nos exames que profissionais qualificados prescrevem e analisam.
— Puff…. Por que é que tens de ser tão científico? Por que é que não acreditas que conceber um filho é algo mágico.
Ele sorrio e foi sentar-se ao lado dela no sofá. Emoldurou-lhe o rosto com as mãos e falou-lhe de forma terna.
— Querida, conceber um filho é mágico, porque há amor. Mas nós precisamos de ir ao médico. Há médicos muito competentes nesta área. Só precisamos de procurar um que seja capaz de nos orientar.
Ela começou a chorar. Estava a tentar aligeirar algo que lhe estava a consumir a alma, mas não podia.
Ele beijou-a e fez amor com ela como se lhe quisesse aliviar a alma. Depois dessa noite já não precisaram de ir a tarólogas. Bastou o médico para fazer o acompanhamento pré-natal.
Há quanto tempo é que eu queria ler este livro? Praticamente desde que vi o filme. Não costumava ver filmes baseados em livros sem primeiro ter lido o livro. Hoje em dia é algo que não me afeta particularmente. Por conseguinte, surgiu a oportunidade de ver o filme sem ler o livro e vi... Chorei! Chorei como há muito tempo não chorava a ver um filme. E depois dessa vez, vi-o mais umas quantas vezes, chorando outras tantas sem nunca me aborrecer. Tinha de ler o livro! Aproveitei uma promoção na Wook e, assim, fiz a minha última compra de 2019.
Já desconfiava que seria uma leitura fenomenal, por isso escolhi-o para primeira leitura do ano. Foi uma leitura avassaladora. Dei por mim a ler e a saber os diálogos de cor! Ver o filme tantas vezes permitiu que muitas conversas entre Lou e Will ficassem gravadas em mim. Melhor ainda era quando o diálogo que sabia do filme era enriquecido de uma forma que apenas o livro o permite. Foram boas surpresas que se traduziram em momentos de genuíno sorriso! Acredito que as histórias precisam de tempo para crescer e, geralmente, o cinema não consegue ter tanto tempo para que isso aconteça. Assim, no livro os diálogos ganharam uma profundidade diferente e no meu imaginário as cenas ganhavam forma, cor e som. Foi impossível ler e não associar os nomes às caras que tão bem conhecia do filme.
"Viver depois de ti"é a história de Louisa Clark e de Will. Dois jovens que olham para a vida de forma distinta, mas que por vicissitudes da vida acabam nas mãos um do outro. É uma narrativa cheia de um positivismo muito clarkeniano. As cores e o movimento alegre e descomplicado nascem da vivacidade uma jovem simples. A todo este brilho junta-se o humor negro e inteligente de Will. E desta combinação nasceu em mim o amor, o riso e as lágrimas. Foi uma leitura tão boa que quero guardá-la em mim por muito e muito tempo. É um daqueles happy places onde gosto de levar a mente em dias menos positivos. Apesar de todos os contornos dolorosos que caracterizam este livro, considero que todo o processo no qual as personagens vivem e crescem deixa uma mensagem importante onde a vida, o respeito pelo próximo, o amor verdadeiro e a amizade cabem num espaço comum. Espaço esse cheio de dúvidas, de incertezas e de decisões difíceis. É um livro cheio de humanismo e onde as relações humanas estão construídas de uma forma que pareciam reais, com pessoas que conhecia e observava à distância.
Há uma grande proximidade ente o livro e o filme. Tirando o facto esperado de que o livro consegue uma maior profundidade nos diálogos e nas relações que se constroem, na minha opinião há um aspeto divergente que me saltou ao olhos. Há uma personagem que o filme denegriu demasiado. Patrick, o namorado de Lou, é muito idiota no filme. Acho que a forma como ele surge no livro é mais realista (no filme assume uma postura exageradamente aparvalhada).
Nem sei o que fazer em relação à continuação. Fiquei com memórias tão boas deste livro que tenho receio de me desencantar com a Lou. Na minha cabeça, a Lou conseguiu ir mais além na sua vida. Conseguiu ser feliz, realizou sonhos, viveu o amor nas suas mais diversas dimensões e, em todos esses momentos, o Will pairou na sua memória e fez com que o seu coração palpitasse de uma forma especial. Sim, é algo demasiado romanceado! Talvez demasiado irrealista! Talvez esteja carregado de um otimismo exagerado! Mas se a vida nem sempre me oferece isto, será assim tão mau imaginá-lo num livro? Por isso não quero destruir estas boas memórias de uma continuação que eu própria criei. Por outro lado, a curiosidade de descobrir por que caminhos enveredou Lou é demasiado tentadora.
Para quem leu a continuação, acha que vale a pena o investimento?
Nota: Enquanto escrevia opinião só sentia vontade de me perder novamente na leitura deste livro. Não é uma obra prima da literatura, mas detém a sensibilidade necessária para me baralhar as emoções e me deixar presa a ela como se de uma pessoa importante se tratasse.
Janeiro demorou a passar. A minha perceção temporal foi de que este mês teve o dobro dos dias do que aqueles que na realidade tem.
As leituras foram poucas e isso acabou por se refletir nos livros que chegaram cá a casa durante o mês que terminou. Assim, foram apenas dois os livros que recebi. Através da troca de dois livros consegui reunir mais um para a minha coleção de Lesley Pearse, "Procuro-te", e trazer cá para casa mais um livro da Dorothy Koomson, "Os aromas do amor".