É-me um bocado difícil escrever a opinião a este livro. Gostei menos do que aquilo que estava à espera. O ter arrastado a minha leitura ao longo de muitos dias também não abonou a minha relação com a história e com o livro.
O livro é muito conhecido na comunidade. Focado no Estado Islâmico, no terrorismo, na crise dos refugiados e com foco na cultura muçulmana; “A célula adormecida” apresenta um conjunto de factos relacionados com estes temas que despertaram o meu interesse e me possibilitam aprender conteúdo.
É um livro muito factual. A história vive dos factos e daquilo que eles vão desencadeando. É claro que existem personagens, e entre eles estão desenhadas relações mais ou menos complexas que dominam o desenvolvimento da narrativa. Achei estas relações pouco dinâmicas e pouco realistas. Senti que algumas foram pautadas pela artificialidade dos diálogos, outras por comportamentos das personagens que me pareceram distantes da real personalidade que autor queria passar. Há certas passagens do Afonso e certas formas de estar que não são congruentes com a personalidade que está desenhada para ele. Senti uma certa infantilidade e imaturidade quer em algumas das suas atitudes quer em algumas das conversas que vai desenvolvendo. Isto foi condicionando a minha ligação ao Afonso e à Diana, assim como às suas problemáticas.
Sarita, Ahmad e Sami, a família síria a viver em Portugal, foram as personagens que mais me cativaram e que mais me impulsionavam a ler. Gostei imenso das dinâmicas deles e dos dramas que marcaram a passagem deles por este livro. Foram a parte que mais gostei neste livro.
Analisando a sequência dos acontecimentos, em alguns momentos senti que alguma informação estava em falta. Já no final do livro há uma situação a envolver a Diana, o Afonso e o Gustavo que não ficou muito clara para mim. Há uma certa atrapalhação temporal (o conteúdo dá a indicação de que passou mais tempo do que aquele que o comportamento das personagens num dos capítulos anteriores e no início desse deixa transparecer). Isto envolve um encontro que não nos foi mostrado que, na minha opinião seria relevante para uma melhor compreensão da relação entre a Diana, o Afonso e o Gustavo.
Quanto à escrita senti uma evolução positiva comparativamente ao anterior livro que li do escritor (“O espião português”). Só houve três aspetos mais chatos: 1) a quantidade de vezes a que o autor recorre a “corpo seco” para descrever o físico dos homens; 2) a constante utilização do nome completo das personagens (com o avançar da leitura torna-se aborrecido, porque o leitor sabe perfeitamente quem é quem); e, 3) há descrições físicas de personagens a mais, em algumas situações o escritor descreve fisicamente a personagem com um grau de detalhe que acho desnecessário.
Gostei do final e da carga dramática que o autor ofereceu àqueles momentos finais. A única coisa que senti mais forçada foi na relação de Diana e Afonso. A narrativa não evolui o suficiente para aquele desfecho. Senti que foi uma aproximação demasiado forçada. O final alternativo deixou-me com vontade de descobrir a próxima aventura do Afonso.
Ele estava ali para se despedir. A dor de amar e de não a ter conseguido salvar, carregá-la-ia para todo o sempre.
A psicóloga do INEM acompanhava-o.
— Quer que entre consigo?
Ele olhou para a psicóloga. Um sorriso triste acompanhou as palavras que lhe saíram da boca:
— Obrigada! Acho que é algo que tenho de fazer sozinho.
A psicóloga assentiu, apertou-lhe o ombro em jeito de incentivo e disse-lhe:
— Claro! Espero aqui à porta.
Ele entrou na capela mortuária. Ainda cambaleava um pouco. A perna estava dorida, o braço ao peito e no corpo restavam as marcas negras da manhã de domingo. Parou ao lado do caixão, arrastou uma cadeira e sentou-se de frente para o rosto sereno dela. As lágrimas surgiram, como se elas pudessem limpar a dor das últimas horas. Deu início ao seu monólogo entrecortado pelos soluços da dor que o atingiam.
— Desculpa! Desculpa!... Tu não querias ir o rio. Acabei por insistir e olha no que deu. Já tínhamos feito aquele percurso tantas vezes… Lembras-te da primeira vez que descemos o rio? Tu rias tanto… Eu seguia na minha canoa, logo atrás de ti. Por vezes o barulho da água abafava a tua alegria, mas eu sentia-a. O sol fazia o teu cabelo castanho brilhar tanto. Quando chegamos ao fim, estavas eufórica. Prometemos fazer aquilo sempre que pudéssemos e nos apetecesse. Ontem, não te apetecia….
O choro tornou-se mais intenso. Lágrimas e ranho misturavam-se num rosto preenchido de dor. Ele foi ao bolso, retirou um lenço e limpou o rosto.
— Fiz tudo o que podia. Ainda não sei como é que a tua canoa virou e ficaste presa ali. Tentei de tudo. Até quando as forças me faltavam eu só queria libertar-te dali, arrastar-te para a margem para que depois te pudessem socorrer. Eu precisava que vivesses. Preciso de ti aqui! Viva, inteira e sempre pronta a dar-me a mão. Eu dei-te a minha, mas a força não foi suficiente. Como é que se vive com a culpa de não ter conseguido salvar a pessoa que eu mais amo nesta vida.
Permitiu-se alguns minutos de silencio para chorar.
— Sabes do que tenho medo? De esquecer a tua voz, do som do teu sorriso. Da forma especial como chamas por mim. Tenho medo de não te lembrar as vezes suficientes. Tenho medo de viver sem ti ao meu lado. Porra! Tenho medo da falta que me vais fazer. Vou-me perder nas fotografias e nos vídeos de deixaste gravados. Vou imaginar como seriam os nossos filhos e desenhá-los. Quero manter-te viva dentro de mim. Serás a minha lembrança mais bonita. Se for como tu acreditas, um dia encontrar-te-ei num campo verde e florido. Prometes que me vens esperar?
A dor aumentou e o choro tornou-se compulsivo. Ele já não conseguia dizer mais nada. Do lado de forma da capela, encostada à porta, a psicóloga chorava pela dor dele.
Os livros oferecem-nos histórias e marcam a nossa própria história. Marcam épocas de uma vida e associam-se a lembranças que fazem de mim a pessoas que sou hoje.
A Anita talvez tenha sido a minha primeira amiga (coleção dos Livros da Anita). Cansei-lhe as páginas de tantos que as folhei. As capas estão gastas, mas guardam boas memórias de infância. A escola possibilitou outros olhares. Todos os meses recebia a “carrinha mágica”, carregada de história para descobrir. Continuei fiel à Anita, mas permiti-me conhecer outros universos infantis. Tive uma amizade breve com o Babar e uma amizade longa com o Chico, o Pedro, a Teresa, a Luísa e o João (coleção “Uma aventura”).
Sai da aldeia e a carrinha acabou. Os meus pais não me davam grande acesso aos livros. O que valeu nessas alturas foram mesmo as leituras obrigatórias. Ainda hoje queria ser como a Oriana e a Rainha das Fadas e ter asas para voar por cima dos problemas (“A Fada Oriana”), ser amiga da Menina do Mar (“A Menina do Mar”) e viver as aventuras de um Ulisses que volta sempre para a sua Penélope (“Ulisses”). Ri-me com a Sementinha (“A vida mágica da sementinha”) e emocionei-me com Hans e, já adulta, tive a mesma vontade dele: sair em busca do desconhecido (“Histórias da terra e do mar”), mas nunca tive a mesma coragem. Seguiu-se um Principezinho com a sua rosa e a sua raposa, mas acho que não o conheci como devia (“O Principezinho”). Devo-lhe uma nova oportunidade. Eram tão poucos os livros na minha vida, que me agarrei sempre a estes. Por isso, respeito muito as leituras obrigatórias. Sem elas, perderia os meus laços com as palavras.
O salto para o secundário significou menos obras obrigatórias, mas abriu as portas da biblioteca municipal. Ter fugido às letras e me entregado aos números deu-me menos livros, porém tive a oportunidade de me apaixonar por Pedro da Maia e sofrer pelo seu amor proibido (“Os Mais”) e afundar-me em reflexões existencialistas sobre a vida e a morte (“Aparição”).
A fase da biblioteca trouxe-me as paixões sofridas (livros de Nicholas Sparks), as famílias italianas e o som o tango (Sveva Modignani), choquei-me com a Maria (“Onze Minutos”) e nunca mais larguei as palavras de Paulo Coelho. Deixei que o meu coração palpitasse na cadência das palavras de Tiago Rebelo. Sofri com a poesia de Florbela Espanca e deixei que a melancolia dela fosse a minha em tantos momentos da minha vida.
A universidade meteu-se pelo meio e os livros técnicos ganharam mais espaço. Mas quando a paixão se transforma num amor sólido, temos sempre a vontade de voltar a onde fomos felizes. No meu caso, sou feliz nas páginas de um livro e a eles voltei. Têm sido tantos e tão bons que é difícil fazer com que todos caibam neste texto. Voltei aos livros pelas mãos de José Rodrigues dos Santos; passei pelas terras altas da Escócia (Outlander); sobrevei romances simples e complexos, que davam espaço ao amor entrar (Danielle Steel, Paullina Simons, Deborah Smith, Marc Levy, etc.), encontrei nos clássicos boas leituras (“Orgulho e preconceito”, "O monte dos vendavais"), atrevi-me pelo universo do crime e enjoei nos autocarros com as cenas demasiado gráficas (“Messias”, “O assassino do crucifixo”). Aprendi com a Torey a fazer das minhas consultas espaços mais ricos para as crianças (livros da Torey Hayden). Entrei na História (“O ano da dançarina”, “A filha do capitão”, “A imperatriz Romanov”, “Inês) e lembrei-me o quanto eu gostava dela. Descobri que até a fantasia pode ser para mim (Série Sevenwaters) e chorei às mãos de um homem que capta com mestria a essência feminina num lugar onde ela é anulada (“Mil sóis resplandecentes”). Apaixonei-me pelas vozes portuguesas (“As últimas linhas destas mãos”, “O funeral da nossa mãe”, “Alma rebelde”, “O escultor”, “Maresia e fortuna”) e orgulhei-me das mãos portuguesas que dão corpo a histórias magníficas.
Os livros amenizaram tristezas (“Deixa-me odiar-te”, “Rosas”, Série Bridgerton). Trouxeram-me risos e pessoas que foram luz no meio de tempestades. Fizeram-me sonhar. Eles são a minha história e cabem em mais do que um dia por ano.
Na semana passada, publiquei este post no Instragram e lancei algumas questões nos stories. Hoje é dia de divulgar as respostas e a minha análise das mesmas.
Quando leio presto atenção à escrita, à congruência da narrativa e à pontuação?
Estas respostas mostram que grande parte dos participantes, enquanto leitores, olham para os livros com uma perspetiva global. Não gostam de ler só por ler. Gostam de olhar para a escrita, para a congruência nos acontecimentos e prestam atenção à pontuação.
Atualmente, tenho dificuldade em desligar-me destes aspetos. Porém, há alguns anos olharia apenas para a história e para o prazer que aquela leitura me ofereceu.
Acho que ambos os tipos de pessoas podem coexistir. Se por um lado temos aqueles que leem com uma atenção mais pormenorizada, por outro temos pessoas que se focam na sua experiência de leitura. No fundo, o importante é: quando o(a) leitor opta por partilhar uma opinião deve dizer deixar transparecer os elementos que ele considerou para a escrever ou apresentar a sua opinião.
O que é que eu considero importante num livro?
Apesar da diversidade de respostas há elementos comuns nas partilhas feitas. As referências às personagens e à narrativa são as mais expressivas. São, de facto, elementos aos quais os leitores participantes dedicam a sua análise. Quanto às personagens, procuram que elas sejam o mais realistas possível e que sejam bem construídas e desenvolvidas ao longo da leitura. Quanto à narrativa, o interesse dos(as) participantes centra-se na coerência, na estrutura e na sua capacidade para cativar o leitor e o manter imerso na história. A escrita é, também, um elemento bastante referido. A qualidade, o estilo, a ausência de erros ortográficos e gramaticais e as a qualidade nos diálogos são os aspetos apontados. Por fim, alguns(mas) participantes referiram que consideram relevantes as reflexões provocadas pela leitura, assim como as emoções que possam surgir.
Sintetizei esses dados numa tabela para facilitar a leitura.
Já escrevi opiniões de livros onde não fui totalmente sincera(a)?
Quais os motivos que me levaram a não fazer uma opinião sincera?
As respostas dadas a esta perguntam centram-se muito na relação leitor(a)-escritor(a). A grande maioria dos(as) participantes referiram que tiveram dificuldade em fazer uma opinião sincera por causa do(a) escritor(a), pois sentiram medo de magoar. Há também quem refira os aspetos da tradução, ou seja, omitem a verdadeira opinião porque sentiram que o problema está na tradução e não no conteúdo do livro em si. Outra resposta interessante relacionou-se com a maturidade do(a) leitor(a). Há quem considere que não foi tão sincera, porque a sua imaturidade enquanto leitor(a) não lhe permitiu prestar atenção a aspetos relevantes.
Indica um livro em que não tenhas sido sincero(a) na opinião partilhada?
Nesta questão, os livros referidos foram:
“A menina dos doces” de Pedro Cipriano;
“Raparigas como nós” de Helena Magalhães; e
“The sea of tranquility” de Katja Millay
Tenho mais dificuldade em escrever uma opinião negativa sobre um livro escrito por um(a) escritor(a) nacional?
Aqui houve um certo equilíbrio, porém a opção mais assinalada vai no sentido de existir uma maior dificuldade em partilhar opiniões negativas de livros escritos por autores portugueses. Consigo perceber os motivos que condicionam o comportamento dos leitores. Porém, não deixo de me questionar no impacto que possa ter no escritor e na sua obra.
O que achas que leva um(a) leitor(a) a não revelar uma opinião sincera?
Os motivos apontados na resposta a esta pergunta dividem-se entre autores, parcerias e popularidade.
Receber livros de parceria é o impacto que a opinião possa ter no(a) escritor(a) são os fatores mais apontados pelos(as) participantes. Dos vários testemunhos, aquele que me deixou mais a pensar foi um comentário que apontava que uma opinião negativa poderá estragar a carreira do escritor. Na minha perspetiva, esta questão depende mais da forma como a opinião for escrita e daquilo que o(a) escritor(a) decidir fazer com ela. O que ditará o futuro na carreira do(a) escritor(a), mais do que a opinião negativa, é o comportamento dele(a) perante essa mesma opinião.
O medo de perder parcerias é também apontado como um dos aspetos que poderá condicionar a forma como os leitores se expressam.
O que me surpreender foram as partilhas relacionadas com a pressão social. Situações de bullying entre leitores, o medo de perder a popularidade e o receio de não ser aceite na comunidade são questões levantadas que me deixaram muito surpreendida. Isto só reforça a forma tóxica como muitas pessoas se movimentam neste meio. As redes sociais são apenas uma parte da nossa vida, não nos definem, não podem controlar o que pensamos, o que sentimos e a nossa forma de ser. São um elemento, uma parte de um universo maior. Por outro lado, às pessoas que gostam de exercer este tipo de pressão nos outros façam o exercício de se colocarem no lugar do outro. Eu gosto de ler opiniões contrárias à minha, mas para me obrigar a pensar e a colocar-me no lugar dessa pessoa. Se sentir que posso acrescentar alguma coisa a essa pessoa, comento e tento fomentar uma discussão saudável. Temos o dever de ser delicados e respeitadores. Os números são apenas números. As pessoas que estão por detrás dos perfis continuam a ser exatamente as mesmas.
Uma opinião negativa pode ajudar ou prejudicar o(a) escritor(a)?
Apesar da maioria dos(as) participantes afirmarem que a opinião poderá ajudar o escritor(es), há quem considere que pode prejudicar. Eu continuo a acreditar que tudo depende da forma como a opinião é apresentada e da forma como o escritor decide pegar nela.
Na questão aberta a comentários, as pessoas foram reforçando a resposta dada a esta questão. O que é comum às diferentes opiniões é a necessidade de se fazerem opiniões construtivas, fundamentas e respeitadoras. Há ainda quem considere que se a opinião negativa for tornada pública não ajuda o escritor. Em contexto de beta-reading, as participações reforçam a necessidade da existência de sinceridade. Sobressai, também, a necessidade de construir opiniões que não derrubem o escritor ou de o magoar.
Outras pessoas usaram esta caixa final para reforçarem a importância de se promover a honestidade no mundo literário, de se respeitarem as opiniões uns dos outros e de se refletir sobre opiniões contrárias às nossas.
Quero agradecer a todas as pessoas que participaram nesta partilha. Recebi muitas mensagens, tive discussões privadas muito interessantes e retiro desta experiência o que sempre defendi desde o ano de 2011, quando iniciei o blog: A sinceridade com delicadeza e respeito é importante!
Ficam algumas considerações sobre bullying digital:
- Cada um tem direito à sua opinião! Cada um deve respeito aos outros e merece ser respeitado;
- Os gostos são diversificados e ainda bem que o são. Ao gostarmos de coisas diferentes estamos a promover a discussão e o aumento de conhecimento;
- Não há nada de mal em partilhar uma opinião menos favorável. Quando o fizeres, usa palavras respeitosas. Se puderes falar com o(a) autor(a) antes da publicares tua a opinião, fá-lo. Porém, comunica com empatia e expõe o teu ponto de vista sem arrogância;
Gostava de conhecer as perceções dos(as) escritores(as) acerca destes resultados.
Esta palavra faz-me pensar em todos os personagens literários por quem me "apaixonei". Há personagens nos livros que gostaria muito de conhecer e com quem, facilmente, poderia iniciar um romance. Deixo aqui o meu top 5 de Crushs literárias.
Gabriel (Série Rizzolli & Isles de Tess Gerritsen) – É um homem inteligente, sensível que nunca teve medo de mostrar o seu amor pela Jane.
Roarke (Série Mortal de J. D. Robb) – É um homem com uma personalidade muito forte que parece cativar imenso as pessoas.
Adrian (“O primeiro dia” e “A primeira noite” de Marc Levy) – A sua intelectualidade e a forma amorosa como se apaixonou por Keira e demonstrou o seu amor são uma inspiração bonita.
Ian (“Deixa-me odiar-te” de Anna Premoli) – Este homem conjuga boa disposição, inteligência e um sentido de humor fenomenal. Acho que me iria divertir muito na companhia dele.
Michael (“A bela e o vilão” de Julia Quinn) – Termino com um homem que parece ter uma personalidade que mais se iria adequar à minha. Alguém que respeita a necessidade de ter espaço, de gostar do sossego e do silêncio, mas que consegue ser divertido e divertir quando a situação assim o exige.
Esta leitura não foi completamente às cegas. Há dez anos fiz leitura-beta do livro que deu origem a este “Encontro em Itália”, por isso já conhecia os traços gerais da história (a memória já não guardava os pormenores deste livro, final incluído).
A capa e o título podem enganar um pouco o leitor e afastar quem tem um gosto por fantasia. Ao primeiro olhar parece um romance um pouco ao estilo dos young-adult, mas é bem mais do que uma história romântica. Sim, há espaço para o romance! Porém, este romance está contextualizado num universo marcado pela fantasia e pelos anjos caídos.
Fantasia não é aquele género capaz de me fazer vibrar. Há algumas exceções! Este é um deles. Apesar de todos os elementos que lhe conferem fantasia, tal como da primeira vez, eu consegui gostar da história e das suas personagens.
O livro narra a história de dois amigos, Sara e Henrique, que partilharam a infância e grande parte da sua adolescência. Aos 18 anos acabam por seguir caminhos distintos e perderam um contacto um do outro. Ao sabor de uma antiga promessa, o reencontro acontece e uma série de aventuras cruzam-se no caminho dos dois amigos, para desespero do sensato e ponderado Henrique.
E, assim, as palavras tecem uma história com uma dinâmica muito interessantes. Não há espaço para o leitor se sentir aborrecido! Os capítulos curtos e a sucessão de mudanças permitem uma leitura entusiasmante onde permanece a vontade de saber onde é que a Sara e o Henrique nos irão levar. Por vezes, o ritmo é demasiado rápido. Eu gostava que a viagem a Itália não fosse tão intensamente rápida. Porém, reconheço que este ritmo acompanha a personalidade intensa, instável e frenética da Sara.
Haari é uma das personagens mais especiais com quem me cruzei. Tal como achei quando li a primeira versão, ela merecia um livro só para ela. Nesta personagem, concentra-se a magia, o mistério e situações caricatas que facilmente arrancam um sorriso. Associada a Haari e um conjunto peculiar de personagens, existe um livro. Este objeto tem uma importância significativa na história e acho que o Henrique não foi capaz de experimentar toda a sua potencialidade.
Concluindo, “Encontro em Itália” é um livro que conjuga romance contemporâneo com fantasia urbana. Esta conjugação poderá ser útil para leitores que, tal como eu, não sejam grandes apreciadores de livros de fantasia mais “puros”.
O interesse pelos(as) escritores(as) portugueses(as) tem aumentado. É bom ver os(as) leitores(as) a ler obras nacionais, a interessar-se pelos nossos(as) escritores(as) e apostar na sua divulgação. Porém, o que me inquieta é, por vezes, a ausência de critério nestas divulgações. Por vezes, tenho a sensação de que são todos bons livros, com excelentes histórias e que merecem ser lidos. O problema surge depois, quando afinal a obra não corresponde à expetativa que estas opiniões positivas criaram em mim.
Este comportamento de apoio incondicional e de leitura sem espírito crítico pode ser perigoso. Podes argumentar e dizer-me que a leitura é um processo subjetivo. E eu concordo com isso! Mas há elementos que ultrapassam os limites da subjetividade.
Para mim, a subjetividade aplica-se à minha relação com o conteúdo da narrativa. Eu posso gostar mais ou menos dos acontecimentos do livro, comparativamente a outro leitor. Contudo, a escrita, a existência de incongruências e os erros ultrapassam a subjetividade e, na minha opinião, fazem parte de um universo bem objetivo e claro. Como é que eu posso tecer um comentário positivo a um livro que está mal escrito e com graves problemas na estrutura narrativa? Eu não consigo!! Por isso, nas minhas opiniões gosto de fazer esta divisão na análise aos livros que leio. Gosto de especificar o que de facto me agradou e não me agradou no livro.
Por isso, não tenho receio de escrever opiniões negativas. Quando essa opinião resulta de um convite de um(a) escritor(a) para ler, eu tenho o cuidado de escrever um e-mail pessoal a expor a minha opinião detalhada e apresentar soluções para aquilo que acho que não está a funcionar tão bem. No entanto, quer seja um livro lido a pedido de um(a) escritor(a) ou uma leitura que resulte da minha escolha, procuro sempre fundamentar a minha opinião o melhor que consiga.
Sinto que falta um pouco de espírito crítico a esta comunidade e acho que isso não ajuda os(as) escritores(as).
Gostaria de refletir com vocês relativamente a estas questões:
O que retiras da leitura de um livro? Que tipo de análise fazes?