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Na semana passada, publiquei este post no Instragram e lancei algumas questões nos stories. Hoje é dia de divulgar as respostas e a minha análise das mesmas.
Quando leio presto atenção à escrita, à congruência da narrativa e à pontuação?
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Estas respostas mostram que grande parte dos participantes, enquanto leitores, olham para os livros com uma perspetiva global. Não gostam de ler só por ler. Gostam de olhar para a escrita, para a congruência nos acontecimentos e prestam atenção à pontuação.
Atualmente, tenho dificuldade em desligar-me destes aspetos. Porém, há alguns anos olharia apenas para a história e para o prazer que aquela leitura me ofereceu.
Acho que ambos os tipos de pessoas podem coexistir. Se por um lado temos aqueles que leem com uma atenção mais pormenorizada, por outro temos pessoas que se focam na sua experiência de leitura. No fundo, o importante é: quando o(a) leitor opta por partilhar uma opinião deve dizer deixar transparecer os elementos que ele considerou para a escrever ou apresentar a sua opinião.
O que é que eu considero importante num livro?
Apesar da diversidade de respostas há elementos comuns nas partilhas feitas. As referências às personagens e à narrativa são as mais expressivas. São, de facto, elementos aos quais os leitores participantes dedicam a sua análise. Quanto às personagens, procuram que elas sejam o mais realistas possível e que sejam bem construídas e desenvolvidas ao longo da leitura. Quanto à narrativa, o interesse dos(as) participantes centra-se na coerência, na estrutura e na sua capacidade para cativar o leitor e o manter imerso na história. A escrita é, também, um elemento bastante referido. A qualidade, o estilo, a ausência de erros ortográficos e gramaticais e as a qualidade nos diálogos são os aspetos apontados. Por fim, alguns(mas) participantes referiram que consideram relevantes as reflexões provocadas pela leitura, assim como as emoções que possam surgir.
Sintetizei esses dados numa tabela para facilitar a leitura.
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Já escrevi opiniões de livros onde não fui totalmente sincera(a)?
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Quais os motivos que me levaram a não fazer uma opinião sincera?
As respostas dadas a esta perguntam centram-se muito na relação leitor(a)-escritor(a). A grande maioria dos(as) participantes referiram que tiveram dificuldade em fazer uma opinião sincera por causa do(a) escritor(a), pois sentiram medo de magoar. Há também quem refira os aspetos da tradução, ou seja, omitem a verdadeira opinião porque sentiram que o problema está na tradução e não no conteúdo do livro em si. Outra resposta interessante relacionou-se com a maturidade do(a) leitor(a). Há quem considere que não foi tão sincera, porque a sua imaturidade enquanto leitor(a) não lhe permitiu prestar atenção a aspetos relevantes.
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Indica um livro em que não tenhas sido sincero(a) na opinião partilhada?
Nesta questão, os livros referidos foram:
- “A menina dos doces” de Pedro Cipriano;
- “Raparigas como nós” de Helena Magalhães; e
- “The sea of tranquility” de Katja Millay
Tenho mais dificuldade em escrever uma opinião negativa sobre um livro escrito por um(a) escritor(a) nacional?
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Aqui houve um certo equilíbrio, porém a opção mais assinalada vai no sentido de existir uma maior dificuldade em partilhar opiniões negativas de livros escritos por autores portugueses. Consigo perceber os motivos que condicionam o comportamento dos leitores. Porém, não deixo de me questionar no impacto que possa ter no escritor e na sua obra.
O que achas que leva um(a) leitor(a) a não revelar uma opinião sincera?
Os motivos apontados na resposta a esta pergunta dividem-se entre autores, parcerias e popularidade.
Receber livros de parceria é o impacto que a opinião possa ter no(a) escritor(a) são os fatores mais apontados pelos(as) participantes. Dos vários testemunhos, aquele que me deixou mais a pensar foi um comentário que apontava que uma opinião negativa poderá estragar a carreira do escritor. Na minha perspetiva, esta questão depende mais da forma como a opinião for escrita e daquilo que o(a) escritor(a) decidir fazer com ela. O que ditará o futuro na carreira do(a) escritor(a), mais do que a opinião negativa, é o comportamento dele(a) perante essa mesma opinião.
O medo de perder parcerias é também apontado como um dos aspetos que poderá condicionar a forma como os leitores se expressam.
O que me surpreender foram as partilhas relacionadas com a pressão social. Situações de bullying entre leitores, o medo de perder a popularidade e o receio de não ser aceite na comunidade são questões levantadas que me deixaram muito surpreendida. Isto só reforça a forma tóxica como muitas pessoas se movimentam neste meio. As redes sociais são apenas uma parte da nossa vida, não nos definem, não podem controlar o que pensamos, o que sentimos e a nossa forma de ser. São um elemento, uma parte de um universo maior. Por outro lado, às pessoas que gostam de exercer este tipo de pressão nos outros façam o exercício de se colocarem no lugar do outro. Eu gosto de ler opiniões contrárias à minha, mas para me obrigar a pensar e a colocar-me no lugar dessa pessoa. Se sentir que posso acrescentar alguma coisa a essa pessoa, comento e tento fomentar uma discussão saudável. Temos o dever de ser delicados e respeitadores. Os números são apenas números. As pessoas que estão por detrás dos perfis continuam a ser exatamente as mesmas.
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Uma opinião negativa pode ajudar ou prejudicar o(a) escritor(a)?
Apesar da maioria dos(as) participantes afirmarem que a opinião poderá ajudar o escritor(es), há quem considere que pode prejudicar. Eu continuo a acreditar que tudo depende da forma como a opinião é apresentada e da forma como o escritor decide pegar nela.
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Na questão aberta a comentários, as pessoas foram reforçando a resposta dada a esta questão. O que é comum às diferentes opiniões é a necessidade de se fazerem opiniões construtivas, fundamentas e respeitadoras. Há ainda quem considere que se a opinião negativa for tornada pública não ajuda o escritor. Em contexto de beta-reading, as participações reforçam a necessidade da existência de sinceridade. Sobressai, também, a necessidade de construir opiniões que não derrubem o escritor ou de o magoar.
Outras pessoas usaram esta caixa final para reforçarem a importância de se promover a honestidade no mundo literário, de se respeitarem as opiniões uns dos outros e de se refletir sobre opiniões contrárias às nossas.
Quero agradecer a todas as pessoas que participaram nesta partilha. Recebi muitas mensagens, tive discussões privadas muito interessantes e retiro desta experiência o que sempre defendi desde o ano de 2011, quando iniciei o blog: A sinceridade com delicadeza e respeito é importante!
Ficam algumas considerações sobre bullying digital:
- Cada um tem direito à sua opinião! Cada um deve respeito aos outros e merece ser respeitado;
- Os gostos são diversificados e ainda bem que o são. Ao gostarmos de coisas diferentes estamos a promover a discussão e o aumento de conhecimento;
- Não há nada de mal em partilhar uma opinião menos favorável. Quando o fizeres, usa palavras respeitosas. Se puderes falar com o(a) autor(a) antes da publicares tua a opinião, fá-lo. Porém, comunica com empatia e expõe o teu ponto de vista sem arrogância;
Gostava de conhecer as perceções dos(as) escritores(as) acerca destes resultados.