O meu percurso escolar oferece, em simultâneo, memórias boas e dolorosas. Fui, aquilo que hoje se denomina, uma aluna condicionada. Entrei na escola sem os seis anos feitos. Entrei na escola sem conhecer nada do universo escolar, retirando a parte dos conteúdos (já conhecia as letras, os números e fazia pequenos cálculos). Nunca andei numa creche, numa frequentei o ensino pré-escolar.
A parte mais complicada da escola foram as relações. Sempre tive dificuldade em encontrar pessoas com as quais me identificasse. Introvertida, metida na concha! Imaginam o terror? Fui alvo de alguns comentários desagradáveis, fui alvo de comportamentos que me deixaram desconfortável e acabei por focar toda a minha energia no desempenho escolar. E fui andando. Passando de ano, sempre com boas notas, prémios de mérito, KitKats oferecidos pela professora de Português do 6º ano por cada muito bom (sim, colecionei alguns chocolates)... A minha única negativa na pauta foi no 7º ano, à disciplina de Educação Física. Sempre fui muito descoordenada. Odiava as aulas de ginástica (tinha sempre um medo enorme de partir o pescoço naqueles saltos e cambalhotas intermináveis. Em termos de relações, o melhor ano foi o 9º. Fiz bons amigos nesse ano. Não ficaram, como não ficou nenhum dos outros, mas deixaram boas lembranças e a sensação de que era capaz de me relacionar de forma significativa com outras pessoas. No final deste ano, ganhei um pequeno troféu de "Melhor aluna" da escola e que eu guardo com muito orgulho.
O secundário representa a minha primeira grande travessia no deserto da vida. Foram anos horríveis para mim. Foi aqui que eu senti o peso da solidão, o peso de não partilhar nada ou quase nada com as pessoas com quem dividia a sala de aula. Foram anos muito duros, de muito choro. Ficou-me uma aprendizagem: não preciso de ninguém para fazer o meu percurso. Acho que o impacto foi mais complicado por causa das boas relações que construi no último ano do ensino básico. Caso contrário, acho que não me teria sentido tão perdida. Foram muitas mudanças para assimilar.
Não tenho relações de amizade desta minha etapa do percurso escolar. Tenho conhecidos. Pessoas por quem passo e que vou falando, mais nada. Há coisas que são mesmo assim, não há forma de controlar. Felizmente, o percurso alinhou-se e outras pessoas entraram na vida numa fase posterior, que será descrita na próxima semana.
Já me tinha cruzado com opiniões muito boas a este livro. Por isso, andava com uma enorme curiosidade de conhecer a escrita de Baldwin e a história que ele se propunha a contar. Após a leitura, posso dizer que o balanço é muito positivo e ficou a vontade de conhecer mais obras do escritor.
Se esta rua falasse guarda uma história onde a luta pela liberdade assume um papel fundamental ao longo do livro. É mais do que a liberdade que se adquire ao sair da prisão, é a liberdade para ser. É a história de um grupo de pessoas que luta para se sentir livre para ser. Fonny e Tish só queriam ser eles próprios, viver o amor que os unia e não incomodar ninguém.
O racismo, o preconceito e xenofobia ganham terreno nesta história e condenam a liberdade de Fonny e Tish. Foram impedidos de viverem num meio onde a cor da pele era um fator a ter em consideração no trabalho da polícia. A leveza da escrita e a sensibilidade que Baldwin oferece à sua obra funcionam como um balsamo para a dureza daquilo que ele escolhe contar. É duro ver o desespero da Tish. É revoltante ver a injustiça oferecida de forma deliberada a Fonny. Cada página de um presente no passado, reflete a atualidade. A intolerância, a insegurança e a forma fácil como se decide tecer um julgamento tendo por base ódios pessoais sem qualquer fundamento são demasiado reais e demasiado atuais. É angustiante perceber que o lado mais negro do ser humano não sofreu grandes alterações ao longo do tempo. Este livro é ideal para se refletir e discutir sobre violência, descriminação, luta pela liberdade e resiliência.
Enquanto deambulei pelo sofrimento atual deste jovem casal, esta história ainda me ofereceu o lado negro da infância de Fonny. Apesar de todas as dificuldades que a vida lhe foi impondo, a resiliência deste jovem é verdadeiramente inspiradora.
É um livro cheio de conteúdo apesar de ter um pouco menos de 200 páginas. A minha leitura foi lenta; não porque não tivesse vontade de ler, mas sim porque a minha vida anda a intrometer-se nas minhas leituras. A minha disponibilidade mental para ler não tem sido muita e por isso leio menos e mais devagar. Por um lado é chato arrastar as leituras ao longo de vários dias (muitas vezes semanas), por outro permite-me absorver as coisas de forma mais consistente. Senti muito isto com Se esta rua falasse. A leitura mais lenta permitiu absorver melhor estes conteúdos e permitiu-me pensar sobre eles.
Há livros que nunca me canso de recomendar. Há livros que por alguma razão nos marcam de forma especial. O eleito para este segundo "Vale a pena ler" foi uma excelente surpresa nacional. Não estava à espera de gostar tanto. A delicadeza da escrita e a densidade emocional da história conquistaram-me de forma absoluta.
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Liberta-te dos pensamentos ruminantes sobre quem não está na tua vida. Liberta-te do sentimento de culpa pelos afastamentos que te trouxeram saúde mental. Liberta-te das grades que sempre gostaram de te impor na vida. Hoje és outra pessoa, uma pessoa que pode lutar pelo que quer. Uma pessoa que atravessa os desertos da vida com a energia suficiente para não sucumbir.
Esta é a 11ª imagem que reside nos ficheiros do meu telemóvel: Bolo formigueiro com cobertura de chocolate de avelãs. Para mim, fazer doces é inspirador e relaxante. Sou pessoas de doces. Há muito tempo que não faço este bolo em particular. É um bolo mais pesado, o que não combina com dias mais quentes. Será uma boa opção para o outono. Talvez o faça nessa altura.
Tenho esta rubrica muito, muito atrasada. Hoje e amanhã vou tentar sintonizar-me com as partilhas para não deixar acumular mais.
Cartas... Eu adoro escrever cartas. As palavras enchem-se de emoções e coisas positivas. Quem as recebe é sempre inundado de qualquer coisa mágica. Cá vai a minha carta. Já sabes, o desafio é dizeres-me se é real ou ficção.
Querido D.,
É a primeira carta que te escrevo. Nunca me atrevi a materializar em palavras tudo aquilo que representaste para mim. Foste o primeiro amigo e único amigo do sexo masculino que fiz ao longo de toda a minha vida. Talvez queira dizer alguma coisa. Talvez signifique que havia algo superior que nos unia. Em tempos, olhei para ti como representando um pouco mais. Sentia-me sempre muito feliz contigo. Fazias-me rir, ouvias-me com uma dedicação que poucos faziam. Foste o meu porto seguro, o meu par numa dança desastrada (era e sou demasiado pé de chumbo), o meu parceiro nas cenas mais nerd. A vida meteu-se pelo meio. E o amor romântico que pensava sentir transformou-se numa espécie de amizade nostálgica. Perdi-te no tempo, mas não te perdeste na minha memória. Continuas vivo nas minhas lembranças mais felizes daqueles tempos. E essas lembranças fazem-me sorrir. Não sei onde estas, o que fazes, se tens alguém. Só espero que estejas a feliz, a viver da forma livre que sempre me ensinaste. Espero que tenhas pessoas que te amem e te respeitem. Que te abracem nas horas tristes e te apertem euforicamente nas horas felizes. Será sempre uma doce lembrança, de um tempo passado que não volta.
Há qualquer coisa na poesia que sempre me apaixonou. Não sei se pelas reflexões que lhe estão subjacentes, se pelos mundo interiores que cabem dentro daqueles versos. Só sei que gosto de ler poesia e leio muito menos do que aquela que gostaria.
Já me tinha cruzado com muitos poemas da Rupi Kaur na internet. Tudo o que lia deixava em mim a vontade de conhecer mais da obra. O que o sol está com as flores foi a minha estreia com a escritora. Adorei o livro! Adorei a forma como a Rupi vai desenhando palavras que refletem uma enorme complexidade emocional. É uma poesia moderna que liga a condição humana, as relações, as mudanças, as culturas e o universo feminino.
Cada poesia tem uma mensagem única, mas todas elas contribuem para um coletivo maior. Oferecem uma dimensionalidade superior das temáticas que convidam a uma reflexão global do que se vai lendo.
O que pode ser mais forte do que o coração humano que se parte em tantas partes e ainda bate
Li o livro na versão de português do Brasil, mas fiquei com muita vontade de ler a versão original em inglês e a versão em português de Portugal. Será uma autora que manterei debaixo de olho e de quem pretendo ler os livros todos dela. Fiquei mesmo apaixonada pela forma como ela encaixa as palavras e nos conta grandes histórias com poucas palavras.
Falar de bibliotecas é um tema frequente aqui pelo meu espaço. São lugares de referência para mim, lugares onde sou incapaz de deixar de ir mesmo tendo muitos livros em casa. Vou pelas memórias, pela possibilidade de escolher livros e arriscar nessas escolhas, vou porque não quero que as bibliotecas morram.
Vejo muitas pessoas a incentivarem a compra de livros. Sei que é importante que se comprem livros. Os autores e as editoras dependem dessas compras. Porém, será saudável estarmos a focar o nosso discurso e a nossa influência na compra de livros? Como é que se sentirão as pessoas com pouco orçamento a cruzarem-se com mensagens a incentivar à compra? Os meus pais não me compravam livros. Foi a biblioteca que me permitiu ler. Andei anos com um orçamento muito limitado. O que é que salvou o meu interesse pela leitura? A biblioteca!! Felizmente, sempre me cruzei com contas e pessoas que frequentavam bibliotecas e partilhavam as suas experiências. Como também sou muito racional, a pressão para a compra de livros sempre me passou um pouco ao lado. Sou muito ponderada nas compras e analiso bem a minha disponibilidade financeira. Se não posso comprar, paciência. Consigo continuar a ler porque a biblioteca assim mo permite.
O que é que acontece se deixares de frequentar a biblioteca? Não renovam o seu catálogo. Se não existirem leitores, deixam de adquirir livros. Se os leitores abandonaram as bibliotecas elas morrem. E as bibliotecas são, para mim, símbolo de liberdade e de empoderamento. E não quero que isso aconteça.
Não posso terminar este post sem manifestar o meu carinho e admiração pela Liliana e ao seu ativismo relativamente às bibliotecas. Tenho a certeza que as doações dela, a visibilidade que ela dá às bibliotecas deste país ajudam a mantê-las vivas e livres. Obrigada, Liliana!
👉 Tens alguma história que te ligue a uma biblioteca?