Opinião | "Susana em lágrimas" de Alona Kimhi
Quando recebi este livro através de uma troca, a Susana (@aspalavrasdasusana) propôs fazermos uma leitura conjunta. Já há muito tempo que não fazia uma e aceitei o desafio.
O meu entendimento com a Susana foi imediato e tornou-se o grande motor desta leitura.
"Susana em lágrimas" é um livro perfeito no meio das suas imperfeições. A sua perfeição reside na profundidade emocional e na complexidade das relações que acompanham a dinâmica da narrativa. As imperfeições do livro residem nos aspetos formais relacionados com a escrita. Parágrafos muito extensos. Uma escrita muito confusa, que nem eu nem a Susana conseguirmos perceber se era problema da tradução ou da escritora. Uma ação que parecia não se desenvolver, porque os acontecimentos andavam em círculos. Estes elementos, por vezes, dificultaram a leitura e exigiram uma maior atenção da minha parte. Aqui a leitura conjunta foi essencial. A Susana ajudou-me nas reflexões, ajudou-me a compreender melhor algumas passagens e foi uma companheira de leitura muito motivadora.
O livro traz-nos um conjunto de personagens pouco convencionais, com um desenvolvimento emocional muito forte e que protagonizam situações e relações algo inesperadas. A ação não se centra em clichés. Em alguns momentos, considero que o livro foi inovador nos assuntos abordados e na forma como foram apresentados.
Susana (a personagem) é uma jovem adulta que gerou muita discussão. Ela permitiu a construção de diferentes teorias sobre a sua personalidade e o seu comportamento. A sua saúde mental está muito fragilizada e isso provocou-me algum desconforto. É uma mulher muito sensível, profunda e que oferece um realidade mais comum do que aquilo que a população pensa. É uma realidade muitas vezes camuflada, mas não é irreal vermos jovens absorvidos pelos adultos à sua volta. A Susana é sugada por todos os adultos que faziam parte da sua rede de apoio. É na relação com Ada, sua mãe, que consegui respostas para aquilo que é a essência da Susana. É uma relação complexa, tóxica e com muita dependência emocional.
Naor, o primo americano que vem passar uma temporada com estas mulheres, é o elemento desencadeador do mundo interior da Susana. Foi ele que a desestabilizou para que depois ela se pudesse organizar e encontrar o seu equilíbrio. É uma personagem muito importante para o enredo.
Eu e a minha companheira de leitura desenvolvemos uma visão um pouco diferente relativamente a este homem. A Susana achou que os sentimentos dele pela Susana (personagem) eram verdadeiros. No meu caso, tenho um lado que acreditou neles e outro que não. Para mim, foi difícil perceber. Reconheço que ele foi sempre honesto com ela relativamente a aspetos mais conturbados da sua vida. Porém, algumas vezes senti que ele foi distante e pouco sensível perante as particularidades desta mulher.
As últimas 100 páginas do livro guardam o que de melhor tem esta história. Foi aqui que a autora abriu os cadeados que foi fechando em torno das personagens e das suas relações. Foram estas páginas que me possibilitaram um conhecimento mais profundo da história e do mundo interior da Susana.
Não é um livro comercial. Não é uma leitura rápida e descomplexada. Exige que o leitor tenha maturidade e tempo para refletir sobre os acontecimentos.
Quero agradecer à Susana a possibilidade de leitura conjunta. Senti uma boa conexão com ela, sendo que se tornou um elemento essencial na construção das análises desta narrativa. É uma das melhores coisas que irei guardar desta experiência de leitura. Obrigada, Susana!
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