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Por detrás das palavras

Opinião | "Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos" de Olga Tokarczuk

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Conduz o teu arado sobre os ossos dos mortos foi o livro mais peculiar que li este ano. Num estilo muito próprio de contar histórias, Olga Tokarzuk leva o leitor ao universo rural da Polónia, mas especificamente a um planalto pouco habitado. 

Entre os moradores está uma engenheira reformada e  professora de inglês em part time, já com alguma idade e com um estilo de vida muito peculiar e uma forma muito pessoal de olhar para o que a rodeia. A sua mente artuta e fora da caixa foi um desafio para mim. Por vezes, senti dificuldade em acompanhar o seu pensamento e as suas teorias relativamente aos crimes que começaram a surgir na aldeia. O que me é que me dificultava? Os nomes que ela criava para os habitantes. Ela não gostava do seu nome próprio e, também, não devia gostar dos nomes dos outros pois criava os nomes que ela entendia ser mais de acordo com a personalidade dessas pessoas. Para mim foi muito difícil associar os nomes criados por ela as pessoas. Exigiu mais atenção da minha parte para conseguir criar todas as conexões necessárias. 

Esta mulher, alta defensora dos animais, regia-se por aquilo que entendia ser o melhor estilo de vida. Foi interessante ver a forma como ela manifestava as suas opiniões e reflexões ao longo do livro.

E no meio de todas estas excentricidades, ocorrem uma série de crimes que exige resolução. Janina torna-se um elemento ativo nesta resolução, apresentado como possível explicação para os crimes uma vingança da natureza. A sua posição crítica em relação à caça e à forma como o ser humano comunga com a natureza são aspetos muito vincados neste livro e marcam a ação e a evolução da narrativa.

Foi uma boa experiência de leitura. Não considero que seja um livro capaz de agradar a todos os leitores dadas as particularidades relacionadas com a construção da narrativa e o estilo que a escritora usa para contar a história. O final conseguiu surpreender-me e deixar-me com vontade de conhecer mais obras desta escritora.

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Opinião | "Pessoas normais" de Sally Rooney

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Pessoas normais foi uma desilusão. Talvez a maior de 2022. Vi como a comunidade literária vibrou em torno deste livro, e acho que isso fez aumentar as minhas expetativas. Estava à espera de outro tipo de livro: uma história mais intensa e com maior profundidade emocional.

Neste livro é possível acompanhar a história de Marianne, uma rapariga de uma social classe mais favorecida; e Connell, um rapaz de uma classe social inferior à da Marianne. No livro são explorados aspetos que os aproximam e os afastam. Numa dança de encontros e desencontros, de inícios e fins de uma relação estranha e distante, foi muito estranho acompanhar o desenvolvimento emocional destes dois jovens. Não sei se posso atribuir esta estranheza da relação à maturidade ou às características de personalidade de cada um, porque não tive tempo para descobrir o papel de cada uma delas no desenvolvimento da história.

Penso que isto aconteceu porque faltou profundidade na forma como os temas foram abordados. A adicionar esta lacuna, junto a forma desligada com que a história foi narrada. Sentia falta de entusiasmo, emotividade e investimento na forma como se construíram e desenvolveram as relações entre as personagens. 

O estilo de escrita também me causou algum desconforto no início da leitura. Os diálogos não são assinalados por travessões ou aspas o que exigiu uma maior atenção da minha parte. Com o avançar da leitura o desconforto desapareceu e leitura prosseguiu de forma mais tranquila.

Reconheço um possível toque realista, nomeadamente: a baixa literacia emocional dos jovens. Marianne e Connell sempre revelaram muita dificuldade em comunicar e em expressar o que sentiam e o que é que o comportamento de cada um deles provocava no outro. Esta falha de comunicação tornava a relação exasperante. Porém, reconheço que é um problema real. As pessoas em geral, os jovens em particular, apresentam baixos níveis de literacia emocional. Não elaboram quando têm de descrever o que estão a sentir, porque apresentam vocabulário reduzido. Por isso, é frequente responderem de forma evasiva e pouco elaborada quando se lhes pergunta algo relacionado com o seu mundo interior.

Neste momento, tenho a série gravada na box e ainda não tive muita vontade de a ver. Vou aguardar mais um pouco para ver se a vontade surge. Quanto a mais leituras dos livros da escritora, ainda não sei muito bem se quero ou não voltar a ler obras dela. Eu gosto sempre de dar uma segunda oportunidade aos escritores, mas foi uma leitura demasiado dececionante e tenho medo de me cruzar novamente com este género de narrativa. 

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Opinião | "A última vítima" (Rizzoli & Isles #10) de Tess Gerritsen

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A última vítima de Tess Gerritsen não desiludiu. Correspondeu às elevadas expetativas que eu associo a este escritora. Narrativas bem construídas; acontecimentos bem encaixados, numa sequência coerente e que me aguçou a curiosidade; e sem margem para conseguir descobrir a pessoa culpada pelo crime nem as explicações para o mesmo acontecer. Posso desenvolver mil e uma teorias, mas nunca consigo chegar ao verdadeiro desfecho do livro. Tudo isto continuou a fazer parte deste livro. 

É muito complicado falar deste género de livros sem revelar demasiado. Tenho de me ficar pelo geral, caso contrário poderei estragar a experiência de leitura de quem se atreve a ler estes livros. O que posso reforçar é a qualidade do enredo, o aparecimento de personagens envolvidas na situação criminosa que surgiram em livros anteriores e todo o mistério associado a um colégio privado isolado de tudo (o que dá um toque bastante negro à ação narrativa). 

Ao mesmo tempo que se mergulha numa história complexa e com contornos angustiantes, é possível acompanhar um pouco do quotidiano das personagens residentes. Jane continua a braços com os problemas familiares associados ao casamento dos seus pais. Por sua vez, Maura apresenta-se mais reflexiva relativamente à sua vida amorosa e parece necessitar de uma mudança para algo mais concreto. Ela é uma mulher concreta, objetiva e esta ambivalência da sua vida amorosa não combina com a personalidade que ela nos tem demonstrado. Ela tem consciência disso e deixa no ar esta sensação de necessidade de uma resolução. Talvez no próximo livro da série hajam novidades relativamente a este aspeto. 

É uma série que eu recomendo imenso. É notória a qualidade da escrita, o cuidado na construção das histórias e das personagens que lhe dão corpo e são detentoras de uma boa dose de suspense. Para quem gosta de thrillers, acredito que esta é uma das escritoras essenciais. 

 Já leste algum livro desta série? O que mais te apaixona nestes livros?

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Opinião | "Intervenção psicológica em ludoterapia" de Raíssa Santos

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Depois de mais um conjunto de dias em silêncio, estou novamente de volta com as opiniões. O meu objetivo é não deixar opiniões de livros lidos em 2022 para 2022. Tenho muitas opiniões para publicar e partilhar, por isso, este mês, vou tentar publicar mais para conseguir cumprir o meu objetivo.

Hoje trago uma partilha de um livro técnico. Acredito que este livro só terá interesse para psicólogos(as) que fazem intervenção psicológica com crianças. Se for esse o teu caso, recomendo muito esta leitura. Aqui vais encontrar informação que te permitirá conduzir sessões de ludoterapia e explorar as interpretações desta forma de intervenção. 

Apesar de estar afastada formalmente da prática clínica, gostei muito de ler este livro e descobrir mais sobre uma técnica que usava com alguma frequência com crianças. Foi uma forma de renovar conhecimento e aproximar-me um pouco da prática clínica. É um livro onde um conjunto de informações teóricas estão bem sintetizadas e são complementadas com aspetos práticos que são essenciais para quem pretende utilizar esta técnica. 

É um livro de fácil compreensão que poderá ser uma mais-valia para os(as) profissionais.

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