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Por detrás das palavras

Opinião | "O homem das castanhas" de Søren Sveistrup

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"O homem das castanhas" andava na minha lista de interesses há muito tempo, muito por causa das boas impressões que iam sendo partilhadas.

O momento que marca o início desta história é bastante intrigante. Uma mulher foi brutalmente assassinada e uma das mãos foi decepada e levada pelo assassino. Junto ao corpo, foi deixado um boneco feito de castanhas e paus. Esta pista acrescenta um lado ainda mais misterioso ao cenário do crime. Sem qualquer explicação são encontradas impressões digitais de uma pré-adolescente que desapareceu há um ano e que foi dada como morta. Esta jovem era filha de uma importante figura política do panorama político do país.

Esta ligação agita outros aspetos da narrativa, nomeadamente, a posição política da ministra e os dramas familiares que se tecem em torno destas pessoas. 
As ligações entre dramas familiares, crimes e personagens que vão aparecendo na narrativa são cativantes e instigam a curiosidade. Contudo, o meu ritmo inconsistente de leitura dificultou-me a construção mental da história e do papel de cada personagem nos acontecimentos que se iam sucedendo. Esta leitura beneficia de um ritmo de leitura constante e consistente ao longo dos dias, por isso as paragens e a leitura de poucas páginas por dia dificultam a  minha imersão na narrativa. No fundo, são muitas personagens e muitos acontecimentos que têm pontos de contacto entre si e que precisam de uma leitura consistente para não perdermos os pontos de interação que nos levam a uma explicação global. O tamanho reduzido da letra da letra também dificultou o meu processo de leitura. Achei-a demasiado pequena! 

Gostei muito da escrita gráfica e pormenorizada das cenas de crime e relacionadas com o desenvolvimento do enredo que culminaria com a explicação de todas as pontas soltas que foram sendo semeadas ao longo do livro. Foi muito inteligente a forma como o escritor foi conduzindo o leitor por diferentes teorias e raciocínios, mas todos eles interessantes e bem construídos.

A dupla detetives, Naia Thulin e Mark Hess também protagonizam momentos interessantes e intrigantes. Mark tem o seu lado mais misterioso que acaba por oferecer outro ponto de interesse à história. Gostei da dinâmica entre os dois e da forma como constroem a sua relação profissional e pessoal.

Este livro reforça o prestigio que os(as) escritores nórdicos estão ganhar relativamente à escrita de thrillers e policiais. Fiquei com vontade de conhecer mais obras deste autor.

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Opinião | "Fica comigo" de Noelia Amarillo

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Pouco conhecia acerca deste livro. Mesmo assim, decidi arriscar em comprá-lo e ver se o mesmo se tornaria numa boa leitura. Este pouco mais de um ano na parte da estante onde habitam os livros não lidos. No princípio de fevereiro, achei que era a altura de pegar no livro e experimentar a leitura.

Fica comigo é uma história intensa que se desenvolve de forma rápida e cativante. Um livro para quebrar alguns preconceitos e mostrar o verdadeiro poder da solidariedade. 
Dolores confiou no Jared. Conseguiu ler além do seu aspeto físico e perceber que Jared era apenas um jovem a quem a vida mostrou as garras da dificuldade. Irritou a sua neta, Nuria, a forma como acolheu Jared. E foi exatamente esta forma de acolher que permitiu que este jovem ganhasse um propósito, mostrasse as suas qualidades humanas e quebrasse cada um dos preconceitos que a Nuria tinha acerca dos sem abrigo.

O livro é de uma doçura mágica e que mostra o poder de uma comunidade. Mostra o lado bonito de se unirem para ajudar uma pessoa e essa pessoa agarrar com as suas mãos cada uma das oportunidades que iam aparecendo à sua frente.

Senti, em alguns momentos, que a escritora deveria ter tido menos pressa na apresentação e desenvolvimento dos acontecimentos. Apesar da história funcionar muito bem assim, há passagens que mereciam uma maior profundidade.

A história é muito empática que aborda as consequências da crise económica. Se para quem tem uma vida profissional estável ou um emprego mais ou menos garantido, é complicado viver; para quem vive na instabilidade laboral e perde o pouco que tem, a dureza das situações afigura-se ainda mais crítica. Jared viveu isso na pele, mas nunca perdeu a dignidade e a sua força de vontade em transformar a sua vida e sair do buraco para onde as circunstâncias o tinham atirado.

Apesar da sua força de vontade, ele precisava de ajuda. Conseguiu conquistar uma comunidade e essa comunidade fez com que, aos poucos, as coisas fossem mudando para ele. Há muitas pessoas que dizem que um sem abrigo, se quiser muito consegue sair da situação em que se encontra. Infelizmente, as coisas não acontecem só porque queremos muito, ou é um objetivo que perseguimos com toda a nossa força. É importante termos consciência que a nossa vontade e o nosso comportamento nem sempre são suficientes. Querer muito uma coisa, ter um objetivo definido, incita ao comportamento e à procura por aquilo que queremos. O Jared mostrou isso! Apesar da dureza das suas circunstâncias ele procurava manter a sua higiene, procurava ganhar dinheiro de todas as formas dignas possíveis e não desistia. Porém, por vezes, precisamos que haja alguma mudança do outro lado e nos permita concretizar aquilo que tanto procuramos. Se a Dolores não tivesse acreditado nele, lhe ter dado uma oportunidade e alimentando uma rede de suporte, talvez ele não se tivesse libertado da sua situação.

Por tudo isto, devemos ter muito cuidado quando acusamos outra pessoas de que se não conseguiu algo foi porque não quis muito. Dificilmente, saberemos o esforço que cada pessoa coloca para a realização dos seus sonhos. Por isso, não devemos menosprezar o insucesso de alguém e reduzi-lo ao facto de que ele se deve exclusivamente àquilo que a pessoa é.

Ler este livro relembrou-me esta minha visão sobre o ser humano e a sua condição. Caso escolhas ler este livro, espero que possibilite o desenvolvimento desta empatia e solidariedade.

Como é esperado, toda esta realidade é adoçada com uma bonita a intensa história de amor. É um amor doce, intenso e com um toque de sedução que acelera o coração de quem lê.

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Opinião | "Filosofia felina" de John Gray

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Considero-me uma pessoa mais ligada aos cães do que aos gatos. Sempre me identifiquei com a lealdade dos cães e a forma especial com que criam laços com os humanos. Os gatos pareciam-me figuras distantes, egoístas e que olhavam para os humanos como alguém que lhes pode satisfazer as suas necessidades. 

Tive um cão durante quase 15 anos e, no último ano dele, uma gata acabou por entrara em casa sem querer. Acho que ela nos escolheu. Ou escolheu o meu cão, já que foi com ele com quem ela começou a sua jornada de se infiltrar aqui em casa. Foi uma amizade improvável, mas sentida. No dia em que o meu cão morreu, ela mostrou-se perdida e miava muito; como se estivesse a chamar pelo seu amigo. E aqui comecei a olhar para os gatos de outra forma.

Ela foi essencial nesta transição numa casa com cão e sem ele. A Riscas é um animal discreto, que adora fazer longas sestas ao sol ou em lugares quentes. Não abdica dos seus passeios pelos campos, onde passeia de forma descomprometida, sem pressa de chegar onde a esperam. É livre!! E essa liberdade, serenidade e calma inspiram-me. 

Esta nova visão sobre os gatos fez-me apreciar muito este livro de John Gray. Ele partilha histórias inspiradoras onde os gatos são protagonistas ao mesmo tempo que se alonga em reflexões sobre a essência humana e o quão ela poderá beneficiar se se aproximar mais da forma de viver dos felinos. 

O autor recorre a uma linguagem muito simples e fácil criar uma ligação com o livro. É uma ligação mais filosófica, de aprendizagem e reflexão, da qual eu gostei muito. Dei por mim a parar em determinadas partes para analisar mais profundamente a mensagem que elas estavam a transmitir.

O livro termina de uma forma muito curiosa. O autor apresenta-nos dez conselhos felinos para uma boa vida que me deixaram uma boa sensação final. De todos destaco o "Durma pela alegria de dormir" e "Cuidado com quem o quer fazer feliz". É verdade que nunca vi animais tão plenos a dormir como os gatos. Eles são felizes só pelo simples facto de se puderem estender ao sol e fazer uma sesta revigorante. É bom dormir e deixa-os felizes. Acho que é importante esta visão do sono. Relativamente à necessidade de termos cuidado com quem diz que nos quer fazer feliz é algo que merece uma análise mais profunda. Primeiro, nós temos de ser felizes por nós próprios. Por outro, quais os reais motivos de quem nos diz que nos quer fazer feliz? Será que está infeliz ou em sofrimento e alimenta-se das nossas energias para se sentir melhor? Será que também espera que seja o outro a proporcionar-lhe a felicidade que ele não sente? É complexo e pode ter mil e uma leituras. Mas a verdade é que um gato é feliz por si próprio e pela sua vida. Não almeja fazer o humano feliz, nem espera que seja o humano a dar-lhe a felicidade. Também não a procura. É um ser que se limita a ser feliz na sua condição e por tudo aquilo que a vida de lhe oferece. 

Como é que o teu gato/cão entrou na tua vida? Tens alguma história engraçada para partilhar? Fico à espera dela nos comentários.

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Opinião | "O teu aroma a pêssego" de Megan Maxwell

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A leitura deste livro marcou a minha estreia com a as obras de Megan Maxwell. De uma forma geral, este livro reúne romance, diversão e paixão. Estes ingredientes surgem bem misturadas por um discurso ligeiro que se assume como uma narrativa rápida e cativante. 

Ana é uma fotografa inglesa a viver e trabalhar em Madrid. Esta mudança representa uma fuga de uma realidade que a asfixiava. Esta jovem adulta é descontraída e autoconfiante. Tem uma personalidade vincada, é assertiva nas escolhas que faz, mas tem um lado mais inseguro. Estas inseguranças são o resultado das vivências que motivaram a sua fuga. Um dia ela cruza-se com Rodrigo, um bombeiro espanhol que a deixa a suspirar. 

Inevitavelmente surge uma ligação entre eles que origina cenas muito divertidas. Há encontros e desencontros emocionais, há conflitos caricatos que surgem de mal entendidos que se vão complexificando ao longo do livro. Tudo isto confere um tom muito divertido à história e eu dei por mim a descontrair do stress do quotidiano.

O assunto que motivou a fuga da Ana é muito importante. Tive pena da forma superficial com que ele foi abordado. Sei que este não era o foco do livro, mas como ele foi introduzido merecia um pouco mais de destaque.

O livro serviu o seu propósito de entreter e divertir. Permitiu-me desligar da realidade e experienciar emoções positivas e cheias de amor. 
Não é uma obra memorável, mas ofereceu-me bem-estar e deixou-me com vontade de recorrer a mais obras da escritora quando precisar de reduzir o stress do dia a dia. 

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Opinião | "Um mulher em fuga" de Lesley Pearse

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Lesley Pearse é uma escritora que segue uma fórmula na construção das suas histórias: uma personagem feminina que sofre, vive uma quantidade considerável de dramas, ultrapassa obstáculos e encontra o seu lugar no mundo. Porém, esta linha narrativa é, geralmente, acompanhada por boas contextualizações históricas e questões morais que levam o leitor a questionar-se e a refletir sobre as situações.
Os saquinhos brilhantes que acompanham os livros oferecem-lhe uma falsa identidade e não acompanha o conteúdo que preenche as suas páginas.

Neste livro, é contada a história de Rosie, uma criança que vive num meio masculino onde a violência. É uma criança que cresce com algum amor parental e com a tirania dos irmão mais velhos. A coragem dela oferecer-lhe-á um novo caminho, mas não isento de desafios. É um caminho novo, que acabará por lhe permitir um futuro diferente.

Temas como a violência doméstica, a violação, a perda, o perdão e a saúde mental figuram ao longo destas páginas. Cada um deles vai assumindo protagonismo, mas há momentos em que eles se cruzam de uma forma dolorosa. Todos eles carregam reflexões importantes e que me permitiram diferentes reflexões, nomeadamente:

A importância da evolução nos cuidados na saúde mental
A saúde mental é a minha área profissional. Tenho consciência que ainda há muito trabalho que carece ser feito. Há, ainda, muitos tabus e preconceitos que precisam de ser quebrados e ultrapassados. No entanto, comparando a atualidade com a realidade retratada neste livro fez-me sentir grata à ciência e à evolução que ela permitiu. O tempo que Rosie passa no hospício trouxe-me das cenas mais duras de ler. O desrespeito pela doença mental, a falta de profissionalismo, os tratamentos horrendos que faziam parte do quotidiano desta instituição fez-me pensar no poder da ciência para a evolução nos cuidados de saúde e o impacto que tudo isto tem na saúde da comunidade. 

É importante separar os filhos daquilo que são os erros dos pais
Rosie sofreu devido às suas origens. A sua família de origem ofereceu-lhe uma história de vida que a revestia de preconceito. Nem sempre é explicito este julgamento, mas ele existe e acabou por condicionar o comportamento Rosie  em alguns momentos. 

Cabe-nos a nós quebrar ciclos de violência e de más relações
Talvez fosse mais fácil para a Rosie sucumbir aos caminhos marginais que lhe eram familiares e ceder à podridão humana. Contudo, ela escolheu ser diferente e quebrar o padrão familiar que conhecia.
Nem sempre é fácil e linear quebrar com estes ciclos. Infelizmente não basta a vontade de fazer diferente. É essencial que as circunstâncias à nossa volta se ajustem à nossa vontade para que a mudança acontece. 
Neste sentido, Rosie teve essa possibilidade e soube usá-la para quebrar com uma realidade dura. 

Uma relação amorosa deve ter reciprocidade
Rosie, quando vive o seu primeiro amor, dá tudo de si. Entrega à pessoa que a conquistou todo o seu amor e dedicação. Fica sensibilizada pelas declarações de amor, pela atenção e pelo afeto que sempre foram tão escassos na sua vida. Isto faz com que ela vá ignorando alguns sinais de alerta. Um comportamento de posse que faz com que ela se vá anulando. Ela olhava para a falta de reciprocidade como uma manifestação do amor. Chega a lucidez e ela consegue perceber que tipo de comportamentos devem acompanhar as palavras de amor. 

Estamos na presença de um livro muito rico em termos emocionais e históricos. Houve alguns momentos em que senti que a narrativa carece de alguma objetividade e de um maior desenvolvimento. Arrasta-se e parece atrasar a leitura. Contudo, é um livro bem escrito e que respeita a identidade literária de Lesley Pearse.

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Opinião | "Rapariga Silenciosa" (Rizzoli & Isles #9) de Tess Gerritsen

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Tenho andado muito desaparecida, mas na vida há prioridades e eu estive dedicada a elas. As leituras nunca estiveram totalmente paradas, refletindo-se nas 10 opiniões que tenho para partilhar contigo. Queria publicá-las todas antes do final do ano, mas é impossível (além de que não quero inundar o blogue com opiniões em série). Vou, pelo menos, tentar publicar uma por dia. 

Rapariga silenciosa foi o último livro da estante da Daniela que veio parar cá a casa e que me permitiu continuar a acompanhar o trabalho da inspetora Jane Rizzoli. 
Eu gosto muito dos livros desta série. São leituras quase sempre certeiras: bons momentos de suspense, uma narrativa interessante e um desfecho imprevisível. 

A China e as suas lendas são uma das grandes fontes de inspiração para tudo o que aconteceu às personagens não residentes. Para mim foi muito interessante ler algumas destas lendas, perceber a influência destas na forma de estar e de pensar das pessoas e de que forma isto causa confusão nos ocidentais. Foi muito interessante perceber que este livro é o mais intimista da escritora. Nele, ela semeou as suas memórias das histórias que a sua mãe partilhou com ela. Senti que o livro era uma espécie de homenagem à infância que a mãe passou na China e à bagagem cultural que passou às gerações seguintes.

É um livro com pouco espaço para as personagens residentes. Há um grande foco nas histórias de vida paralelas à situação de crime que é preciso de resolver. Além disto, o livro tem a capacidade de levar o leitor a pensar sobre os dilemas morais que muitas vezes a vida oferece ao ser humano. O que é a justiça? De que forma é que as pessoas sentem que as instituições responsáveis foram justas perante os problemas que as assolam? Quem tem a legitimidade para fazer justiça?

Neste livro, encontrei uma história que revela as diferentes tonalidade daquilo que é a justiça humana, o certo e o errado. Não foi o meu livro preferido da série, mas as lendas e a cultura oriental ficaram-me na memória.

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Opinião | "Não contes a ninguém" de Karen Rose (Romantic Suspense #1)

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Os livros de Karen Rose não circulam muito pelas redes. Vejo poucos(as) leitores(as) a apostas nesta escritora, o que é uma pena. 
O foco narrativo que a escritora segue centra-se na apresentação de um ou vários crimes, a investigação que o(s) acompanha e uma história de amor com algum erotismo à mistura. 

"Não contes a ninguém" é um livro que segue um registo ligeiramente diferente daquele a que eu já estava habituada. É uma história que vive mais do suspense e da tensão psicológica. É isso que vai movendo grande parte da ação. A outra parte é composta pelo desenvolvimento de uma relação amorosa. 

O tema central do livro, e de onde partem todos os outros acontecimentos, é uma situação de violência doméstica. Por isso, desde o início que conhecemos o criminoso e as vítimas. Aquilo que vai sendo descoberto aos poucos é a dimensão da violência e o impacto que ela foi causando na mãe, Mary Grace (Caroline - novo nome) e no seu filho. 

Apesar de o livro não te ter encantado tanto como os anteriores que li, gostei muito desta história e do seu desenvolvimento. Foi uma leitura sôfrega e marcada pela expetativa. Esta expetativa decorria em duas frentes: 1) ver como o caso de violência doméstica se iria resolver e 2) perceber como é que Max e o seu romance iria crescer tendo em conta as feridas que marcavam cada uma das personagens.

Acho que um aspeto que não me deixou tão satisfeita com este livro esta relacionado com o amor instantâneo que nasceu entre Max e Caroline. Foi uma atração demasiado imediata e isso fez-me alguma confusão. 
No decorrer deste meu incómodo com o romance destes dois sucederam um conjunto de situações que me fizeram torcer o nariz. Acho que a Caroline foi exageradamente dramática com o Max e teve uma atitude estúpida relativamente ao passado dele. Pareceu-me um pouco hipócrita, uma vez que ela também tem ali arestas afiadas na sua personalidade e na sua forma de ser que precisavam de ser ajustadas. 
Apesar destes elementos que considerei menos positivos, lá me acabei por apaixonar por estes dois e torcer por um final completamente feliz para ambos. 

Todo o desenvolvimento criminal prendeu a minha atenção. O final foi muito bem construído. Nota-se o cuidado em não terminar tudo à pressa. Houve tempo para que o clímax crescesse e a minha angústia por ver como tudo aquilo iria terminar sofreu com este cuidado da escritora em dar tudo ao(à) leitor(a) o mais pormenorizado possível

Infelizmente, nem todos os casos de violência doméstica têm o desenvolvimento e o desfecho deste. Mary Grace/Caroline foi inteligente e corajosa. Quis lutar por um futuro diferente para o seu filho. A luta dela foi inspiradora. Perceber aquilo que ela necessitou de ultrapassar para conquistar um lugar seguro foi bastante emotivo. Considero que ela se tornou numa inspiração para mim, mais especificamente a sua coragem e a sua capacidade de seguir em frente apesar de toda a porcaria de vida que tinha à sua volta. Gostava que ela servisse de inspiração para outras pessoas, principalmente para aquelas que se veem a braços com situações semelhantes.

Se os ingredientes que fazem este livro forem do vosso agrado, acho que devem tentar ler algo desta escritora. Ela merece mais atenção por parte dos leitores.

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Opinião | "Para lá do inverno" de Isabel Allende

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Para lá do inverno é o segundo livro que leio de Isabel Allende. Há uns anos li o "Paula", um livro onde a escritora partilhava aspetos da sua vida pessoal, dando destaque à doença da filha. Lembro-me de ter gostado do livro, mas não ter adorado. 

Desde essa altura, nunca mais tinha pegado noutra obra da escritora. Na minha última ida à biblioteca, achei que era uma boa forma de voltar a ler um livro de Isabel Allende e acabei por trazer este para casa. 

É engraçado que comecei a embirrar com a parte criminal que a história tem, mas depois percebi que não era essa a essência do livro. O crime serviu apenas de gatilho para descobrir três histórias de vida marcadas pela luta, o sofrimento a incerteza... Invernos que o ser humano atravessa e que são responsáveis por emoções mais negras. 

Os invernos da vida e o que resiste para além deles são a essência desta história. Há uma tonalidade reflexiva que acompanhou toda a leitura, mas no início eu não me estava a aperceber dela. Acho que andava demasiado à procura da linha condutora que me explicasse a morte que aparece nas primeiras páginas. Era o meu lado racional a tomar a dianteira na leitura. Depois, a autora fez-me mergulhar no passado de Lúcia, Richard e Evelyn e aí percebi a intencionalidade do livro. 

Se tivesse de destacar uma história seria difícil escolher entre Richard e Evelyn. Foram duas narrativas muito duras, com um sofrimento distinto mas muito palpável. Tão palpável que no presente ainda se fazia sentir na forma como se relacionavam com os outros, na forma como olhavam para o amor, na forma como encaravam a sua própria vida. 

O crime juntou-os e fomentou laços entre eles. Lúcia também tem os seus invernos, mas a forma como os encaixou na sua personalidade fizeram dela alguém com uma resiliência mais capaz para os relacionamentos com os outros. Ela unia as pontas que consistiam na individualidade de cada um. Deu sentido as vivências de cada um e àquilo que os acabou por juntar.

O desfecho foi algo inesperado. Porém, conseguiu dar sentido e coerência àquilo que no início me parecia inverosímil. E além do desfecho onde se encerram os assuntos que caracterizam a narrativa, prevalece a mensagem de que por muitos que sejam os invernos que tenhamos que atravessar na nossa vida, haverá forma de os ultrapassar e encaixá-los dentro de nós de forma positiva e resiliente.

Fiquei agradavelmente surpreendida com o livro e espero, em breve, voltar à escrita de Allende.

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Opinião | "Duquesa do meu coração" (The Vault Collection #1) de Maya Banks

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Tenho andado mentalmente casada, fruto de um trabalho mais intelectual. Sinto que este cansaço não é muito benéfico para a leitura. Níveis de atenção mais baixos, menos capacidade para assimilar conteúdo... Um cocktail um pouco prejudicial para quem gosta de se perder num livro. 
Perante este estado emocional, há pessoas que gostam de deambular pelas redes. No meu caso, só me apetece ver televisão e pegar em livros mais leves, descomplicados e a atirar para um lado mais romanceado. Conclusão, o livro "Duquesa do meu coração" foi a leitura certa para estes dias de stress. Consegui focar a minha atenção, consegui avançar na leitura a um ritmo simpático e fiquei inundada da sensação positiva que só uma bonita história de amor é capaz de deixar. 

O livro tem um lado leve e cativante, mas trata de um tema muito sério. Jillian conheceu um lado negro do casamento e, assim que lhe foi possível, revestiu-se de coragem e enfrentou a sociedade conservadora da época. Foi importante ler sobre estas dinâmicas e perceber de que forma a afirmação pessoal da Jillian colidia com os ideias esperados para uma senhora naquela época. Além disto, a Jillian também deixa outra lição nem sempre o ataque ou uma postura marcada pela hostilidade é a opção ideal para se vingar dos sentimentos menos positivos. 

Outro aspeto que também gostei particularmente neste livro foi a amizade de Jillian com Case. Só por si, esta amizade constituía um desafio às normas sociais da época. A relação foi bem desenvolvida e ofereceu um tom ainda mais doce à história e à felicidade final. 

É claro, este livro tem de ter um romance a deslizar nas páginas. Inicialmente, estava um pouco reticente à forma como tudo se estava a desenvolver. Acho que foram as páginas finais e a atitude de Justin que conquistaram o meu coração. 

Nem tudo neste livro e no desenrolar da narrativa é surpresa. Há uma linha narrativa que é particularmente previsível, mas isso não afetou a minha diversão na leitura nem interferiu com a minha capacidade de apreciar os factos e ficar feliz com desfecho de tudo. 

Será uma série para seguir. Penso que o Case também terá direito a um livro dedicado ao seu universo. E eu gostei tanto do Case que também o quero ver a provar a doçura que só um amor correspondido pode oferecer. 

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Opinião | "Se esta rua falasse" de James Baldwin

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Já me tinha cruzado com opiniões muito boas a este livro. Por isso, andava com uma enorme curiosidade de conhecer a escrita de Baldwin e a história que ele se propunha a contar. Após a leitura, posso dizer que o balanço é muito positivo e ficou a vontade de conhecer mais obras do escritor. 

Se esta rua falasse guarda uma história onde a luta pela liberdade assume um papel fundamental ao longo do livro. É mais do que a liberdade que se adquire ao sair da prisão, é a liberdade para ser. É a história de um grupo de pessoas que luta para se sentir livre para ser. Fonny e Tish só queriam ser eles próprios, viver o amor que os unia e não incomodar ninguém. 

O racismo, o preconceito e xenofobia ganham terreno nesta história e condenam a liberdade de Fonny e Tish. Foram impedidos de viverem num meio onde a cor da pele era um fator a ter em consideração no trabalho da polícia.
A leveza da escrita e a sensibilidade que Baldwin oferece à sua obra funcionam como um balsamo para a dureza daquilo que ele escolhe contar. É duro ver o desespero da Tish. É revoltante ver a injustiça oferecida de forma deliberada a Fonny.
Cada página de um presente no passado, reflete a atualidade. A intolerância, a insegurança e a forma fácil como se decide tecer um julgamento tendo por base ódios pessoais sem qualquer fundamento são demasiado reais e demasiado atuais. É angustiante perceber que o lado mais negro do ser humano não sofreu grandes alterações ao longo do tempo. Este livro é ideal para se refletir e discutir sobre violência, descriminação, luta pela liberdade e resiliência.

Enquanto deambulei pelo sofrimento atual deste jovem casal, esta história ainda me ofereceu o lado negro da infância de Fonny. Apesar de todas as dificuldades que a vida lhe foi impondo, a resiliência deste jovem é verdadeiramente inspiradora. 

É um livro cheio de conteúdo apesar de ter um pouco menos de 200 páginas. A minha leitura foi lenta; não porque não tivesse vontade de ler, mas sim porque a minha vida anda a intrometer-se nas minhas leituras. A minha disponibilidade mental para ler não tem sido muita e por isso leio menos e mais devagar. Por um lado é chato arrastar as leituras ao longo de vários dias (muitas vezes semanas), por outro permite-me absorver as coisas de forma mais consistente. Senti muito isto com Se esta rua falasse. A leitura mais lenta permitiu absorver melhor estes conteúdos e permitiu-me pensar sobre eles. 

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