Desafio de Escrita dos Pássaros # 4 | A pasta
(imagem tirada daqui)
Tema 4: A Beatriz disse que não. E agora?
Beatriz regressava a casa depois de um dia de trabalho. Cansada, decide parar na pequena padaria do costume para beber um chá e aquecer-se neste dia frio.
Entra e escolhe a mesa mais isolada. Ao mesmo tempo que se sentava, reparou numa pasta de couro ali esquecida. Ignorou-a e sentou-se. Decidida a esquecer a pasta, fez o seu pedido e aguardou. Em minutos o seu chá chegou à mesa, mas, ali ao lado, a pasta queimava mais que a chávena de chá.
Tentou ignorar o objeto ali esquecido, mas a curiosidade estava a ganhar terreno dento de si. Deixou-a vencer e pegou na pasta. Passou a mão pelo revelo das iniciais que estavam gravadas, LA.
Arqueou uma sobrancelha enquanto pensava se devia ou não abrir a pasta. Abriu! Quem sabe até podia descobrir a quem pertencia e arranjar forma de lha devolver. Desapertou o laço que unia as duas partes. Começou por ver um esboço de uma ilustração das mesas e dos clientes daquela mesma padaria e, colado na parte de trás da capa, um nome e um número:
Lourenço Alves
956 742 323
Bem… Afinal iria poder devolvê-la, mas não sem antes explorar um pouco o seu conteúdo.
Desenhos de paisagens, pessoas e situações do dia-a-dia ilustravam folhas de papel branco. Ele tinha talento, muito talento! Pelo meio um desenho chamou-lhe a atenção. Pousou a pasta na mesa e segurou o desenho para o poder analisar. Ilustrava uma cliente, naquela mesma padaria, junto ao balcão a fazer o seu pedido. As feições eram-lhe familiares. Olhou bem e identificou o seu próprio rosto. Continuou a folhear os desenhos guardados na capa e encontrou mais desenhos seus.
Uma pontada de receio atravessou-lhe a mente. Para si mesma disse, “Não, já não lhe vou ligar coisa nenhuma! O melhor é deixar a pasta no balcão.”
Guardou tudo, terminou o seu chá e levantou-se para pagar levando a pasta consigo.
– Quero pagar, por favor.
– É um 1.55€ - respondeu a funcionária com um sorriso.
– Olhe, esta pasta estava ali no banco da mesa onde me sentei. Acho que alguém se esqueceu dela – disse a Beatriz para a funcionária ao mesmo tempo que lhe entregava a pasta.
– Obrigada! – olhou para a pasta e sorriu. – Sabe, é do meu namorado. Esteve aqui há pouco. Nunca a larga nem nunca me deixou vê-la. Acho que vou aproveitar o esquecimento dele.