Desafio de Escrita dos Pássaros # 6 | Só o amor não basta
Tema 6: Escreve uma história romântica baseada no clássico "O Amor, uma cabana… e um frigorífico"
Quem lhe mandou acreditar cegamente nele? Como é que caiu tão facilmente na conversa de que o amor deles era suficiente para enfrentarem as dificuldades da vida?
Estão juntos há cinco anos e, nos últimos dois, gastaram o pouco dinheiro que tinham em tratamentos para engravidar. Por ela, já há muito que tinham parado. Estava assustada por ver as suas poupanças a perderem-se em tratamento sem certeza de eficácia. Estava triste porque percebeu que um casal pode ser feliz sem filhos. Mas ele não partilhava da mesma opinião. Ele queria um filho a toda a força.
– Adotamos? – propôs-lhe ela, num manhã de descrença e farta de o ouvir dissertar sobre a opinião dos outros perante a situações deles.
– Estás louca? – Ele estava possesso. – Não percebes que um filho adotado não faz nós família aos olhos dos meus pais e dos meus amigos? Precisamos de um filho biológico.
Ela sentou-se, apoiou a cabeça nas mãos e disse: – Este assunto está a destruir a nossa relação, está a piorar a nossa qualidade de vida, não percebes? - Ela levanta a cabeça e com os olhos cheios de água e continua, aos gritos: – EU NÃO AGUENTO MAIS! ESTOU CANSADA DOS TRATAMENTOS, CANSADA DE TRABALHAR COMO UMA DOIDA PARA SUPORTAR AS CONTAS, CANSADA DE CONTAR OS TOSTÕES PARA PODERMOS COMER!
Ele paralisou perante a dureza destas palavras. Mas ela não percebia. Como é que ele poderia desistir de ter um filho? Simplesmente não podia deixar margem para comentários dessagráveis relativamente à sua masculinidade.
– Se sentes isso, podemos pensar na alternativa de encontrar alguém que seja nossa barriga de aluguer!
– Não estás mesmo bom dessa cabeça. Para mim, basta. Não dou mais para esse peditório.
Ela levantou-se e dirigiu-se ao quarto que partilhavam. Arrumou as suas coisas e transportou-as para o carro. Antes de descer com a última mala disse-lhe:
– Depois entro em contacto contigo para tratarmos do divórcio. Considera-te livre de fazeres o que bem entenderes. – Virou-se para abrir a porta, mas de repente lembrou-se que ainda tinham mais uma coisa a dizer-lhe. – Ah! Já me esquecia, o frigorífico estragou-se.
Ele olhou para ela e assentiu… Ficou a vê-la a sair e a pensar naquilo que ela sempre representou para ele. E no fim, só uma coisa pairava na sua cabeça: como é que viveria sem ela?