Opinião | "Dezanove Minutos" de Jodi Picoult
Autor: Jodi Picoult
Ano: 2007
Editora: Civilização Editora
Número de Páginas: 532
Classificação: 5 Estrelas
Desafio: Novos autores
Sinopse
Em Sterling, New Hampshire, Peter Houghton, um estudante de liceu com dezassete anos, suportou anos de abuso verbal e físico por parte dos colegas. A sua amiga Josie Cormier, sucumbiu à pressão dos colegas e agora dá-se com os grupos mais populares que muitas vezes instigam o assédio. Um incidente de perseguição é a gota de água para Peter, levando-o a cometer um acto de violência que mudará para sempre a vida dos residentes de Sterling.
Opinião
Quando iniciei a leitura deste livro estava longe de imaginar aquilo que eu ali iria encontrar. Acreditem, a sinopse é extremamente reduzida quando comparada com a complexidade que Jodi Picoult nos presentei ao longo destas páginas.
Dezanove Minutos é um livro que deixa as emoções à flor da pele que retracta um acontecimento que, muito recentemente, aconteceu nos EUA (o massacre numa escola). Aliada a esta memória recente, surgem aspectos como a enorme capacidade de descrever os acontecimentos, a complexidade psicológica das personagens envolvidas, o enredo fantasticamente bem construído tornando o livro uma "bomba atómica" de emoções que nos prendem até à ultima página... Posso dizer que à medida que vão lendo serão sempre surpreendidos e não existem "pontos mortos" no livro. É simplesmente viciante e difícil de largar.
Peter é um jovem que nunca soube o que é ser admirado na escola... Sempre foi uma alvo fácil à intimidação e à agressão. Se até ao sexto ano tinha o apoio incondicional da sua amiga Josie tornava as coisas mais suportáveis, a separação de ambos tornou a vida de Peter muito mais difícil. Apesar da crueldade do acto de Peter consegui sentir empatia por ele e pena, frequentemente fiquei emocionada com as intimidações que ele ia sofrendo. Era um miúdo sensível e diferente dos outros, mas a pressão a que foi sujeito foi-se acumulando dentro dele culminando num acto condenável e macabro. Sentia-se incompreendido por todos, até pelos próprios pais.
Josie foi aquele que mais sofreu mudanças ao longo que a narrativa se desenvolvida e foi também a personagem que mais me fez pensar, proporcionando-me diferentes experiências emocionais. Havia momentos em que sentia pena dela, outros em que admirava aquilo que ela fazia, havia ainda outros que me irritava profundamente e outros em que me sentia completamente desesperada por não poder fazer nada contra as atitudes e passividade dela perante determinadas situações. Josie aprendeu a usar uma máscara para poder sobreviver no seu meio escolar. Assim, a maquilhagem proporcionou-lhe a criação de uma Josie popular, adorada por muitos. Rendeu-se às miúdas de personalidade consumista e oca, mas no fundo havia outra Josie, completamente diferentes e a quilómetros de distância de atitudes mesquinhas, materialistas e sem inteligência. Na minha opinião, esta incongruência entre aquilo que ela era e aquilo que ela se mostrava aos outros causava-lhe um enorme sofrimento. Depois havia o Matt, o namorado de Josie, que simplesmente me fazia revirar os olhos de tão estúpido que era. Pelas descrições imaginei-o como sendo um grande monte de músculos sem o mínimo de inteligência. Odiava a forma como ele tratava Peter e como pressionava psicologicamente a Josie.
Há uma passagem do livro que retrata a Josie no seu mais profundo ser. É a seguinte:
Se passarmos a vida concentrados naquilo que os outros pensam de nós, será que nos esquecemos de quem realmente somos? E se o rosto que mostramos ao mundo for uma máscara... sem nada por baixo?
O final de Peter é um bocadinho previsível. Confesso que até pensei que tal acontecimento iria acontecer mais cedo. Os pais de Peter, Lucy e Lewis, também me fizerem ter os sentimentos à flor da pele. Viveram um sofrimento atroz... Aliás eles foram a prova viva de que quando a vida começa a andar para trás não há maneira de se conseguir dar a volta por cima. É muito interessante ver as reacções deles, muito bem construídas e descritas pela escritora que deixam qualquer pessoa a pensar.
Quero destacar um aspecto muito interessante do livro (e não sei se faz parte do género de escrita adoptado pela escritora), e do qual gostei muito, que é o facto de a autora ir deixando um conjunto de perguntas retóricas que activam o pensamento do leitor. São fantásticas, surgindo no momento certo que fazem com que o nosso pensamento mergulhe num mar profundo e cheio de "ses".
É um livro fantástico e marcante... Acho que é um livro que me vai acompanhar ao longo de vários dias! É emocionalmente intenso.
Deixem-se invadir pelas palavras! Boas leituras!