Opinião | "A Maldição do Marquês" de Tiago Rebelo
A História de Portugal é rica em acontecimentos capazes de alimentar boas narrativas. As mãos de um(a) bom(a) escritor(a) conseguem pegar nos eventos e trazerem histórias memoráveis aos leitores.
A Maldição do Marquês é um livro que retrata o Portugal desde o terramoto de 1 de novembro de 1755 até ao final do reinado de D. José I. É um livro extenso que se debruça sobre as consequências do terramoto, o papel do Marquês de Pombal neste período histórico e a execução dos Távoras.
Estes pontos despertam o meu interesse, contudo achei que foram demasiado acontecimentos para um livro só. Cada um deles tem informação suficiente para protagonizarem um único livro. Senti que o escritor, ao querer abordar tudo, não foi suficientemente profundo na sua análise. Mais, a diversidade de acontecimentos conduziu a uma diversidade de personagens. Foram muitas pessoas, muitos acontecimentos cruzados e isto dificultou-me a leitura.
Apesar desta minha incompatibilidade com o livro, algumas das abordagens foram muito importantes e permitiram-me algumas reflexões.
Começo pelo Marquês de Pombal e pela versão romanceada que me venderam nas aulas de História. Nas aulas, ele foi sempre apresentado como o responsável pela reconstrução da capital e por mudanças legislativas que ajudaram ao progresso nacional. Contudo, a este homem também se deve um massacre que mancha a História nacional. O Marquês foi um homem que protegeu a sua posição junto do Rei, que soube arquitetar os maiores planos para controlar o comportamento do Rei e fazer valer as suas ideias. Nas minhas aulas de história nunca se falou nos Távoras. Só tomei conhecimento deste acontecimento através dos romances históricos, porém ainda não consegui perceber todos os contornos associados a esta situação; algo que irei colmatar com o livro que me ofereci no Natal.
Outra reflexão que o livro me suscitou está relacionada com o cognome de D. José I. Este rei recebeu o cognome de o Reformador. Por esta leitura, percebi que muitas das reformas foram da responsabilidade do Marquês, onde o Rei se limitou a aceitar as mudanças que o seu ministro decidiu aplicar ao reino.
Reconstruir uma cidade depois de uma tragédia enorme foi uma enorme desafio que o Marquês soube assumir e dirigir. Contudo, ele não o fez sozinho e senti que houve pouca referência a este aspeto. Continua-se a centrar na figura do ministro os louros pela reconstrução. Sim, ele foi importante; aliás, foi essencial para estruturar a população e orientá-la no sentido da reconstrução. A que custo é que isto foi alcançado? O povo deve ter trabalhado imenso. Sim, eles seguiram ordens e orientações; mas é a eles que deve o trabalho duro da reconstrução, limpeza e no restabelecimento da ordem e da saúde pública.
É inevitável a comparação com outros(as) escritores(as) nacionais que escrevem ficção histórica. E nessa comparação este livro fica a perder. Perde pela incapacidade abandonar a dispersão, perde pela escrita menos apelativa e pelo enorme conjunto de personagens que não me ajudaram a acompanhar a história.
Por outro lado, este é um excelente livro para conhecer um conjunto de acontecimentos importantes na História nacional, e isso foi importante para mim enquanto leitora.
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