Opinião | "Aquorea - Inspira" de M. G. Ferrey
Fantasia é um género literário que mais dificilmente me conquista. Sempre que preciso de dar alguma indicação de livros deste género acabo sempre por indicar livros da Liliana Lavado e da Juliet Marillier. Para mim, são duas escritoras de referência neste género.
Aquorea-Inspira agitou a comunidade literária. Foi muito bonito assistir à forma como os leitores deliraram com esta história e foi inspirador ver a forma elegante, empática e simpática com que a escritora se ligou à comunidade. A conjugação destes dois elementos que me fizeram decidir ler este livro quando me cruzei com ele na biblioteca.
Aquorea-Inspira cativou-me, mas não me conquistou. Para um primeiro livro, considero que tem um enredo organizado, com sentido, sem incoerências e com uma escrita que deixa o leitor vinculado à história. De facto, assim que comecei a ler a entrar na história, a minha vontade em continuar a ler foi aumentando com o desenvolvimento da ação. Acho que isto é mérito da escritora, pois é devido à sua capacidade de escrita que acontece esta vontade de continuar a ler.
O universo criado nesta história é muito interessante e foi enriquecido com pormenores que possibilitam a visualização do espaço e a criação de imagens mentais dos espaços físicos onde decorre a narrativa. Este aspeto mais gráfico é importante para o leitor, ajuda a que ele se sinta parte do mundo que foi criado.
Apesar de todos estes aspetos positivos, o livro, na minha opinião, apresenta algumas carências.
Começo pela ação da história. Há muitos jantares, almoços, festas, visitas e situações que pouco acrescentam ao enredo. Este tipo de descrição faz com que no livro prevaleça o contar e não o mostrar. São diversas as descrições de alimentos, refeições, roupa para vestir; porém, apesar de estarem bem escritas não acrescenta muito ao desenvolvimento da ação. Um leitor mais experiente procura outro tipo de conteúdo e não um relato pormenorizado de acontecimentos muito circunscritos àquilo que são as rotinas diárias das personagens. Atendendo a estes aspetos, considero que faltou ação e faltaram situações com maior relevância para demonstrar conflitos com a capacidade de enriquecer a dinâmica da narrativa.
Analisando as personagens e as dinâmicas que foram construídas à volta delas, mais uma vez há alguma carência no mostrar. Há muita descrição, mas pouca profundidade.
Ara é descrita, muitas vezes, como especial e alguém muito importante para Aquorea. Sei que é uma série e que, provavelmente, isso poderá surgir de forma mais concisa num próximo volume. Contudo, eu precisava que neste livro me mostrasse um pouco mais da relevância desta personagem e os aspetos que a tornavam tão importante. De facto, há coisas que não basta dizer, é importante mostrar ao leitor para que a ligação entre obra e leitor se estreite ainda mais.
Ara é uma jovem adulta, já no fim da adolescência. Atendendo à sua idade, senti que, por vezes, ela foi demasiado imatura. Esperava uma maior capacidade de reflexão e outro tipo de atitudes. As hormonas não justificam tudo. O próprio relacionamento entre Ara e Kai é demasiado clichê. O romance entre eles tem um início demasiado tóxico. Kai é um rapaz tão importante para a comunidade e tem comportamentos que não estão ao nível da sua idade e da maturidade que lhe é exigida.
O mundo à superfície também continua. Aqui senti que houve uma necessidade em contar ao leitor que as coisas descarrilam e que o mundo emocional daquelas pessoas ruiu. Tem sentido tendo em consideração os acontecimentos. Porém, não lhe foi dada a devida profundidade. Colt, por muito querido que seja da família, acaba por estar ali um pouco descontextualizado. A forma como ele se mantém na narrativa foi a única coisa ao longo da leitura que não faz grande sentido para mim. Consigo perceber que ele tem uma posição muito importante na família de Ara, mas é um pouco irrealista a participação na viagem e todo o seu papel depois do desaparecimento de Ara.
Reconheço que este poderá ser um bom livro para leitores menos experientes, para adolescentes e jovens adultos. Acredito que a forma como a narrativa está construída seja mais apelativa a leitores que detenham este tipo de interesses.
Reforço que a leitura foi agradável e que representa uma boa estreia para a escritora.
Ainda não sei que quero continuar a explorar este universo, mas gostava de ler outras obras da escritora.
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