Opinião | "Fantasmas do passado" de Minette Walters
Fantasmas do passado era um livro totalmente desconhecido para mim. Cruzei-me com ele nos destaques da biblioteca e achei que poderia ser um leitura interessante. O facto de ter um desafio direcionado para este género de livros também ajudou a ponderar esta escolha.
O livro tem uma história complexa. Um professor universitário que gosta de refletir sobre as injustiças do tribunal. E é esta a base de todo o livro. Tentar perceber onde mora a injustiça de um crime que aconteceu há mais de 30 anos e levou à condenação de um inocente. Tirando o primeiro capítulo que é narrado nos anos 70, todo o resto do livro é narrado no momento presente da ação e acho que isso retirou muito dinamismo à história. Aliás, permaneceu em mim, em muitos dos momentos, uma leve sensação de aborrecimento que transformava o meu ritmo de leitura. Lia devagar e a sensação era de que não sai do mesmo sítio.
Um elemento interessante é o acesso aos relatórios dos depoimentos, às notícias publicadas e partes do capítulo do professor universitário Hughes. São elementos que oferecem algum dinamismo ao livro e que permitem a aceder a diferente tipo de informação; aspetos que interferiram positivamente na minha relação com o livro.
A narrativa vai-se arrastando enquanto as personagens vão tentando compreender o que aconteceu no passado. Vão desenterrando alguns acontecimentos, desconstruindo o comportamento atual de algumas personagens... Mas tudo se vai desenrolando de forma demasiado lenta. Falta suspense que crie dependência. Esta ausência de suspense torna a leitura demasiado aborrecida e deixa a sensação de que nada de relevante irá acontecer. O livro beneficiaria com uma alternância entre presente e passado. Acho que a existência de capítulos que nos mostrassem os acontecimentos do passado seriam essenciais para oferecer ao livro outra atmosfera.
O livro aborda temas como a violação, o preconceito, os bairros sociais, a deficiência mental... Tem passagens muito interessantes onde estes temas estão inseridos em situações que me fizeram refletir sobre os comportamentos individuais e os comportamentos da comunidade. Como é que se alimenta o preconceito? Como é que se condena o futuro de uma jovem? Como é as amizades nos podem oferecer o pior da condição humana? Que adultos escolhemos ser com base no nosso passado? Mais do que os acontecimentos e as experiências adversas pelas quais podemos passar, nós somos aquilo que escolhermos fazer com tudo o que vivemos. Mas será o contexto nos permite sempre fazer essa escolha? São perguntas que me foram surgindo ao longo da leitura.
Para os leitores que apreciam um estilo de thriller mais lento, sem suspense e sem tensão psicológica este poderá ser um livro capaz de proporcionar uma boa leitura. Mas como gosto sempre de reforçar, só poderás construir a tua opinião se deres uma oportunidade ao livro.
Classificação