Opinião | "Pessoas normais" de Sally Rooney
Pessoas normais foi uma desilusão. Talvez a maior de 2022. Vi como a comunidade literária vibrou em torno deste livro, e acho que isso fez aumentar as minhas expetativas. Estava à espera de outro tipo de livro: uma história mais intensa e com maior profundidade emocional.
Neste livro é possível acompanhar a história de Marianne, uma rapariga de uma social classe mais favorecida; e Connell, um rapaz de uma classe social inferior à da Marianne. No livro são explorados aspetos que os aproximam e os afastam. Numa dança de encontros e desencontros, de inícios e fins de uma relação estranha e distante, foi muito estranho acompanhar o desenvolvimento emocional destes dois jovens. Não sei se posso atribuir esta estranheza da relação à maturidade ou às características de personalidade de cada um, porque não tive tempo para descobrir o papel de cada uma delas no desenvolvimento da história.
Penso que isto aconteceu porque faltou profundidade na forma como os temas foram abordados. A adicionar esta lacuna, junto a forma desligada com que a história foi narrada. Sentia falta de entusiasmo, emotividade e investimento na forma como se construíram e desenvolveram as relações entre as personagens.
O estilo de escrita também me causou algum desconforto no início da leitura. Os diálogos não são assinalados por travessões ou aspas o que exigiu uma maior atenção da minha parte. Com o avançar da leitura o desconforto desapareceu e leitura prosseguiu de forma mais tranquila.
Reconheço um possível toque realista, nomeadamente: a baixa literacia emocional dos jovens. Marianne e Connell sempre revelaram muita dificuldade em comunicar e em expressar o que sentiam e o que é que o comportamento de cada um deles provocava no outro. Esta falha de comunicação tornava a relação exasperante. Porém, reconheço que é um problema real. As pessoas em geral, os jovens em particular, apresentam baixos níveis de literacia emocional. Não elaboram quando têm de descrever o que estão a sentir, porque apresentam vocabulário reduzido. Por isso, é frequente responderem de forma evasiva e pouco elaborada quando se lhes pergunta algo relacionado com o seu mundo interior.
Neste momento, tenho a série gravada na box e ainda não tive muita vontade de a ver. Vou aguardar mais um pouco para ver se a vontade surge. Quanto a mais leituras dos livros da escritora, ainda não sei muito bem se quero ou não voltar a ler obras dela. Eu gosto sempre de dar uma segunda oportunidade aos escritores, mas foi uma leitura demasiado dececionante e tenho medo de me cruzar novamente com este género de narrativa.
Classificação