Opinião | "Pura raiva" de Cara Hunter (DI Adam Fawley #4)
Quantos segredos podem ser escondidos por um grupo de adolescentes? Quanta maldade poderá caber num coração de um(a) adolescente? Sempre foram perguntas que me inquietaram e que me deixavam muito reticente em trabalhar com este grupo da população. Não lhes consegui escapar! Trabalhei com muitos adolescentes, mas, felizmente, cruzei-me com os adolescentes tipicamente (im)perfeitos. Tinham as suas nuances e níveis de maldade ajustados.
"Pura raiva" levou-me aos "meus" adolescentes e aos meus preconceitos relativamente a eles. Levou-me, também, a refletir sobre o lado mais negro da adolescência e de como pode ser determinante na formação da personalidade e no desenvolvimento pessoal.
Os acontecimentos deste livro permitiram tais reflexões. Bons pontos de partida para pensar sobre de que forma um(a) adolescente se posiciona no seu grupo social e como é que todos à sua volta funcionam.
É um livro extremamente complexo, porque há teias de relacionamentos que se vão emaranhando. Confrontei-me com a confusão, a revolta, sentimentos de impotência por olhar para aqueles adolescentes e constatar quanto os pais podem andar adormecidos perante o comportamentos dos filhos. É normal haver segredos entre adolescentes. É normal os adolescentes não contarem tudo aos pais. O que deixa de ser adaptativo é os pais se desligarem da vida quotidiana dos seus filhos. Este história e este livro obrigam-nos a fazer este exercício e a olhar a fundo para os adultos que vão oferecendo alguns apontamentos.
Numa história onde o preconceito, a transfobia e a maldade adolescente se unem numa linha narrativa com efeito crescente, tudo se torna emocionalmente explosivo é incapaz de provocar indiferença. É impossível olhar para esta história e não sentir o realismo dos acontecimentos.
Eu sei quanto os(as) adolescentes podem ser más pessoas. Também há adultos que continuam a olhar para estes comportamentos e a denominá-los de "coisas de miúdos(as)". Lamento, mas não são! Também há quem diga que sempre houve bullying, sempre existiram zangas entre adolescentes. Sim, é verdade. O problema é que a maldade tornou-se cada vez mais complexa.
Conjugando diferentes perspetivas, diferentes linhas de pensamento, Cara Hunter vai revelando a sua mestria na construção de um policial extremamente apelativo. Para além das personagens novas que inevitavelmente surgem nesta história, ela também nos permite conhecer mais sobre a vida das personagens residentes. E não havia melhor forma de terminar. Aquele final é uma "injeção" nervosa enquanto aguardamos o livro seguinte.
Suspense, diversidade de conteúdo (entrevistas, redes sociais), muitos becos sem saída bem desenhados para levar o leitor ao engano, surpresas e uma visão de todos os lados daquilo que pode ser a essência humana juntaram-se num livro que, para mim, é um dos melhores da série.
Curiosa(o) com este livro?
Aconselho a ler por ordem. Apesar das histórias serem perfeitamente compreendidas sem a leitura dos anteriores, há aspetos importantes das personagens residentes que só conseguimos perceber se lermos os livros por ordem de publicação.
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