Por detrás da tela | "Eu, Tonya" (2017) e "Snu" (2019)
Eu, Tonya
Apanhei uma valente surpresa com este filme. Não sabia muito sobre o filme, mas por qualquer motivo que eu não consigo identificar, esperava uma história mais ligeira. Posso dizer-te que este filme não tem nada de ligeiro.
O filme narra a história da patinadora artística Tonya Harding desde a sua infância até à idade adulta.
A infância desta jovem foi tudo menos positiva e feliz. Uma mãe abusiva dita a construção de uma personalidade completamente asfixiante. Sim, senti-me asfixiada pela agressividade desta mãe e na forma como ela cresceu dentro da Tonya. Apesar do talento desta jovem, a pobreza fez com que ela não fosse bem aceite no meio artístico. Os fatos caríssimos não tinham o brilho das adversárias e isso originava ainda mais raiva dentro de Tonya.
As relações que ela foi construindo ao longo da sua vida eram doentias. Havia muita violência e tensão nas interações. Foi um pouco aflitivo assistir a isto ao longo do filme.
É claro que estas emoções se devem à brilhante interpretação de Margot Robbie como Tonya. Não sei o grau de veracidade deste filme, mas Margot transportou para a tela tudo o que lhe foi possível para se demarcar e construir uma personagem cheia de personalidade. Margot conseguiu tornar Tonya inesquecível para mim.
É um filme duro onde sobressaem as coisas menos positivas da natureza humana. Aquilo que prevalece na memória é o incomodo causado pelas atitudes de Tonya, os gritos, as discussões os abusos e a dor camuflada que vai pairando no interior das personagens.
Quando terminei o filme pensei É preciso ter estômago para aguentar isto até ao fim. Este pensamento surgiu porque há muita energia negativa nesta história e eu fui incapaz de me desligar dela.
Classificação/5
Snu
Há histórias de amor reais que merecem ser contadas, eternizadas nas palavras de um livro ou numa tela de cinema. Do que me foi possível ver neste filme, a história de Snu e de Sá Carneiro é uma dessas histórias.
O meu conhecimento sobre o percurso político do nosso país tem muitas lacunas. De Sá Carneiro ouvi opiniões completamente dispares (acho que um pouco toldadas pelas convicções políticas de cada uma das pessoas que ia partilhando a sua visão comigo), contudo, neste filme, vi mais do homem que se apaixona por uma mulher à frente do seu tempo. Para viver este amor precisa de lutar contra os "monstros" conservadores que pairavam sobre Portugal.
Snu pareceu-me ser uma mulher estremamente interessante. Inteligente, lutadora e muito confiante nas suas ideias e na sua forma de interpretar o mundo. Uma mulher que deve ter tido dificuldades em perceber muito do que se passava em Portugal naquela época.
Coube a Inês Castelo Branco interpretar esta mulher intemporal. Não esteve totalmente bem, às vezes sentiu dificuldade em manter o sotaque. Contudo, acredito que ela conseguiu passar a beleza da personalidade desta mulher.
No geral é um filme português marcado pela boa realização e narração da história. É claro que senti falta de algumas informações, acho que o filme carece de um pouco mais de contextualização histórica. Por outro lado, tenho consciência que o objetivo do filme era focar a história de amor entre estas duas pessoas.
A banda sonora foi bem escolhida e dá um toque especial ao filme.
Para quem gosta de uma boa história de amor, este filme irá ser do agrado dessas pessoas.
Classificação/5