Projeto Conjunto | Empréstimo Surpresa [Desafio]
A resposta a este desafio vem com algum atraso, mas era um daqueles que requeria inspiração.
Acho que não me correu tão bem como eu gostaria, mas não podia atrasar mais.
Vai ser muito difícil cativar os leitores de Colleen Hoover... Estou a anos luz da forma suave com que ela brinca com as palavras, mas procurei dar o meu melhor.
Atenção, poderá conter spoilers.
Desafio para o livro “9 de Novembro”, de Colleen Hoover
A exposição
9 de Novembro reúne duas personagens com cicatrizes provocadas por acontecimentos das suas vidas. Ben e Fallon encontram-se uma vez por ano, sempre no dia 9 de novembro, e essa data, que tanto sofrimento trouxe a ambos, traz-lhes também agora a esperança de um novo amor.
Depois do final do livro, Ben e Fallon continuam certamente, no pensamento dos leitores, a fazer algo diferente para assinalar esta data e enchê-la com mais memórias felizes.
Assim, gostava que imaginasses mais dois anos na vida deste casal. O que fizeram eles de especial no dia 9 de novembro?
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Fallon
Passaram-se quatro anos desde que acabamos com os nossos encontros intermitentes. Muito temos partilhado ao longo destes anos e a realidade é que nunca me canso do Ben. Passei a conhecer-lhe melhor os raios de luz, bem como as sombras que emanam da sua personalidade. De mim, ele já tinha acedido a todos os andares das minhas frustrações. O que sempre me encantou nele foi aquele jeito simples e especial que ele tinha para desmontar as minhas emoções e, claro, me fazer rir. Com o Bem é fácil rir, chorar, sentir… Com o Bem é fácil viver, é fácil partilhar uma vida a dois.
O pedido de casamento, tal como ele havia prometido, chegou um ano depois e casamos no ano seguinte, a 9 de novembro, pelo que hoje celebramos dois anos de casamento. Porém eu gosto de festejar com o Bem o simples facto de este dia nos ter juntado.
Hoje, teremos de fazer os festejos à distância. Ben está noutro estado para apresentar mais um livro. O seu jeito especial para tecer estória tem corrido bem. Toda a gente adora os seus livros e vibra com as suas personagens.
O sinal de chamada do Skype começa a ecoar pela sala e depressa abandono os meus pensamentos. Atendo e do outro lado o sorridente Ben surge-me no ecrã. Nos olhos noto-lhe o cansaço de ter passado uma tarde a falar do livro, a dar autógrafos e falar com as fãs (sim, ele consegue arrastar uma multidão feminina que não consigo explicar tamanho fascínio… ou talvez consiga); e no sorriso a tristeza de, neste dia, não estar aqui.
- Olá bela Fallon – o meu nome sempre soou bem na boca de Ben.
- Olá Ben! Então, quantas fãs te assediaram hoje? Pelos vistos não houve convites para um jantar ou uma noite diferente… Estás aí, sozinho, com ar cansado…
Ben, sorria. Vinha aí uma resposta à altura.
- Pois é… Parece que a única fã que eu convidei para um jantar e uma noite bem passada deixou-me pendurado!
- Não me digas!! Nem a tua tática de querer conhecer a cor das suas cuecas funcionou? – Estava a meter-me com ele propositadamente. Adorávamos entrar neste jogo. Eu sabia que ele se referia a mim, mas ambos sabíamos que era impossível acompanhá-lo nesta viagem.
- A técnica funcionou… Funcionou tão bem que há dez anos com uma fã. Aliás, funcionou tão bem que ainda hoje é ela a única que habita no meu pensamento e no meu coração.
Apesar do ecrã nos separa fisicamente, o olhar de Ben era profundo, sincero e penetrante. É aquele olhar de amor que faz com algo dentro de mim se agite e me emocione.
- Se funcionou, querido! – agora o meu tom era de saudade. Como queria abraçá-lo neste momento. – Tenho saudades tuas.
- Amanhã já estarei aí… Cumpro sempre a minha palavra, sabes disso. E onde está a pequena Ariane, que impediu a mãe de acompanhar o seu pai escritor?
Sorri. Ben tinha uma adoração especial pela filha. No último ano, entre a gravidez e o nascimento da Ariane, Ben ganhou uma luz ainda mais especial. Cuida de nós como cuida de qualquer pessoa a quem decida entregar o seu coração. O amor que ele mostra por nós é incondicional e sente-se a léguas de distância.
- Está a dormir – respondi ao fim de algum tempo a olhar para ele, a sentir o toque do seu amor na minha alma. – Acho as ou muito me engano ou também sente a falta do pai e das suas cantorias.
- Isso é um golpe baixo, Fallon. Sabes do meu péssimo jeito para as cantorias. Por acaso estás a insinuar que a pequena Ariane está satisfeita por não ouvir a voz desafina do pai.
Ri. Ben cantava bem. Não era nenhum tenor, mas tinha uma voz melodiosa e calmante, só ele achava que cantava mal.
Um silêncio confortável instalou-se entre nós. Ben levou os dedos ao ecrã, como se estivesse a acariciar a minha face…
- Fallon, sabes como me sinto agradecido por, naquele dia o meu caminho se ter cruzado com o teu? Imaginas sequer a dor que libertaste de mim assim que me perdoaste?
Eram perguntas que não careciam de resposta, porque as emoções a que elas no conduziam eram as mesmas para os dois.
- Espero-te, amanhã, com um jantar especial. – Ele assentiu do outro lado.
- O difícil, vai ser aguentar até amanhã. Adoro-te, Fallon. Ocupas cada recanto do meu coração.
Quinquagésimo 9 de novembro
Queria Fallon,
Hoje foi um dia duro para mim. Pela primeira vez em 50 anos, não o partilho contigo. Dói, sabes.
Sinto falta de tudo aquilo que fazia parte de ti. A tua essência sempre preencheu os espaços vazios da minha. Sempre me acolheste nos teus braços de uma forma especial. E era neles que eu agora gostaria de estar entrelaçado.
Todos os dias gosto de viajar no tempo. São viagens ao passado. Viagens onde te posso ir buscar, recolher um pouco de ti e guardá-lo em mim. Não te quero esquecer… As minhas memórias estão a ficar fracas e não quero que fujas delas.
Os dias arrastam-se sem ti. Os nossos filhos desdobram-se em atenções comigo. Não querem que me falte nada, nem que a solidão me engula. Eles não percebem! Eu nunca estou sozinho. Enquanto as lembranças me valerem, tu estarás comigo em cada momento do meu dia.
Hoje quero viajar até ao nosso terceiro 9 de novembro, quando me apareceste à porta. Cheguei a dizer-te o quanto estavas bonita? O quanto a tua presença ali serenou as minhas emoções? Estava a ser um dia negro da minha vida, e tu, com a tua luz especial, vieste iluminar o meu interior e ainda tive o privilégio de te conhecer o corpo por inteiro. Fecho os olhos e ainda sinto sabor daquela nossa primeira vez. Fecho os olhos e ainda sinto o palpitar do teu coração, outrora cheio de vida, contra o meu peito.
Onde quer que estejas, espera por mim. Sei que o nosso amor é demasiado grandioso para se ficar por uma vida terrena. Ainda havemos de mostrar aos Deuses do Olimpo o que é duas almas gémeas são capazes de fazer.
Com todo o meu amor,
Ben