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Por detrás das palavras

Opinião | "Trincas o monstro dos livros" de Emma Yarlett

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Trincas o monstro dos livros foi a minha escolha para presente de Natal da minha leitora em construção. Só hoje à noite é que o irá descobrir, por isso não te consigo dizer como é a experiência de leitura com a minha pequena leitora. 

Porque é que escolhi este livro? Como a A. é uma criança que adora histórias achei que o livro poderia aproximar-se da realidade dela. Além disso, ela anda numa fase em que acha que as personagens das histórias andam por aí atrás de nós. Infelizmente, anda um pouco assustada com o Lobo Mau do Capuchinho Vermelho e dos três porquinhos. Bem, mas como o Lobo é mau e assusta os porquinhos e Capuchinho ele fica de castigo sempre dentro da história, não sai cá para fora. Esta foi a justificação que eu arranjei para serenar a sua imaginação hiperativa. 

O Trincas também não sossega. Salta de história em história e quer devorar tudo. Achei a história muito dinâmica e engraçada. O paralelismo com outras histórias está muito bem enquadrado e acho que pode ser giro para a criança descobrir personagens que já conhece aqui nesta história. 

As ilustrações são lindíssimas e acompanham muito bem o texto que vai surgindo nas páginas. 

Da minha parte, espero só ter acertado no presente. A minha A. pediu um livro ao Pai Natal e sou aquela que lhe gosta sempre de alimentar estes pedidos. Não quero que lhe faltem livros e histórias para sonhar. 

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Opinião | "Posso espreitar a tua fralda?" e "Posso espreitar o teu bacio?" de Guido Van Genechten

A minha pequena leitora em construção vibrou com estes livros. Aproximando-se a fase de iniciar o desfralde, achei que estes livros poderiam ser um bom incentivo. Ainda não desfraldou, mas já sabe que tem a fralda limpa e vai ao bacio: o Ratinho. 

De uma forma muito dinâmica e com ilustrações maravilhosas as histórias levam a criança a observar a fralda e o bacio de diferentes animais.
No caso do Posso espreitar a tua fralda?, a fralda é uma aba que a criança pode abrir e ver o que esconde a fralda de cada animal. Sempre de uma forma respeitosa, já que o Ratinho pede autorização para espreitar a sua fralda, e no fim dá autorização para espreitar a sua.

No livro Posso espreitar o teu bacio?, a dinâmica é a mesma. É possível abrir uma aba que permite à criança ver o bacio de diferentes animais. 

Dando a entoação certa e deixando a criança explorar o livro e mexer nas abas, o interesse é garantido. Pelo meio da leitura, ainda aproveitamos para treinar a contagem, fazer a identificação de animais e explorar as cores de cada animal. 

Ler para uma criança não é só juntar as palavras e passa-lhe a mensagem. É deixá-la descobrir a magia das ilustrações, responder a perguntas que ela vai fazendo porque vê alguma coisa interessante ou porque fica curiosa. 

Do mesmo autor, já foi publicado A orquestra do bacio, um livro que tem estado esgotado nas livrarias online. Acredito que também poderá ser uma boa introdução do desfralde na realidade da criança. 

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Opinião | "A última vítima" (Rizzoli & Isles #10) de Tess Gerritsen

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A última vítima de Tess Gerritsen não desiludiu. Correspondeu às elevadas expetativas que eu associo a este escritora. Narrativas bem construídas; acontecimentos bem encaixados, numa sequência coerente e que me aguçou a curiosidade; e sem margem para conseguir descobrir a pessoa culpada pelo crime nem as explicações para o mesmo acontecer. Posso desenvolver mil e uma teorias, mas nunca consigo chegar ao verdadeiro desfecho do livro. Tudo isto continuou a fazer parte deste livro. 

É muito complicado falar deste género de livros sem revelar demasiado. Tenho de me ficar pelo geral, caso contrário poderei estragar a experiência de leitura de quem se atreve a ler estes livros. O que posso reforçar é a qualidade do enredo, o aparecimento de personagens envolvidas na situação criminosa que surgiram em livros anteriores e todo o mistério associado a um colégio privado isolado de tudo (o que dá um toque bastante negro à ação narrativa). 

Ao mesmo tempo que se mergulha numa história complexa e com contornos angustiantes, é possível acompanhar um pouco do quotidiano das personagens residentes. Jane continua a braços com os problemas familiares associados ao casamento dos seus pais. Por sua vez, Maura apresenta-se mais reflexiva relativamente à sua vida amorosa e parece necessitar de uma mudança para algo mais concreto. Ela é uma mulher concreta, objetiva e esta ambivalência da sua vida amorosa não combina com a personalidade que ela nos tem demonstrado. Ela tem consciência disso e deixa no ar esta sensação de necessidade de uma resolução. Talvez no próximo livro da série hajam novidades relativamente a este aspeto. 

É uma série que eu recomendo imenso. É notória a qualidade da escrita, o cuidado na construção das histórias e das personagens que lhe dão corpo e são detentoras de uma boa dose de suspense. Para quem gosta de thrillers, acredito que esta é uma das escritoras essenciais. 

 Já leste algum livro desta série? O que mais te apaixona nestes livros?

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Opinião | "Intervenção psicológica em ludoterapia" de Raíssa Santos

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Depois de mais um conjunto de dias em silêncio, estou novamente de volta com as opiniões. O meu objetivo é não deixar opiniões de livros lidos em 2022 para 2022. Tenho muitas opiniões para publicar e partilhar, por isso, este mês, vou tentar publicar mais para conseguir cumprir o meu objetivo.

Hoje trago uma partilha de um livro técnico. Acredito que este livro só terá interesse para psicólogos(as) que fazem intervenção psicológica com crianças. Se for esse o teu caso, recomendo muito esta leitura. Aqui vais encontrar informação que te permitirá conduzir sessões de ludoterapia e explorar as interpretações desta forma de intervenção. 

Apesar de estar afastada formalmente da prática clínica, gostei muito de ler este livro e descobrir mais sobre uma técnica que usava com alguma frequência com crianças. Foi uma forma de renovar conhecimento e aproximar-me um pouco da prática clínica. É um livro onde um conjunto de informações teóricas estão bem sintetizadas e são complementadas com aspetos práticos que são essenciais para quem pretende utilizar esta técnica. 

É um livro de fácil compreensão que poderá ser uma mais-valia para os(as) profissionais.

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Opinião | "Pessoas altamente sensíveis" de Elaine N. Aron

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Os livros de não ficção têm feito parte deste meu ano literário. Tem sido muito bom fomentar o meu gosto por livros mais técnicos e que acabam por me trazer mais conhecimento dentro de áreas que são do meu interesse.

"Pessoas altamente sensíveis" é um livro escrito pela psicóloga Elaine N. Aron e resulta da sua pesquisa de muitos anos sobre um tipo de personalidade que é pouco compreendido pela sociedade atual. Neste livro, Elaine aborda as características das pessoas altamente sensíveis (PAS), refletindo sobre a forma como estas pessoas interagem com o mundo que as rodeia, nomeadamente, no domínio pessoal, profissional e relacional. Com uma escrita muito acessível e com exemplos concretos, o livro oferece conhecimento científico acessível a qualquer pessoa que experimente ler o livro. 

Nestas páginas, Elaine reúne os resultados da investigação que foi desenvolvendo ao longo dos anos. O seu objetivo sempre passou por dar significado a um tipo de personalidade pouco estudado e pouco valorizado. Aliás, posso dizer que acho mesmo que é ignorado por população em geral e pelo profissionais da psicologia. Partindo do seu interesse pessoal, procurou reunir informação científica válida capaz que lhe permitisse traçar um perfil das PAS. Na identificação deste perfil, Elaine apresenta as características de personalidade mais comuns. Além deste trabalho, o conhecimento profundo que foi desenvolvendo, permitiu-lhe identificar as dificuldades que as PAS sentem no seu quotidiano e apontar aspetos para que as pessoas possam ultrapassar situações que fragilizaram e fragilizam a sua saúde mental, nomeadamente, a psicoterapia. Neste ponto o livro é muito claro, nem sempre conseguimos ultrapassar situações complexas da nossa vida e, por isso, a psicoterapia torna-se essencial. E eu reforço, o livro e a leitura do mesmo não permite que as pessoas ultrapassem traumas complexos e ultrapassem o sofrimento psicológico intenso (sofrimento que interfere negativamente na nossa qualidade de vida).  

Eu identifiquei-me muito com o que estava descrito neste livro. Revi-me em muitas das características apontadas por Elaine. Tudo fez sentido para mim.
É muito complicado ser-se introvertida, introspetiva e PAS numa cultura altamente extrovertida e virada para o exterior. Quando tenho de explicar como sou a alguém, costumo dar o exemplo de uma bateria de telemóvel. Eu sou uma bateria que vai perdendo energia com cada interação social que tem. Quando a minha "bateria" se esgota, tenho uma enorme necessidade de estar sozinha, em silêncio e com o mínimo de estimulação possível.

É extremamente complicado explicar isto às pessoas extrovertidas. Como é que explicamos a alguém completamente virado para o exterior e cheio de energia eletrizante, que tenho necessidade de estar comigo própria, que gosto de me perder nas minhas introspeções e dilemas, que preciso de silêncio? Não é um capricho, não é egoísmo; é pura necessidade emocional e pessoal. É a única forma de recarregar a minha "bateria" para mais um dia, muitas vezes em constante interação com os outros.

Este livro explica muito bem as necessidades das pessoas que detêm estes traços. Neste sentido, considero que é um livro que deve ser livro por pessoas PAS, pois permite dar significado às vivências e às características que são incompreendidas pelos demais; e por pessoas não PAS, para que consigam compreender e aceitar as necessidades das PAS.

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Opinião | "Olá, Sapo" de Agnese Baruzzi , Gabriele Clima

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Este ano tenho tido mais interesse por livros infantis. Ter uma afilhada que começa a desenvolver o bichinho pelas histórias e que as pede como presentes tem-me obrigado a investir mais neste universo.

"Olá, Sapo!" foi um livro que lhe ofereci na Páscoa. A escolha recaiu neste livro porque ela adora "papos" (a forma como ela diz sapo). Foi dos primeiros animais que ela aprendeu. 

O livro tem ilustrações lindíssimas. Permite a exploração sensorial e a descoberta de elementos da natureza. A história é simples, mas extremamente cativante. É explorado o ciclo de vida de um sapo, o seu processo de metamorfose e a forma como vivem na natureza. 
Assim, toda a experiência de leitura vai muito além da leitura do texto. Contam-se os sapinhos que estão no lago, a lua que aparece e o sol que aquece as costas dos sapinhos bebé. Contamos os sapinhos bebés e as patas que vão aparecendo. Reconhecemos os perigos e conseguimos fugir para um lugar seguro. 

Assim, através da leitura temos explorado conceitos a contagem e os afetos que unem os seres vivos.

Já lhe li o livro imensas vezes. Tantas que ela já consegue completar algumas frases e sabe o texto de algumas partes. 

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Opinião | "A grande solidão" de Kristin Hannah

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Até ao momento, este foi o melhor livro que li em 2022. Já muito tinha lido sobre o encanto que as obras de Kristin Hannah têm nos leitores, mas eu continuava um pouco resistente a pegar nos livros da escritora.

Cruzei-me com este na biblioteca e decidi trazê-lo para ver como corria a leitura. Ainda bem que o fiz!! A grande solidão ficou-me entranhada na alma. Não sei se foi o sofrimento palpável pelo qual as personagens passaram; ou se o silêncio do Alasca e as suas particularidades de ambiente mais introvertido, reservado, único e muito próximo das características da minha personalidade que me aproximaram desta narrativa. Terminei a leitura em abril e ainda hoje não consigo definir com clareza o quão este livro mexeu com as minhas emoções e sentimentos. Só sei que ainda hoje me recordo da Leni e das suas lutas; o Matthew e a sua doçura; da coragem de Cora e da resiliência e união de uma comunidade capaz de fazer pela vida daqueles que acolhe.

Para mim, comunidade é uma palavra essencial nesta história. Poderia falar do stress pós traumático, da violência doméstica, de adolescentes com dificuldades em inserir-se num determinado ambiente... Todos eles temas importantes e retratados no livro de forma magistral. Contudo, foi o conceito de comunidade e a importância que ele ganhou na narrativa o que se destacou aos meus olhos. Uma comunidade que acolheu a família de Leni e a protegeu sempre que conseguiu. Infelizmente, as marcas profundas do sofrimento criam brechas de dúvida, incerteza e interferem nos níveis de confiança que possamos desenvolver. Leni e Cora sentiram esse fio de dúvida e tomaram opções pensaram ser a melhor forma de se protegerem.

O Alasca tornou-se magia perante os meus olhos. Kristin materializou em palavras as paisagens, as auroras boreais, o frio cortante e preenchido de neve, os longos dias de verão a preparar o próximo inverno enchendo a despensa de mantimentos. As descrições destes locais nas diferentes estações do ano são soberbas e oferecem um toque muito especial a este livro. É a solidão do Alasca que serve de metáfora à solidão interna das personagens. Foi soberba a forma como tudo se articulava, conferindo um toque muito especial a todos os acontecimentos que foram surgindo ao longo do livro. 

Quero ler mais livros desta escritora e sentir tudo o que me for possível sentir. Quero mais histórias que me arrebatem a alma e me deixem com vontade de saltar para aqueles cenários e abraçar o sofrimento de corações bons. 

Já leste outros livros da escritora? Indica-me outro onde posso viver todas estas sensações. 

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Opinião | "A doçura da chuva" de Deborah Smith

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Tal como em 2021, quis começar 2022 com um livro positivo. E o que é para mim um livro positivo? É um livro com uma história que conjugue elementos como empatia, resiliência, superação, respeito, amor e onde me seja garantido um final feliz. Até agora, sei que Deborah Smith me consegue oferecer histórias que reúnem este tipo de ingredientes. Por esta razão, voltei a escolhê-la para primeira leitura do ano. 

Em A doçura da chuva conheci Kara, uma jovem que cresce no seio de uma família de classe alta. Os seus pais, apesar da comodidade económica, possibilitaram-lhe vivências extraordinárias e fora do que era esperado para as meninas da sua condição. A morte dos pais traz-lhe um conjunto de revelações que a obrigam a ir em busca da sua própria história. E ela parte, alimentada pela incerteza do que vai encontrar e pelo entusiasmo de estar a viver algo por ela própria. 

Kara é jovem, muito defensora dos animais, vegetariana e muito destemida. Acaba numa quinta habitada por pessoas que lhe roubam o coração e lhe mostram um lado muito puro do amor. 

Neste livro, a grande personagem é a diferença. Cada passagem, cada acontecimento pretende ilustrar a capacidade do ser humano viver bem com as suas limitações quando tem o apoio e o suporte das pessoas certas. As limitações cognitivas não devem impedir os humanos de dar e receber amor. Aliás, este livro mostra o quão puro pode ser o amor que brota do coração de cada uma das personagens acolhidas pelo Ben Thocco. 

Há beleza no amor e nas histórias que suportam este livro. Há resiliência, há luta, há amizade genuína e tudo isto se transforma em emoções positivas que consegui sentir ao longo da leitura. Além destas características, o livro ainda tinha passagem muito cómicas que me divertiram imenso. Ri muito com as (des)aventuras destas personagens tão únicas, tão genuínas.

É certo que esta escritora segue uma fórmula muito própria na construção das suas histórias. Devido a estas características, não dá para ler os seus livros de forma muito seguida. Acredito que fazendo leituras espaçadas, estes livros não enjoam e não aborrecem. Ler um livro por ano tem funcionado comigo.

O meu final feliz foi garantido e isso semeia em mim a energia boa que preciso para começar o ano com um bom astral. Este tornou-se o meu livro preferido da escritora.

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Opinião | "Até os comboios andam aos saltos" de Célia Correia Loureiro

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"Até os comboios andam aos saltos" é o espelho da coragem de uma jovem adulta que passa para o papel os pensamentos e as emoções mais íntimas. Ler estas páginas e ver a alma da Célia a despir-se de filtros e da desejabilidade social. É trazer para estas páginas aquilo que realmente sente, sem o medo de ferir a suscetibilidade de quem a lê. Avançar despida deste medo, é coragem. E eu sentia em cada relato que expunha as suas relações mais profundas. 

Como escrever sobre um livro que é o espelho de uma alma humana? Como colocar em palavras todos os pensamentos que me atravessaram a mente enquanto acedia ao interior da Célia? É difícil!! Qualquer coisa que eu possa escrever acerca de tudo isto é injusto. São as vivências de uma pessoa, são as dores físicas e emocionais de gentes reais, são pensamentos que moldam a personalidade de uma pessoa que eu admiro.

O meu primeiro contacto com a Célia foi em 2015 (se a memória já não me está a falhar) e cheguei até ela pelas mãos de outra escritora que me indicou como leitora beta. E, assim, o primeiro livro que leio da Célia é "Uma mulher respeitável" ainda antes deste livro nascer fisicamente. Depois desta experiência fui lendo tudo da Célia. Adorei a escrita e a maturidade com que ela construía enredos e personagens. "Até os comboios andam aos saltos" ajuda a compreender de onde vinha a maturidade dela e como é que ela conseguia entrar na mente das suas personagens de forma a fazer sobressair universos emocionais credíveis, complexos e multidimensionais. A vida e as pessoas com quem se cruzou obrigaram-na a desenvolver essa maturidade que ela tão bem direcionou para as suas histórias. 

Este livro é um diário intimista, com relatos duros e crus. Não há filtros que dourem os pensamentos e as relações que vão sendo apresentadas. Os alicerces relacionais são frágeis e  a Célia vive imensa num conjunto de fatores de risco que deixam vulnerável. Os avós são proteção e neste livro está subjacente o quanto ela se agarrou a eles para fintar caminhos de risco. Conhecemos a disfuncionalidade que se adensa e transforma, mas que nunca interfere na lucidez da Célia. Isto é admirável. 

Eu já tinha um enorme respeito pela Célia, posso até dizer admiração dado que conheço alguns acontecimentos da vida dela. Este livro aumentou a minha empatia para com ela e admiração pela sua coragem em fazer diferente e em quebrar os padrões disfuncionais que ela conheceu. 

Sei que há aqui um toque ficcional que é essencial para nos deixar na dúvida e não quebrar uma espécie de encanto que caracteriza este livro. Em alguns momentos acho que consegui perceber quando estava perante um elementos de ficção. Nestas partes, senti a falta da profundidade emocional que tão bem contextualiza alguns momentos cruciais do livro. 

Estive para não atribuir estrelas a este livro. Estava a fazer-se confusão classificar a dor humana, as vivências singulares de uma pessoa comum. Após alguma reflexão, decidi que poderia classificá-lo com base na coragem exposta e na forma como as palavras são capazes de ilustrar emoções. E, assim, nascem as cinco estrelas bem merecidas.

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Opinião | "Conta-me o teu segredo" de Dorothy Koomson

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Cá continuo na saga de partilhar as opiniões de livros que li em 2021. Poderia deixar de as publicar, mas não me faz sentido deixar de partilhar só porque foram lidos o ano passado. Peço-te mais um pouco de paciência com a enchente de publicações, mas quero deixar tudo alinhado para me dedicar ao conteúdo deste ano.

Os livros mais recentes de Dorothy Koomson representam um afastamento do seu estilo inicial. Os mais recentes têm alguns contornos que os aproximam mais do género thriller/suspense. Independentemente do género pelo qual a escritora opte, eu gosto quase sempre dos seus livros. Gosto da escrita, dos bons diálogos e da forma como ela consegue colocar em palavras as várias tonalidades da essência humana. 

O assassino da venda é o elo de ligação entre a voz narrativa de Pieta e a voz narrativa da Jody. Uma é jornalista, a outra é inspetora da polícia. As vivências pessoais de cada uma delas cruzam-se no presente, mas é no passado que se começa a delinear aquilo que as une na atualidade. O assassino da venda deixou marcas na vida destas duas mulheres e é essa pessoa que as vai levar por novos caminhos.

Jody tem uma necessidade pessoal de encerrar o caso e dar descanso aos fantasmas que as atormentam. A Pieta só quer que os seus fantasmas permaneçam no lugar onde ela os decidiu encerrar há muito tempo. São duas posições antagónicas que geraram conflitos e adensaram a narrativa. Foram também estas posições que possibilitaram o crescimento das personagens e um melhor reflexo daquilo que eram as vulnerabilidades de cada uma delas. Além disso, a partir daqui que novas informações sugiram com o avançar da narrativa. 
Alguns aspetos eram previsíveis, mas a escritora conseguir criar bons pontos de tensão e interrogação no leitor. Assim, apesar de eu já desconfiar de algumas coisas relacionadas com Pieta, o meu interesse na narrativa manteve-se. Isto aconteceu porque a minha maior motivação era aceder ao universo emocional desta personagem. 

Para mim, o ponto forte do livro está relacionado com a tentativa da autora em desmistificar o papel de vítima.
Há fatores de risco que aumentam a vulnerabilidade de uma pessoa e, consequentemente, fazem disparar a probabilidade de se ver envolvida em determinadas situações de risco e/ou perigo. Por exemplo, ser-se mulher aumenta a probabilidade de ocorrência de situações de abuso sexual; um bebé com um temperamento mais difícil aumenta o risco para a ocorrência de situações de maltrato ou negligência. É com base nos fatores de risco que, muitas vezes, se constrói o perfil da vítima. 
Porém, é essencial que haja sentido crítico e abertura para entender e assimilar situações que se possam afastar destes perfis.

Dorothy Koomson expõem esta situação de uma forma muito compreensiva. Além disso, foi capaz de construir cenas que sensibilizam para a importância de não nos agarrarmos àquilo que são os "típicos" perfis de vítima. 
Foi a primeira vez que me cruzei com esta abordagem nos livros. Considero que o assunto foi bem abordado, quer pelo lado das vítimas, expresso no receio de pedir ajuda policial pois sentiam que as suas queixas seriam ignoradas; quer pelo lado das autoridades/pessoas próximas da personagem que desvalorizavam os pedidos de ajuda por não acreditarem nas histórias nem no estatuto de vítima associado àquela pessoa. 
É muito importante termos consciência dos fatores de risco que aumentam a vulnerabilidade humana, pois são eles que ajudam a delinear intervenções dirigidas aos grupos que pretendemos capacitar e, também, facilitam a ativação de estratégias de apoio. No entanto, estes fatores de risco não devem ser olhados de uma forma inflexível, uma vez que ela nos pode cegar perante situações diferentes.  

O final é imprevisível e bastante surpreendente. Dificilmente me irei esquecer das reviravoltas que as realidades da Pieta e da Jody sofreram, bem como da revelação do assassino da venda.

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