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Por detrás das palavras

Opinião | "A máquina de fazer espanhóis" de Valter Hugo Mãe

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Estou de volta (ou pelo menos a tentar voltar à medida das minhas capacidades)! São muitas as opiniões que tenho em atraso e quero muito partilhar contigo. Vou aos poucos, em pequenos passos, tentando regressar aos posts com alguma regularidade. 

A máquina de fazer espanhóis foi uma leitura de julho. A minha segunda experiência com Valter Hugo Mãe, que correu bem melhor do que a primeira. 
Este livro é um retrato da velhice. Dos lutos que a idade traz e das transformações que fragilizam a saúde psicológica.

Foi uma narrativa muito realista, onde a vida num lar de idosos foi apresentada ao leitor de forma muito própria. As amizades e as zangas; o espelho de um dia a dia que, por vezes, se arrasta e onde um grupo de idosos de espírito livre procura dar sentido aos seus dias e curar as marcas das perdas que só a velhice oferece. 

Apesar de um toque ligeiro de humor, li esta história com alguma tristeza. A forma como se descartam os mais velhos, a pouca valorização que lhes é dada e a triste realidade de quem vive num lar por imposição de outros foram aspetos que me deixaram muito pensativa. Fizeram-me pensar na minha realidade e na forma como escolho olhar para a velhice. 

Valter Hugo Mãe assume um estilo de escrita muito próprio, seguindo as duas próprias regras gramaticais. No início foi algo que me incomodou um pouco, com o avançar da leitura e o meu envolvimento com a história esse desconforto dissipou-se. Além destes elementos, destaco a escrita poética que dá um toque ainda mais bonito ao livro.

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Opinião | “Quando o sol brilha” de Rui Conceição Silva

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Desde o momento em que aprendi a diferença entre o contar e o demonstrar que a leitura se tornou diferente para mim. Esta aprendizagem permitiu-me olhar para a histórias de outra forma e perceber melhor o porquê de alguns livros não funcionarem comigo.

Quando o sol brilha fez-me perceber a importância do demonstrar para que uma história ganhe dimensionalidade para mim. É verdade que parti para a leitura com expetativas bastante elevadas. As pontuações e opiniões do Goodreads sugeriam uma boa leitura.  Contudo, logo nas primeiras páginas senti que iria ter pela frente uma leitura exigente e que estava longe das promessas que antevi no Goodreads.

Como deves perceber pelo meu primeiro parágrafo, este livro revela algumas fragilidades estruturais. O contar é aquilo que domina o livro e pouco espaço sobre para o demonstrar. As páginas em estilo relato sucedessem-se umas às outras. Pelo meio surgem diálogos, por vezes, artificiais; contruídos através de frases feitas que não representam as personagens deste livro. Não são frases de gente simples, de um Portugal demasiado rural e a sair de um período de ditadura que o desgastou. Há excesso de purple prose que torna a leitura frustrante e onde me arrastei na esperança de que as coisas melhorassem.

Outro problema do livro é o seu foco, o seu objetivo. A minha sensação é que o escritor quis abraçar o mundo e acabou por se perder nele. As temáticas são flutuantes, os acontecimentos sucedem-se uns aos outros e os conflitos não são esgotados de forma a dar um propósito e uma orientação clara à história e às suas personagens. Temos um livro cujo início se centra quase em exclusivo na dinâmica de uma aldeia e das pessoas que lá vivem; depois aflora-se a história de Felismino e Alice, sem se aprofundar verdadeiramente as emoções e os acontecimentos; seguem-se as tragédias de Edmundo, um homem simples que gosta de ler, muito contadas e pouco demonstradas.

Sendo uma narrativa cuja a ação decorre, maioritariamente, na década de 70, está demasiado despedia de contextualização Histórica. De referências que levem o leitor para aquele espaço, para aquele tempo e para aquele lugar. No final, elas aparecem de forma mais vívida, mas em grande parte do livro senti que poderia ser uma história passada numa qualquer aldeia do interior nacional na década de 90.

Há uma enorme miscelânea de assuntos que o livro aborda: demência, luto, alcoolismo, saúde mental. Apenas faltou uma abordagem que esgotasse estes assuntos de uma forma mais realista e, no caso da saúde mental, mais respeitável e verdadeira. Na fase final do livro, há um conjunto de páginas cujo foco é a saúde mental. Confesso que a forma como o assunto foi tratado me revoltou. Achei as cenas pouco coesas e que ilustravam pouco o que era ser doente mental na década de 70.

Além da saúde mental, há outro aspeto do comportamento de Edmundo que me pareceu demasiado normalizado. Não quero entrar em pormenores para não deixar spoilers, mas não achei o comportamento coerente com a situação nem com a personagem em questão.

Desta leitura irei guardar a ruralidade presente em muitos dos momentos do livro. Viver num universo rural permitiu-me identificar com alguns aspetos e situações do livro. Há passagem que me remetem para as histórias que os meus avós, os meus pais e amigos da família partilhavam de como era viver numa aldeia mais interior nas décadas de 70 e 80.

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Opinião | "Ligação" (Saga Anjos Negros #1) de Soraia Pereira



Opinião

É sempre muito bom descobrir autores Portugueses, principalmente quando são jovens autores cheios de ideias e com a criatividade a fervilhar em cada célula do seu ser. Soraia Pereira é uma dessas jovens escritoras cheia de vontade de colocar no papel todas as ideias que habitam na sua imaginação. Ligação é o seu primeiro livro e oferece-nos a história dos Anjos Negros, que são um grupo de vampiros simpáticos que protegem a humanidade.
 
Assim, numa escrita muito acessível (por vezes demasiado simplista e coloquial) permite-nos perceber muito bem todo o enredo que está por detrás dos guerreiros Anjos Negros e o grupo que por eles é perseguido, os Sombras. É de realçar positivamente as descrições apresentadas acerca destes dois mundos, uma vez que permite ao leitor aceder facilmente à tipologia de seres sobrenaturais que a Soraia nos traz.
 
Relativamente às personagens, por incrível que pareça, não foram as principais que despoletaram em mim maior curiosidade. Leonardo e Jessica, o casal central do livro, apaixonam-se demasiado depressa. Não houve tempo para criar um ligação mais sólida e conhecer-mos mais sobre cada um deles. Jessica tem um história interessante que poderia ter sido mais esmiuçada. Leonardo, por vezes tem atitudes um pouco infantis, mas isso  também acontece um pouco com a Jessica.    

As personagens que me deixaram mais curiosa para os próximos livros são A'larick e Caliel. São ambas personagens que deixam transparecer algum mistério que nos deixa com a curiosidade em pulgas. Será que nos próximos livros teremos mais informações sobre o espírito inquieto de A'larick e sobre a serenidade de Caliel (não sei porquê, mas sempre que ela aparecia no livro sentia uma certa onda de paz e serenidade). 

Um outro aspecto que achei positivo foi o tom humorístico de alguns diálogos. 
Apenas faltou uma enredo mais sedutor, em que os acontecimentos fossem mas esmiuçados e os temas que eles envolvem tratados de forma um pouco mais profunda.

Foi um bom começo para Soraia e para a sua escrita. Atenção que deixa-nos um final completamente em suspenso!! Quando lá chegamos só pensamos: O quê vamos ficar aqui sem saber o que se passa? Pois, mas ficam... Têm de aguardar pelo próximo capítulo!!!

Para adquirirem o livro e saberem os aspectos que estão por detrás da criação de alguns aspectos do livro consultem o blog da autora aqui: http://soraiamspereira.blogspot.pt/.

Deixem-se invadir pelas palavras!!

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