Foi com grandes expetativas que iniciei a leitura do livro Boneca de trapos. Tinha lido boas opiniões em relação ao livro e recordo-me que na altura do seu lançamento, a editora apostou numa divulgação bastante original. No fundo, tinha aqui um conjunto de elementos que despertaram o meu interesse relativamente ao livro.
Este livro tem um ponto que considero diferenciador. Há uma lista com as vítimas e os agentes da polícia entram numa corrida contra o tempo para tentar evitar as diferentes mortes anunciadas. Assim, mais do que saber como cada uma destas pessoas iria morrer, o meu interesse estava muito relacionado com os aspetos que interligavam cada uma destas pessoas e os motivos que levaram a que elas entrassem na mira de um assassino.
William Fawkes é um polícia com uma personalidade peculiar e que traz um densidade especial à história. Não simpatizei com ele, senti-o como uma personagem demasiado arrogante e com uma teimosia que se atravessou na minha mente.
Relativamente à minha experiência de leitura, esta foi um pouco estranha. Houve momento em que li de forma compulsiva e tinha uma verdadeira vontade de desvendar o crime; e depois passei por partes de leitura que me deixaram aborrecida, em que senti que as coisas não avançavam. No fundo, senti que a história tinha partes interessantes e que contribuíam para o bom desenvolvimento da história, e outras que as senti como uma necessidade de encher espaço na história.
O final foi surpreendente. Não esperava aquele desfecho. E este foi um ponto positivo para o livro, oferecendo um culminar inesperado para todo o processo criminal que fui conhecendo ao longo da leitura. Apesar de não ter sido uma leitura fenomenal ficou a vontade de dar continuidade à série.
Estou de volta (ou pelo menos a tentar voltar à medida das minhas capacidades)! São muitas as opiniões que tenho em atraso e quero muito partilhar contigo. Vou aos poucos, em pequenos passos, tentando regressar aos posts com alguma regularidade.
A máquina de fazer espanhóisfoi uma leitura de julho. A minha segunda experiência com Valter Hugo Mãe, que correu bem melhor do que a primeira. Este livro é um retrato da velhice. Dos lutos que a idade traz e das transformações que fragilizam a saúde psicológica.
Foi uma narrativa muito realista, onde a vida num lar de idosos foi apresentada ao leitor de forma muito própria. As amizades e as zangas; o espelho de um dia a dia que, por vezes, se arrasta e onde um grupo de idosos de espírito livre procura dar sentido aos seus dias e curar as marcas das perdas que só a velhice oferece.
Apesar de um toque ligeiro de humor, li esta história com alguma tristeza. A forma como se descartam os mais velhos, a pouca valorização que lhes é dada e a triste realidade de quem vive num lar por imposição de outros foram aspetos que me deixaram muito pensativa. Fizeram-me pensar na minha realidade e na forma como escolho olhar para a velhice.
Valter Hugo Mãe assume um estilo de escrita muito próprio, seguindo as duas próprias regras gramaticais. No início foi algo que me incomodou um pouco, com o avançar da leitura e o meu envolvimento com a história esse desconforto dissipou-se. Além destes elementos, destaco a escrita poética que dá um toque ainda mais bonito ao livro.
Até ao momento, este foi o melhor livro que li em 2022. Já muito tinha lido sobre o encanto que as obras de Kristin Hannah têm nos leitores, mas eu continuava um pouco resistente a pegar nos livros da escritora.
Cruzei-me com este na biblioteca e decidi trazê-lo para ver como corria a leitura. Ainda bem que o fiz!! A grande solidão ficou-me entranhada na alma. Não sei se foi o sofrimento palpável pelo qual as personagens passaram; ou se o silêncio do Alasca e as suas particularidades de ambiente mais introvertido, reservado, único e muito próximo das características da minha personalidade que me aproximaram desta narrativa. Terminei a leitura em abril e ainda hoje não consigo definir com clareza o quão este livro mexeu com as minhas emoções e sentimentos. Só sei que ainda hoje me recordo da Leni e das suas lutas; o Matthew e a sua doçura; da coragem de Cora e da resiliência e união de uma comunidade capaz de fazer pela vida daqueles que acolhe.
Para mim, comunidade é uma palavra essencial nesta história. Poderia falar do stress pós traumático, da violência doméstica, de adolescentes com dificuldades em inserir-se num determinado ambiente... Todos eles temas importantes e retratados no livro de forma magistral. Contudo, foi o conceito de comunidade e a importância que ele ganhou na narrativa o que se destacou aos meus olhos. Uma comunidade que acolheu a família de Leni e a protegeu sempre que conseguiu. Infelizmente, as marcas profundas do sofrimento criam brechas de dúvida, incerteza e interferem nos níveis de confiança que possamos desenvolver. Leni e Cora sentiram esse fio de dúvida e tomaram opções pensaram ser a melhor forma de se protegerem.
O Alasca tornou-se magia perante os meus olhos. Kristin materializou em palavras as paisagens, as aurorasboreais, o frio cortante e preenchido de neve, os longos dias de verão a preparar o próximo inverno enchendo a despensa de mantimentos. As descrições destes locais nas diferentes estações do ano são soberbas e oferecem um toque muito especial a este livro. É a solidão do Alasca que serve de metáfora à solidão interna das personagens. Foi soberba a forma como tudo se articulava, conferindo um toque muito especial a todos os acontecimentos que foram surgindo ao longo do livro.
Quero ler mais livros desta escritora e sentir tudo o que me for possível sentir. Quero mais histórias que me arrebatem a alma e me deixem com vontade de saltar para aqueles cenários e abraçar o sofrimento de corações bons.
Já leste outros livros da escritora? Indica-me outro onde posso viver todas estas sensações.
Já me tinha cruzado com opiniões muito boas a este livro. Por isso, andava com uma enorme curiosidade de conhecer a escrita de Baldwin e a história que ele se propunha a contar. Após a leitura, posso dizer que o balanço é muito positivo e ficou a vontade de conhecer mais obras do escritor.
Se esta rua falasse guarda uma história onde a luta pela liberdade assume um papel fundamental ao longo do livro. É mais do que a liberdade que se adquire ao sair da prisão, é a liberdade para ser. É a história de um grupo de pessoas que luta para se sentir livre para ser. Fonny e Tish só queriam ser eles próprios, viver o amor que os unia e não incomodar ninguém.
O racismo, o preconceito e xenofobia ganham terreno nesta história e condenam a liberdade de Fonny e Tish. Foram impedidos de viverem num meio onde a cor da pele era um fator a ter em consideração no trabalho da polícia. A leveza da escrita e a sensibilidade que Baldwin oferece à sua obra funcionam como um balsamo para a dureza daquilo que ele escolhe contar. É duro ver o desespero da Tish. É revoltante ver a injustiça oferecida de forma deliberada a Fonny. Cada página de um presente no passado, reflete a atualidade. A intolerância, a insegurança e a forma fácil como se decide tecer um julgamento tendo por base ódios pessoais sem qualquer fundamento são demasiado reais e demasiado atuais. É angustiante perceber que o lado mais negro do ser humano não sofreu grandes alterações ao longo do tempo. Este livro é ideal para se refletir e discutir sobre violência, descriminação, luta pela liberdade e resiliência.
Enquanto deambulei pelo sofrimento atual deste jovem casal, esta história ainda me ofereceu o lado negro da infância de Fonny. Apesar de todas as dificuldades que a vida lhe foi impondo, a resiliência deste jovem é verdadeiramente inspiradora.
É um livro cheio de conteúdo apesar de ter um pouco menos de 200 páginas. A minha leitura foi lenta; não porque não tivesse vontade de ler, mas sim porque a minha vida anda a intrometer-se nas minhas leituras. A minha disponibilidade mental para ler não tem sido muita e por isso leio menos e mais devagar. Por um lado é chato arrastar as leituras ao longo de vários dias (muitas vezes semanas), por outro permite-me absorver as coisas de forma mais consistente. Senti muito isto com Se esta rua falasse. A leitura mais lenta permitiu absorver melhor estes conteúdos e permitiu-me pensar sobre eles.
Já há muito tempo que queria experimentar um livro de Agustina Bessa-Luís, mas faltava-me a coragem. O medo de não gostar, a sensação de que seria um livro difícil de compreender e ter no pensamento a ideia de que seria um livro demasiado erudito e incompreensível eram motivos que ia dizendo a mim própria e que me iam impedindo de ler o livro.
"A sibila" é a história de Quina. Um mulher com infância dura vivida em ambiente rural e numa época em que a pobreza se sentava à mesa com as famílias portuguesas. A criança deu origem a uma mulher estranha, dura e que fez frente à ditadura masculina que imperava por aquelas bandas. Confesso que isto foi o que mais gostei! Assistir à forma como Quina se tornou senhora das suas terras e do seu mundo foi apaixonante. Continua a ser uma mulher estranha para mim, porque acho que não conseguir aceder a todos os seus lugares interiores. Também me aborreceu um bocado com algumas das suas atitudes, mas tudo isto a tornou muito humana aos meus olhos. Uma personagem cuja complexidade se adensa à medida que se avança na leitura, daí continuar estranha aos meus olhos.
A partir de Quina entramos num mundo da gestão de terras, de amizades incomuns para época e de guerrilhas famílias muito típicas. É uma realidade que não se afasta muito dos tempos de hoje, mesmo vivendo no século XXI. Também hoje continua a ser estranho (para algumas cabeças, felizmente menos do que no tempo de Quina): uma mulher ser solteira, sem filhos e viver bem com isso; uma amizade entre uma mulher e um homem; e a gestão no feminino não merece a mesma valorização do que se fosse no masculino. Estes são os elementos que compõem a narrativa. Não há um problema específico para ser resolvido ou um conflito narrativo para ser explorado. O livro é uma narração de um tempo e de um espaço onde uma mulher vê a sua inteligência vingar, onde aparecem famílias e lugares, pessoas que se cruzam nos caminhos umas das outras. É uma história de vida, com poucos afetos à mistura e onde a a ruralidade e a rudeza de vidas se interpõem ao amor romântico.
Apesar de ter gostado, reconheço que não é um livro simples de ler. A escrita é complexa, a linguagem é trabalhada e com um vocabulário com palavras "caras" (fui ao dicionários algumas vezes). No meu caso, estas características apenas tornaram a minha leitura ligeiramente mais lenta, porque precisava de dar mais atenção às páginas que ia lendo. O interesse em ir descobrindo mais sobre Quina e as relações que ela estabelecia com a família e com os habitantes da aldeia sempre estiveram presentes enquanto ia lendo o livro.
Um comportamento que foi muito importante para mim durante a leitura deste livro foi ter períodos longos de tempo que me permitissem ler mais páginas de seguida. Foi importante para me apoderar da história. Comecei a ler o livro numa segunda-feira. Cheguei a sábado com 30 e poucas páginas lidas. Nessa tarde de sábado senti necessidade de recomeçar o livro, ler com mais calma e mais páginas. Li mais de 50 páginas, o que me permitiu entrar na dinâmica do livro e passar a semana a ler o restante e menos páginas por dia.
É um livro para todos os leitores? Talvez não seja. Um leitor com pouca experiência de leitura e muito habituado a ler livros mais simples com uma sequência narrativa muito demarcada (início - conflito - resolução do conflito - final) poderá não se sentir tão à vontade nesta leitura. Poderá mesmo ser frustrante. Para mim foi uma leitura extremamente contemplativa e de ir apreciando as pequenas passagens e momentos, e sei que isso não vai ao encontro do gosto de muitos leitores.
Desta leitura ficou a vontade de conhecer mais obras da Agustina Bessa-Luís. Espero ainda este ano ler outro livro dela, mais concretamente ando de olho em "Fanny Owen". Já leram? O que é que têm a dizer sobre ele?
Autor: Anne Frank Ano: 2002 Editora: Livros do Brasil Número de Páginas: 351 páginas Classificação: 5 Estrelas Desafio: De A a Z...
Sinopse
Anne era uma rapariguinha de uma família judaica de Francfort que se refugiou na Holanda para escapar às perseguições nazis. Invadido este país, a família esconde-se com outras pessoas num “anexo” de uma casa, onde, protegida por gente corajosa e dedicada, consegue viver largo tempo sempre no terror de ser descoberta. Acabou por sê-lo. E o diário de Anne foi encontrado por acaso num monte de papéis velhos. Anne veio a morrer no campo de concentração de Bergen-Belsen. Mas o diário que essa rapariguita escreveu é, na sua perspicácia e na sua desenvoltura adolescente, um documento, um autêntico documento humano – e, só pelo facto de existir, um protesto contra as injustiças do mundo em que vivemos.
Opinião
Este é daqueles livros que eu tinha vergonha de ainda não ter lido. Já me tinha cruzado com tantas boas opiniões acerca deste livro que não sei como é que deixei passar tanto tempo sem o ler.
Anne relata-nos aquilo que vivência ao longo do tempo em que está a viver no anexo. Partilha connosco as interpretações, muito bem construídas, acerca das situações e das relações que preenchem aquele espaço.
A vida num anexo, longe de tudo aquilo que faz o mundo girar, longe da natureza, longe de uma vida em liberdade, é descrita por Anne com uma clareza e uma riqueza interpretativa que está longe daquilo que se podia esperar de muitos adolescentes de 13 anos.
A forma como Anne interpreta e descreve as relações entre aqueles que vivem no anexo dá-nos indícios da maturidade e da capacidade de pensar de Anne. É fantástica a forma como ela nos dá a conhecer a sua família e os outros habitantes do anexo, assim como as relações que ela própria vai estabelecendo com cada um deles.
Apesar da situação difícil que todos vivem, Anne não deixa que o seu lado adolescente seja engolido pelas sombras da guerra. Não deixa o seu lado sonhador sucumbir e dedica-se à escrita e à aprendizagem dos mais variados temas, além disso procura saber sobre os artistas do cinema e sobre os filmes do momento. Ao mesmo tempo projecta-se num futuro longínquo imaginando-se diferente das mulheres que conhece.
Anne, uma jovem cheia de força e com uma enorme clareza de espírito, encanta qualquer leitor e é difícil não nos sentirmos tristes pela sua condição e pelos acontecimentos poucos felizes que se seguiram e que arrastaram todos os seus sonhos...
Autor: Miguel Sousa Tavares Ano: 2003 Editora: Oficina do Livro Número de páginas: 528 páginas Classificação: 5 Estrelas Desafio: Novos autores / Ler em Português de Portugal / De A a Z...
Sinopse
Quando, naquela manhã chuvosa de Dezembro de 1905, Luís Bernardo é chamado por El-Rei D. Carlos a Vila Viçosa, não imaginava o que o futuro lhe reservava. Não sabia que teria de trocar a sua vida despreocupada na sociedade cosmopolita de Lisboa por uma missão tão patriótica como arriscada na distante ilha de São Tomé. Não esperava que o cargo de governador e a defesa da dignidade dos trabalhadores nas roças o lançassem numa rede de conflitos de interesses com a metrópole. E não contava que a descoberta do amor lhe viesse mudar a vida.
Equador é um retrato brilhante da sociedade portuguesa nos últimos dias da Monarquia, que traça um paralelo entre os serões mundanos da capital e o ambiente duro e retrógrado das colónias.
É com esta história admirável, comovente e perturbadora, que Miguel Sousa Tavares inaugura a sua incursão no romance.
Opinião
Esta leitura foi o meu primeiro contacto com a escrita de Miguel Sousa Tavares e fiquei agradavelmente surpreendia com aquilo que encontrei nestas páginas. Desde já afirmo que não vi a série baseada nesta obra que foi produzida e emitida pela TVI (que pelo que me contaram está muito fiel ao livro), pelo que não tinha nenhuma ideia daquilo que poderia encontrar no livro, para além daquilo que a sinopse deixa antever.
Nestas páginas, a História de Portugal e as vivências portuguesas no início do século XX aparecem descritas de uma forma que nos possibilita imaginas todo o cenário daquela época. São páginas em que um pedaço da História de Portugal é oferecido aos leitores de uma forma bastante apelativa.
É nas primeiras páginas do livro que nos é apresentado o personagem central desta narrativa. Luís Bernardo Valença, um homem da cidade que cultiva os seus gostos pelos bailes, jantares... Um homem com opiniões bem definas acerca do clima político da época e que desde sempre se assumiu como anti-escravatura. É devido à sua posição em relação à escravatura que é convidado a assumir um cargo de governador numa das colónias portuguesas.
Aquilo que ele encontra não vai de encontro às suas convicções. É aqui que ele se vê envolvido em conflitos de interesses de ordem económica que tornam o seu percurso como governador penoso, difícil e solitário. É muito interessante ver que as descrições reflectem muito bem o antagonismo social entre a metrópole e a colónia de São Tomé e o quanto isso é desorganizador do equilíbrio mental que vai afectando Luís Bernardo.
David e Ann são um casal com um relevo bastante importante em todo o livro. David é colocado na ilha de São Tomé com uma missão muito específica. Ann, sua esposa, é uma mulher exageradamente bonita que ofusca a sociedade envelhecida da colónia. Por acaso, é uma personagem que nunca conquistou a minha simpatia. Desde o momento em que é narrada a sua história provocou em mim sentimentos negativos. Nunca achei que ele fosse capaz de amar alguém... De todas as suas atitudes, sempre a associe a uma mulher calculista, fria, interesseira e com um gosto particular pelas experiências sexuais. Acho que era este último aspecto que a fazia ter comportamentos muito específicos. Com ela penso que nada era por acaso. Cada um dos seus passos era bem medido e calculado... Infelizmente era suficientemente bonita e sedutora para ofuscar a clareza de pensamento dos homens a quem lançava o seu charme... Assim, nunca conseguiam ver a verdadeira Ann (embora ache que com o marido já não funcionava).
Confesso que cada uma das personagens revela uma boa construção por parte do escritor. São personagens complexas e bem definidas, que facilmente permitem ao leitor criar as suas opiniões e afinidades.
O final é surpreendente e do qual não estava particularmente à espera... Imaginei mil e um cenários possíveis para cada uma das personagens centrais mas nunca me passou pela cabeça que tal terminasse daquela forma. Confesso que, o único final que não achei merecido foi o de Ann... Ela merecia um castigo! Penso que o marido conhecia muito bem a esposa, mas estava tão cego de amor que fechava os olhos aos comportamentos dela. Mas não devia!!!
É um livro que recomendo. Apesar de ser muito descritivo (existe poucos momentos de diálogo) essa descrição só me aborreceu mais no início. Facilmente consegui entrar no ritmo e o aborrecimento desapareceu.
Autor: Isabel Allende Ano: 1994 Editora: Difel Número de páginas: 368 páginas Classificação: 3 Estrelas Desafio: Novos autores
Sinopse
Esta obra de Isabel Allende possui e prossegue duas qualidades essenciais à sua narrativa e ao seu estilo literário: a densidade e a intensidade. Sendo um representação do sofrimento e das memórias, Paula é um documento multi-biográfico, como de resto são em grande parte os seus outros romances, e neste se configura como uma viagem dupla em presença do estado comático da filha e da acumulação das experiências de outras dores, entremeadas de alegrias, da mãe. Paula é tanto um diálogo à cabeceira de uma doente clinicamente privada de consciência, como um solilóquio de grandeza e fragilidade, a tentativa de unir a ideia do amor como única ponte de salvação humana, à realidade do sofrimento tanta vez absurdo e indecoroso. Um livro que marca uma nova etapa, deslumbrante, na carreira de Isabel Allende.
Opinião Este foi o primeiro livro que li de Isabel Allende. É um livro tocante, reflexivo, emocional. Aqui encontramos uma mãe que utiliza as palavras para "imprimir" as angústias de um coração em sofrimento. Isabel Allende, a mãe em sofrimento, Paula, a filha que gradualmente se afasta do mundo terreno. Uma doença, porfíria, empurra Paula para o mundo da inconsciência e deixa todos aqueles que amam num terrível sofrimento.
Com este livro Isabel dá voz ao seu sofrimento e oferece ao leitor um dos relatos mais comoventes que já alguma vez li. Poderá ser um livro difícil de "digerir" caso o leitor esteja ou tenha passado por uma situação semelhante, uma vez que a riqueza das palavras oferece um relato vívido das emoções de uma mãe que, de um momento para o outro, vê a sua filha perder a vitalidade, a força de viver, o gosto pela vida.
Emocionei-me! Não estava à espera de uma escrita tão profunda. De um relato muito sentido e que nos deixa sem palavras para o descrever. Ernesto, o marido de Paula, demonstra um sofrimento igualmente comovente... Tão comovente que chegamos ao ponto de querer saltar para aquelas páginas e, simplesmente, abraça-lo no silêncio do seu sofrimento! Gostaria de ver mais do Ernesto nestas páginas para perceber melhor o nascimento da sua ligação com a Paula.
O aspecto que menos gostei no livro foi a confusão dos acontecimento. Isabel Allende não seguia uma sequência cronológica na narração dos acontecimentos que foram pautando a sua intensa vida! Por vezes, sentia-me um pouco perdida nos meandros das guerras civis, dos amores (im)perfeitos que marcaram o coração da escritora.
Não é fácil lidar com a morte de um filho. Porém, confesso que concordo com a atitude final de Isabel: ajudar a filha a morrer. No fundo, permitiu-lhe todas as condições para que ela morresse em paz e tranquila. Não é uma decisão fácil e está muito longe de reunir consenso. Mas, questiono-me diversas vezes o para quê de prolongar uma vida com mil e um tratamentos quando sabemos que não irão resultar? Pessoalmente, não gostaria de viver na inconsciência só porque as pessoas que gostam de mim querem que eu continue ali... Compreendo o lado delas, mas, ao mesmo tempo, não deixo de pensar que é existe uma certa pontinha de egoísmo nisto tudo.
Um livro que vale a pena ser lido pela profundidade emocional que transmite, pela introspecção que suscita no leitor...
Autor: Menna Van Praag Ano: 2010 Editora: Quinta Essência Número de páginas: 211 páginas Classificação: 2 Estrelas Desafio: Novos autores
Sinopse
Maya é uma mulher como tantas outras, que passa os dias a sonhar com uma vida perfeita, plena de amor, sucesso e prazer. Tenta encontrar o homem ideal e a tão desejada realização profissional, e afoga as desilusões comendo chocolate. Mas isto apenas faz com que se sinta vazia e perdida. É então que Maya conhece alguém misterioso e é levada a embarcar numa viagem espiritual para descobrir o que tem andado a perder durante toda a sua vida...
Uma fábula doce e comovente sobre o amor, a coragem e a revelação, Homens, Dinheiro e Chocolate desvenda o que pode acontecer quando se abre o coração aos segredos espirituais que o mundo material encerra. Esta história mostra-lhe sem se perder a si própria, encontrar um trabalho que preencha o seu espírito e apreciar chocolates como uma fonte de prazer e não de sofrimento.
Opinião Homens, Dinheiro e Chocolate é um livro pequeno e que se lê muito facilmente. Nestas páginas encontramos a vida de Maya, as suas tristezas, as suas frustrações, os seus sonhos e a forma como ela tentou virar a sua vida do avesso para conseguir sair do poço de infelicidade e de insatisfação em que se encontrava.
Penso que a autora deveria ter estendido mais a história. Tudo acontece demasiado rápido. O leitor nem tem tempo para absorver os acontecimentos anteriores que já está a ser encaminhado para uma nova fase da vida de Maya. Porque é que eu acho que esta não é a forma mais correcta para este livro? Pelos simples facto de dá a sensação ao leitor que podemos, muito facilmente, sair de uma situação e entrar numa nova situação. É tudo muito impulsivo, e um estado depressivo exige tempo para ser ultrapassado.
Quem pretender um romance muito leve e uma leitura rápida, este livro assume-se como uma boa opção de leitura. Um aspecto muito positivo são as receitas do final do livro. Pareceram-me bastante deliciosas e talvez experimente (prometo que depois mostro o resultado).