Quantos segredos podem ser escondidos por um grupo de adolescentes? Quanta maldade poderá caber num coração de um(a) adolescente? Sempre foram perguntas que me inquietaram e que me deixavam muito reticente em trabalhar com este grupo da população. Não lhes consegui escapar! Trabalhei com muitos adolescentes, mas, felizmente, cruzei-me com os adolescentes tipicamente (im)perfeitos. Tinham as suas nuances e níveis de maldade ajustados.
"Pura raiva" levou-me aos "meus" adolescentes e aos meus preconceitos relativamente a eles. Levou-me, também, a refletir sobre o lado mais negro da adolescência e de como pode ser determinante na formação da personalidade e no desenvolvimento pessoal. Os acontecimentos deste livro permitiram tais reflexões. Bons pontos de partida para pensar sobre de que forma um(a) adolescente se posiciona no seu grupo social e como é que todos à sua volta funcionam.
É um livro extremamente complexo, porque há teias de relacionamentos que se vão emaranhando. Confrontei-me com a confusão, a revolta, sentimentos de impotência por olhar para aqueles adolescentes e constatar quanto os pais podem andar adormecidos perante o comportamentos dos filhos. É normal haver segredos entre adolescentes. É normal os adolescentes não contarem tudo aos pais. O que deixa de ser adaptativo é os pais se desligarem da vida quotidiana dos seus filhos. Este história e este livro obrigam-nos a fazer este exercício e a olhar a fundo para os adultos que vão oferecendo alguns apontamentos. Numa história onde o preconceito, a transfobia e a maldade adolescente se unem numa linha narrativa com efeito crescente, tudo se torna emocionalmente explosivo é incapaz de provocar indiferença. É impossível olhar para esta história e não sentir o realismo dos acontecimentos.
Eu sei quanto os(as) adolescentes podem ser más pessoas. Também há adultos que continuam a olhar para estes comportamentos e a denominá-los de "coisas de miúdos(as)". Lamento, mas não são! Também há quem diga que sempre houve bullying, sempre existiram zangas entre adolescentes. Sim, é verdade. O problema é que a maldade tornou-se cada vez mais complexa.
Conjugando diferentes perspetivas, diferentes linhas de pensamento, Cara Hunter vai revelando a sua mestria na construção de um policial extremamente apelativo. Para além das personagens novas que inevitavelmente surgem nesta história, ela também nos permite conhecer mais sobre a vida das personagens residentes. E não havia melhor forma de terminar. Aquele final é uma "injeção" nervosa enquanto aguardamos o livro seguinte.
Suspense, diversidade de conteúdo (entrevistas, redes sociais), muitos becos sem saída bem desenhados para levar o leitor ao engano, surpresas e uma visão de todos os lados daquilo que pode ser a essência humana juntaram-se num livro que, para mim, é um dos melhores da série.
Curiosa(o) com este livro? Aconselho a ler por ordem. Apesar das histórias serem perfeitamente compreendidas sem a leitura dos anteriores, há aspetos importantes das personagens residentes que só conseguimos perceber se lermos os livros por ordem de publicação.
Cara Hunter tem uma forma muito pessoal de construir as suas histórias. Ela vai aos pormenores e oferece ao(à) leitor(a) uma experiência de leitura que o(a) aproxima dos acontecimentos de uma forma inexplicável. Nós estamos ali!
Podemos ver relatórios, entrevistas, notícias, opinião pública... Isto para mim faz a diferença porque dá um toque de originalidade ao livro. "Sem saída" apresenta-nos uma narrativa complexa. Está tão bem encadeada que me levou a meia dúzia de becos sem saída; ou seja, eu lá ia formulando as minhas teorias e a escritora trocava-me sempre as voltas.
Michael é o rosto de uma família destroçada. Um homem que liga as personagens e os acontecimentos. Foi ele o responsável pelas voltas e becos sem saída que iam passando pela minha mente. A minha ideia em relação a ele flutuou imenso ao longo da leitura. É engraçado que acho que isto só aconteceu porque a escritora fez um belíssimo trabalho de caracterização. Uma personalidade algo flutuante, conjugada com acontecimentos e conflitos certos permite um conjunto de sentimentos ambivalentes a ele. Paralelamente, a narrativa vai permitindo que alguns aspetos relativos as personagens residentes sejam desenvolvidos. Considero este cuidado muito importante, pois ganho uma ligação diferente com as personagens. É claro, o livro termina deixando em suspenso pontos importantes para o volume seguinte.
A escrita é fluída, envolvente e articula-se de uma forma eficaz para narrar uma história complexa e cheia de reviravoltas.
Em suma, "Perto de casa" conquistou-me o coração. "No escuro" inundou-me de adrenalina e deixou bem claro o talento de quem o escreveu. "Sem saída" conquistou-me o intelecto e solidificou todas as sensações e emoções positivas que só uma boa leitura sabe semear. Sinto-me conquistada a cada livro lido!
Quando pego em livros de mistério/crime/thriller gosto de me sentir perdida nos meandros de uma história cheia de pontas soltas e muitas dúvidas. Nem todos os escritores conseguem isso. Acho que é preciso uma dose especial de inteligência e perspicácia para transformar uma ideia numa história alucinante que me agarre ao livro com unhas e dentes.
A leitura do livro "Perto de Casa" permitiu-me perceber que Cara Hunter reunia bons qualidades e a tal dose especial de inteligência e perspicácia. "No Escuro" vem solidificar a opinião que eu formulei quando li o seu primeiro livro.
"No Escuro" é um livro inteligente e surpreendente. As minhas ideias andaram muito longe daquilo que a escritora desenvolveu de forma a ligar acontecimentos que, aparentemente, nada têm em comum. Ela confundiu-me, baralhou as minhas ideias e deixou-me rendida ao seu talento especial para criar enredos complexos e entusiasmantes.
O talento de Cara é tão especial que ao mesmo tempo que me conduzia por uma cena de crime onde não havia ponta pode onde lhe pegar, me apresentava o lado dramático da vida da equipa policial que estava responsável pela investigação. A forma humanizada como me apresentou as personagens ofereceu-me uma enorme sensação de realismo. Gosto muito do detetive Adam! Tem inteligência, sensibilidade e drama em doses suficientes para o tornar num homem com que facilmente nos poderíamos cruzar na rua. E isto estende-se a toda a sua equipa: a agente Everett e a sua sensibilidade especial, Gislingham a tentar equilibrar a sua vida pessoal e a ajudar o seu superior a limpar as asneiras em que se mete, Quinn e o seu talento especial para meter a "pata na poça" e Somer a lutar contra a sua auto-estima e a necessidade de se afirmar profissionalmente. Uma equipa muito complexa e muito realista.
Quando a parte criminal, o livro começa com a descoberta de uma jovem e um bebé presos numa cave... Mas acreditem, isto é apenas a ponta de um icebergue enorme e cheio de pequenos icebergues colados a ele. É fenomenal ir descobrindo os pormenores que conduzem a resolução do caso. É engraçado porque dou por mim a querer identificar culpados e, ao mesmo tempo, deleito-me com as maravilhosas artimanhas criadas por Cara.
Tal como no livro anterior senti a preocupação da autora em incluir elementos da sociedade. Este tipo de acontecimentos apaixona a opinião pública, por isso é comum vermos notícias em jornais e na televisão e os "polícias de bancada" sempre prontos a resolver o caso nas redes sociais. Não senti uma presença tão grande destes elementos comparativamente livro anterior, mas a escritora manteve-se fiel ao seu estilo original que tanto me agradou no primeiro livro.
Para quem não leu o primeiro livro, este pode ser lido em separado. A globalidade da compreensão da história não é afetada. A única falta que poderão sentir é relativamente às personagens residentes. Apesar de neste volume a autora ter sido capaz de expor o essencial para que o leitor não se sentisse perdido, há um pequeno pormenor relativamente a Adam que só com a leitura do final do primeiro livro se é capaz de compreender o seu comportamento e as suas atitudes relativamente à sua vida pessoal.
Esta é uma autora que irei acompanhar e recomendo a todos os amantes de livros, em especial àqueles que têm um carinho especial por thrillers, crimes e mistério.
Nota: Este livro foi-me disponibilizado pela editora em troca de uma opinião honesta.
"Perto de Casa"é o livro de estreia de Cara Hunter e deixa-me antever a qualidade dos próximos livros da autora. É um livro construído de forma diferente quando comparado com outros livros do género e só esse aspeto já lhe acresce um enorme valor.
A narrativa desenrola-se em torno do desaparecimento de uma menina de 8 anos, a Daisy. A partir daqui segue a estrutura de outros livros do género. Investigações policiais, atuação da equipa forense, perícias científicas, interrogatórios, pistas que são lançadas para nos gerar confusão (ou não) e profissionais da polícia em choque perante o crime em que se vêem obrigados a trabalhar. E depois temos um elemento surpresa: a atividade paralela que se desenvolve nas redes sociais.
Atualmente, crimes mais mediáticos acendem a atividade nas redes sociais. De repente, todos são capazes de encontrar os culpados e de os julgar com uma facilidade tremenda. Pela primeira vez na minha vida enquanto leitora de livros do género vi o papel das redes sociais a ser abordado. É muito interessante e realista a forma como a escritora vai encaixando estes elementos ao longo do texto. É muito real, muito próximo daquilo que, nos dias de hoje, facilmente encontramos no Facebook e no Twiter. Foi tão realista que enquanto lia o livro facilmente me recordei de crimes mediáticos que aconteceram em Portugal, nomeadamente o desaparecimento da Joana, da Maddie, do bebé Madeirense... Infelizmente, é um livro ficcional que tem muito de realista e espero que a escritora mantenha este registo.
Servindo-se de todas estas armas narrativas, Cara Hunter atira-nos para o desespero de uma família cheia de esqueletos no armário. E como não bastam os esqueletos da família de Daisy, ainda nos oferece os esqueletos inspetor Adam.
Quanto à família de Daisy, a autora conduz-nos por um ambiente familiar complexo. A complexidade é nos oferecida de forma doseada, mas sem deixar espaço para aborrecimentos. É um livro cheio de ação e de acontecimentos. Não há tempo para o tédio. Ao virar de cada página encontramos algo de novo, algo que nos faz pensar afinal quem é que andou a tramar isto tudo. Tive sempre muitas desconfianças, mas muito poucas certezas.
Achei toda a equipa de investigação muito interessante e muito bem construída. Fiquei com vontade de saber mais sobre todos eles, e espero receber mais informação no livro seguinte. Adam é a cereja no topo do bolo. Um homem com um passado doloroso, que no fim, ao saber o que lhe aconteceu fiquei com o coração apertado. Infelizmente, senti falta de mais. Precisava de ter lá escrito tudo o que aconteceu na vida deste homem um meses antes daquela fatalidade. Precisa de o compreender mais, de ver o seu interior de uma forma mais plena.
O final... Bem, mais um daqueles que jamais irei esquecer. Se por lado foi surpreendente (apesar de ao longo do livro pensar que aquela personagem estava implicada de alguma forma) por outro deixou-me um gosto agridoce. Tenho dificuldade em lidar com injustiças. E este final é de certa forma injusto. Fiquei frustrada porque não fechou da história de forma totalmente conclusiva. Eu precisa de mais. Porém, tenho a leve desconfiança que num próximo livro este caso ainda irá ressuscitar.