Autora: Cathy Glass Ano: 2008 Número de páginas: 244 páginas Classificação: 5 Estrelas Editora: Editorial Presença Sinopse:Aqui
Opinião
Infância Perdida é daquelas histórias que, sem querermos, se enraízam no nosso pensamento e nos deixam dias a pensar sobre ela.
Pelo seu conteúdo emocional, não é um livro fácil de ler. Confesso que a repulsa e o nojo foram aumentando gradualmente. Quando pensava que as coisas não podiam ser piores, chegava uma nova revelação que me fazia parar a leitura para assimilar tudo aquilo que ia acontecendo.
Cathy Glass é uma mãe de acolhimento que recebe em sua casa crianças que são retiradas à família por diversas razões. As crianças ficam com ela até a família reunir condições para as voltar a acolher ou quando os serviços judiciais decretam outro tipo de medidas, como a adopção, por exemplo.
Neste livro, Cathy relata-nos os momentos em que viveu com Jodie, uma menina de 7 anos com uma história de vida ainda bastante desconhecida aos olhos das várias famílias por onde passou e onde permanecia por pouco tempo. Cathy percebeu o desafio que lhe estava para chegar às mães, mas agarrou-o com uma mestria e determinação muitas vezes superior à de um profissional.
Jodie apresentou-se como uma criança bastante perturbada. Logo de início, e por aquilo que ia sendo descrito, eu coloquei a hipótese de uma perturbação da personalidade, mas estava muito longe de imaginar os contornos por detrás desta perturbação.
Foi duro ler sobre aquilo que Jodie foi obrigada a viver. Foi duro ver que, por pouco, aqueles que tanto mal lhe fizeram iam ficar impunes. Mesmo assim, a justiça não foi totalmente feita.
Infelizmente a realidade de Jodie não é a única. São várias as crianças que não conhecem os contornos de uma infância feliz e saudável. Estas histórias enchem-me sempre de tristeza, fazem-me sentir impotente. Eu sei que não podemos querer salvar o mundo. Não está nas nossas mãos conseguir combater tudo aquilo que de mau há no mundo, mas crianças na situação de Jodie mereciam ser salvas o mais rapidamente possível.
Neste livro, Cathy Glass também nos traz a realidade da má prática profissional. Um(a) assistente social tem, por vezes, um volume de trabalho enorme, mas isso não pode justificar o facto de se desligarem dos casos. A assistente social que tomava conta de Jodie cometeu erros muito grandes e que não podem ser justificados pelo excesso de trabalho. Ela estava completamente desligada da Jodie e em nenhum momento se preocupou em tentar estabelecer uma relação com a criança. Mas, tal como há maus profissionais, há também aqueles que são capazes de atender às necessidades destas crianças e proporcionar-lhes formas de diminuir o sofrimento. Na história de Jodie destaco o papel da assistente social Jill, que apesar do caso não ser da responsabilidade dela, sempre se preocupou com a criança e também o papel da psicóloga que se preocupou genuinamente com a criança e procurou um espaço adequado para o futuro de Jodie.
Autora: Cathy Glass Ano: 2010 Número de páginas: 291 páginas Classificação: 4 Estrelas Editora: Editorial Presença Sinopse:Aqui
Opinião
Durante a Feira do Livro no Porto do ano passado, enquanto passeávamos pelas barraquinhas, cruzamo-nos com os livros de Cathy Glass. A Marta, do blog I only have, disse-me que seriam livros que eu iria gostar muito. Querida e simpática como ela é, enviou-me dois livros desta autora para eu eu ler. É claro que acertou em cheio, porque eu gostei muito do livro. Obrigada, Marta!
Este livro conta-nos a história de Donna e do seu percurso enquanto esteve com Cathy e os seus filhos como família de acolhimentos. Cathy é uma mãe como tantas outras e com uma vasta experiência como mãe de acolhimento temporário, mas Donna revelou-se um verdadeiro desafio para ela.
Todas as crianças são diferentes. E crianças que passam por experiências difíceis e cheias de "espinhos" evidenciam ainda mais diferenças e complexidades. Há crianças que externalizam a dor e o sofrimento de forma mais impulsiva, ou de uma forma mais ajustada às norma sociais. Outras porém, internalizam a sua dor e tornam-se verdadeiras "bombas-relógio", como se pode ver pela Donna.
Esta criança fez-me recordar uma das coisas que o professor Eduardo Sá partilhou connosco numa aula: "se estiverem com duas crianças em que uma se mostra extremamente activa e faladora e outra que esteja muito sossegada e até sem se expressar. Preocupem-se com a crianças que está muito quieta e não com aquela que parte tudo."
É claro que cada caso é um caso e uma boa avaliação não se limita unicamente à observação do comportamento da criança. Este é apenas um indicador e que nos pode fornecer algumas informações importantes.
Donna internalizava muita da sua dor e como não conseguia expressar-se verbalmente, muitas vezes explodia de forma descontrolada e violenta. Cathy com toda a sua sabedoria e generosidade conseguiu com que Donna libertasse a sua dor de forma diferente.
Apesar de todas as feridas psicológicas que Donna apresentava, do meu ponto de vista ela era uma criança bastante resiliente, com capacidades que apenas estavam escondidas pelos maus tratos e pela rejeição e que facilmente foram aparecendo com a ajuda do amor e paciência de Cathy e da sua família.
No fundo, esta família de acolhimento fez diferença na vida de uma criança e acho que este sentimento é inexplicável. Para mim, isto é um verdadeiro acto de amor.
É inevitável não comparar esta autora com a Torey Hayden visto que as temáticas dos livros se aproximam. Apesar de só ter lido um livro da Cathy (em comparação com vários da Torey), posso dizer que gosto bastante, mas em comparação com a Torey acho que fica ligeiramente atrás. Contudo este aspecto está mais relacionado com aspectos pessoais.
Torey é uma especialista, uma técnica que trabalha profissionalmente com as crianças, e a Cathy não. Como a Torey nos mostra o seu lado mais profissional eu fico sempre mais encantada porque dá para tirar ideias e aprender algumas técnicas de trabalho. É só por esta questão da aprendizagem profissional que gosto um bocadinho mais de ler os livros da Torey,
Recomendo este livro a quem goste de "viajar" pelo lado mais negro da infância, pois afigura-se como um bom "destino".