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Por detrás das palavras

Opinião | "Os Maias" de Eça de Queirós

os Maias.jpg

É extremamente interessante refletir sobre a influência da nossa maturidade na forma como interpretamos aquilo que lemos. 
Li "Os Maias" no secundário. Tive um excelente professor de Português, que discutia e analisava muito bem as obras que eram lecionadas. Desse tempo, a minha visão romântica e demasiado idealista provocou um registo mental muito interessante. Nas minhas memórias vivia a ideia romântica de um amor impossível, de um Carlos e de uma Maria Eduarda vítimas da tragédia e dos comportamentos irresponsáveis da mãe. "Os Maias", para mim, eram uma espécie de "Romeu e Julieta" português. 

Esta releitura quebrou todas as memórias de um amor marcado pelo sofrimento e pela tragédia. Adorei voltar a está história. As descrições de Lisboa, dos cenários que acompanham e nos preparam para a tragédia iminente. Ler com mais consciência e mais atenta aos pormenores ofereceu-me uma ideia mais clara de toda a complexidade que caracteriza esta história. 
Afinal, o que é que mudou?

A minha ideia do Carlos da Maia. Carlos talvez tenha sido dos meus primeiros amores literários. Apaixonei-me por ele, pelo seu jeito educado, refinado e galante. Mas isto, foi lá atrás! Em 2020, olhei novamente para este Carlos e a visão romântica esbateu-se. Neste momento, Carlos é, aos meus olhos, um snob preguiçoso, fraco, sem carácter e que vivia às custas do avô. Passou a ser, também, um homem cobarde que arrasta o seu charme para cima das mulheres. É uma crítica social feita pelo autor que ficou apagada na minha memória. Ele merecia um final mais trágico. 

Maria Eduarda passou de deusa, a uma mulher que sofreu na vida mas que facilmente se deixava levar pelas promessas de uma vida fácil. 

Acho que os únicos que não destruíram as minhas memórias foram Afonso da Maia e Ega. Admirei-os na altura e essa admiração manteve-se. De Afonso fica a imagem de um homem duro, que na tragédia do filho se renova para dar ao neto a possibilidade de crescer feliz. Também cometeu os seus erros, mas irei sempre recordá-lo na figura de um avó duro mas amoroso.
Ega é aquela personagem maluca, que também se acomoda ao conforto do dinheiro da família, que anima muitas das passagens ao longo do livro. Também ele representa alguma crítica social, assim como se torna agente ativo dessa mesma crítica. 

Não me lembro de ter sentido dificuldade em ler o livro. Já era uma leitora assídua, que só não lia mais porque não tinha como. A releitura foi mais demorada, mas tive mais tempo para assimilar os acontecimentos e refletir sobre o que Eça nos queria dizer nas entrelinhas num livro onde a tragédia se pressente na descrição do Ramalhete. 

Foi uma viagem literária muito feliz. Há muito tempo que queria reler este livro, acho que merecia uma leitura pelos olhos agora adultos. Ainda bem que o fiz. 
Há outro livro que gostaria de reler, mas tenho receio desta releitura. O livro em questão é "Aparição" de Virgílio Ferreira. Guardo boas memórias do livro. Adorei a discussão filosófica que ele suscitou na altura e todas as reflexões que ele desencadeou. Estou insegura na releitura porque não quero destruir estas memórias. Não sei como é que o meu eu de agora se sente em relação a estas temáticas. Uma ideia a amadurecer. 

E vocês? Costuma reler livros?

Opinião | "A Aia" de Eça de Queirós

A Aia
Classificação: 4 Estrelas

Em Setembro decidi ler um conto que li, pela primeira vez, há mais de 17 anos. 
É um conto envolto em boas memórias. E essas boas memórias diziam-me que tinha gostado. Por vezes, as nossas memórias são enganadoras, por isso é sempre bom fazer uma atualização da leitura. Neste caso, as memórias não estavam erradas. Voltei a gostar muito do conto e da sua mensagem.

A escrita deste conto é muito simples, porém acompanha uma história bastante forte. É um conto sobre lealdade e sacrifício. Um conto onde o altruísmo prevalece perante as necessidades pessoais.

Esta leitura fez-me pensar no facto de que eu leio muito pouco Eça de Queirós. Gostei tanto do pouco que já li, que me sinto quase na obrigação de ler mais. Uma situação a mudar nos próximos tempos. 

Opinião | "O defunto" de Eça de Queirós

 

O Defunto


Autor: Eça de Queirós
Ano: 2013
Editora: Projecto Adamastor
Classificação: 4 Estrelas

Sinopse

Ela ficara sobre o escabelo, as mãos cansadas e caídas no regaço, num infinito espanto, o olhar perdido na escuridão da noite silente. Menos escura lhe parecia a morte que essa escura aventura em que se sentia envolvida e levada! Quem era esse D. Rui de Cardenas, de quem nunca ouvira falar, que nunca atravessara a sua vida, tão quieta, tão pouco povoada de memórias e de homens? E ele decerto a conhecia, a encontrara, a seguira, ao menos com os olhos, pois que era coisa natural e bem ligada receber dela carta de tanta paixão e promessa…
Assim, um homem, e moço decerto bem nascido, talvez gentil, penetrava no seu destino bruscamente, trazido pela mão de seu marido? Tão intimamente mesmo se entranhara esse homem na sua vida, sem que ela se apercebesse, que já para ele se abria de noite a porta do seu jardim, e contra a sua janela, para ele subir, se arrumava de noite uma escada!… E era seu marido que muito secretamente escancarava a porta, e muito secretamente levantava a escada… Para quê?…
 
Opinião
Este foi o meu segundo trabalho para o Projecto Adamastor e confesso que ainda gostei mais deste conto do que o Singularidades de uma rapariga loira. Mas como ambos são muito bons atribui-lhes a mesma classificação.
 
Neste conto, Eça reuniu encantamento, paixão, amor, fé e o plano espiritual. É um conto com uma leitura fácil e rápida que aguça a curiosidade do leitor. Estamos sempre na expectativa de quando uma tragédia irá acontecer.
 
O enredo está muito bem construído, ou não estaríamos a falar do mestre Eça de Queirós, em que dificilmente adivinhamos qual o passo seguinte que o escritor oferece às suas personagens.
 
Gostei muito do final! Não estava à espera deste desfecho... Imaginei algo mais trágico.
 
Caso queiram ler este conto ele está disponível no seguinte endereço http://projectoadamastor.org/listageral/.
 
Deixem-se invadir pelas palavras.

Opinião | "Singularidades de uma rapariga loira" de Eça de Queirós

 

Singularidades de uma Rapariga Loura


Autor: Eça de Queirós
Ano de publicação: 2013
Editora: Projecto Adamastor
Classificação: 4 Estrelas
Desafio: De A a Z...

Sinopse

"Há um provérbio eslavo da Galícia que diz: «O que não contas à tua mulher, o que não contas ao teu amigo, conta-lo a um estranho, na estalagem.» Mas ele teve raivas inesperadas e dominantes para a sua larga e sentida confidência. Foi a respeito do meu amigo, do Peixoto, que fora casar a Vila Real. Vi-o chorar, àquele velho de quase sessenta anos. Talvez a história seja julgada trivial: a mim, que nessa noite estava nervoso e sensível, pareceu-me terrível — mas conto-a apenas como um acidente singular da vida amorosa…
Começou pois por me dizer que o seu caso era simples — e que se chamava Macário."
 
Opinião
Até à leitura deste conto só me tinha cruzado com Eça de Queirós na leitura obrigatória do 11º ano, Os Maias. Na altura fui das poucas pessoas da turma que leu o livro na integra e fiquei com uma opinião muito positiva do livro.
Entretanto surge o Projecto Adamastor, torno-me voluntária e a primeira obra que revi foi precisamente esta.
 
É um conto muito simples que nos traz a história de um amor e de uma mulher singular. Esta mulher, de seu nome Luísa, dotada de uma beleza encantadora, enfeitiça o coração de Macário.
Macário decide fazer tudo por este amor e arrisca a sua vida segura em busca deste ideal.
 
Eça de Queirós cria um enredo cativante com personagens muito reais. Foi muito bom este re-encontro com a narrativa de Eça de Queirós.

Quem quiser ler este conto, ele está disponível aqui.

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