Por aqui continua-se a visitar muitos livros para crianças. A minha sobrinha, ávida consumidora de histórias, não se cansa de pedir livros e de pedir para lhe lerem histórias.
Em julho, na Feira do Livro de Braga, encontrei este livro a um preço muito simpático. Conhecendo a admiração desta criança pelo panda, achei que esta história iria funcionar com ela.
Apesar de ser um livro pequeno, temos uma história dentro de outra história. Uma mãe galinha decide contar aos filhos a história do panda que tinha piolhos. O panda, muito constrangido com a situação, acaba por servir de inspiração a uma aula de matemática da professora e todos os animais se envolvem nesta situação dos piolhos.
O tom divertido conjugado com uma forma divertida de conjugar as palavras permite que se brinque com a entoação e possibilita uma leitura mais dinâmica (aspeto que cativa os mais pequenos).
Além da história, é possível explorar a temática dos animais. São vários os animais que entram como personagens da história, o que possibilita a aprendizagem desses animais e até de contagem.
A leitora em formação aprovou a história e pede várias vezes para a ler (como todas as outras que têm aqui em casa - ainda hei de memorizar estas histórias).
"Traz-me de volta" chegou-me cá a casa pelas mãos de uma fã da autora, a Daniela. Fiquei contente quando vi o livro que me tinha calhado em sorte. Ela já me tinha emprestado o livro "Ao fechar a porta", que foi uma leitura que, apesar de não ter sido memorável, deixou a vontade de continuar a acompanhar o trabalho da escritora.
Neste livro, há uma dança entre o passado e o presente que nos é narrada pela voz de Finn e, numa fase mais avançada da narrativa, da Layla. Layla, namorada de Finn, desaparece numa estação de serviço deixando Finn completamente angustiado com o sucedido. Passaram doze anos, Finn reconstruiu a sua vida com Ellen, a irmã de Layla. Quando menos espera, Finn é confrontado com uma conjunto de situações que sugerem que Layla está de volta.
O livro deu-me cabo dos nervos. Exasperei com Finn e os seus comportamentos estranhos, pouco congruentes e, por vezes um pouco ignorantes. Consegui justificar estas atitudes com o grande stress que passou a viver assim que os acontecimentos à sua volta sugeriram o regresso de Layla. Contudo, a leitura deixou-me com uma sensação de mal-estar que não consigo materializar em palavras nem justificar.
É um livro que convida à leitura porque vai alimentando a curiosidade do leitor. Aliás, foi mesmo esta curiosidade que me motivou para avançar na leitura e tentar desatar os nós mentais que o Finn e a Layla me iam deixando no cérebro.
Chegando ao final, todas as situações em torno do desfecho deste enredo não fizeram sentido na minha cabeça. Parece que foi um pouco forçada a forma como a escritora decide encerrar a narrativa.
A conclusão a que cheguei foi que todas as personagens tinham problemas de saúde mental. Talvez tenha sido isso o motivo da minha indisposição. Senti falta de um certo equilíbrio em termos de tipo de personagens. Também é importante oferecer alguma "normalidade" aos enredos que se constrói. Acho que isso os torna mais realistas.
Espero que numa próxima obra da escritora possa sentir outras coisas e ter uma experiência mais humana e agradável.
Conta-me, que livros já te deixaram desconfortável ou indisposto(a)?
Fantasmas do passadoera um livro totalmente desconhecido para mim. Cruzei-me com ele nos destaques da biblioteca e achei que poderia ser um leitura interessante. O facto de ter um desafio direcionado para este género de livros também ajudou a ponderar esta escolha.
O livro tem uma história complexa. Um professor universitário que gosta de refletir sobre as injustiças do tribunal. E é esta a base de todo o livro. Tentar perceber onde mora a injustiça de um crime que aconteceu há mais de 30 anos e levou à condenação de um inocente. Tirando o primeiro capítulo que é narrado nos anos 70, todo o resto do livro é narrado no momento presente da ação e acho que isso retirou muito dinamismo à história. Aliás, permaneceu em mim, em muitos dos momentos, uma leve sensação de aborrecimento que transformava o meu ritmo de leitura. Lia devagar e a sensação era de que não sai do mesmo sítio.
Um elemento interessante é o acesso aos relatórios dos depoimentos, às notícias publicadas e partes do capítulo do professor universitário Hughes. São elementos que oferecem algum dinamismo ao livro e que permitem a aceder a diferente tipo de informação; aspetos que interferiram positivamente na minha relação com o livro.
A narrativa vai-se arrastando enquanto as personagens vão tentando compreender o que aconteceu no passado. Vão desenterrando alguns acontecimentos, desconstruindo o comportamento atual de algumas personagens... Mas tudo se vai desenrolando de forma demasiado lenta. Falta suspense que crie dependência. Esta ausência de suspense torna a leitura demasiado aborrecida e deixa a sensação de que nada de relevante irá acontecer. O livro beneficiaria com uma alternância entre presente e passado. Acho que a existência de capítulos que nos mostrassem os acontecimentos do passado seriam essenciais para oferecer ao livro outra atmosfera.
O livro aborda temas como a violação, o preconceito, os bairros sociais, a deficiência mental... Tem passagens muito interessantes onde estes temas estão inseridos em situações que me fizeram refletir sobre os comportamentos individuais e os comportamentos da comunidade. Como é que se alimenta o preconceito? Como é que se condena o futuro de uma jovem? Como é as amizades nos podem oferecer o pior da condição humana? Que adultos escolhemos ser com base no nosso passado? Mais do que os acontecimentos e as experiências adversas pelas quais podemos passar, nós somos aquilo que escolhermos fazer com tudo o que vivemos. Mas será o contexto nos permite sempre fazer essa escolha? São perguntas que me foram surgindo ao longo da leitura.
Para os leitores que apreciam um estilo de thriller mais lento, sem suspense e sem tensão psicológica este poderá ser um livro capaz de proporcionar uma boa leitura. Mas como gosto sempre de reforçar, só poderás construir a tua opinião se deres uma oportunidade ao livro.
"O diário de Bridget Jones" deu origem a um filme que marcou o ano de 2001. Recordo-me vagamente do filme, ficaram-me na memória a interpretação da atriz Renée Zellweger e dos momentos cómicos que vão surgindo ao longo do filme.
Foi com a expetativa de encontrar uma leitura divertida que me atirei à leitura deste livro. Agora, das duas uma, ou eu perdi o sentido de humor ou este livro não tem situações tão cómicas como eu esperava. Não me fez rir e não me diverti a lê-lo. Tive alturas em que me aborreci um pouco com a Bridget e as suas atitudes infantis. Demasiado infantis para a idade.
Mas se me irritei com a Bridget, Pam, a mãe dela, conseguiu despertar em mim instintos assassinos! A vontade de saltar para o livro e lhe bater era tanta, que sempre que ela aparecia na história eu tinha de respirar fundo para aguentar a futilidade e estupidez que a acompanhava.
Brincadeiras, inseguranças, romances que se notam a léguas que não vão correr bem, a luta com o peso e a vida laboral são os temas que ilustram as entradas do diário de Bridget Jones. Fui lendo, embalada pelo discurso simples e pela expetativa de uma tragédia eminente.
Sinceramente, não sou capaz de identificar o tipo de leitor a quem este livro possa agradar. É daquelas incógnitas literárias, pois poderá agradar a alguns leitores e desiludir outros; mas sem que haja um perfil específico para quem são os leitores que gostam e os que não gostam.
Sei que o livro tem continuação, mas no meu caso as minhas aventuras com as peripécias de Bridget Jones terminam por aqui. Não restou vontade, nem curiosidade de continuar a acompanhar as vidas destas personagens.
Adoro quando faço boas descobertas. "Antes de nos encontrarmos" é um livro pouco conhecido (no site da wook não tem comentários) e foi uma leitura muito boa. Gosto de fazer estas descobertas porque acabo por trazer livros diferentes daqueles que acabam por ir circulando pelo bookstangram e pela blogoesfera.
Ler este livro foi como construir um puzzle. Os retalhos das passagens que se iam sucedendo eram recortes de vidas que se entrelaçam. Eram pequenos pedaços da vida de Stella, de Jake, de Nina e das respetivas famílias que se iam unindo criando um maior espaço de compreensão. Viajei entre Hong Kong, a Escócia com cheiro a Itália. Conheci as realidades de cada uma destas personagens, assim como os seus desafios. Foi esta descoberta faseada e a densidade psicológica das personagens que me manteve muito presa ao livro e aos acontecimentos.
Ser diferente implica desafios. Stella e Nina representaram essa diferença. Apesar de já terem nascido no Reino Unido carregavam uma história cultural que de alguma forma as mantinha afastadas da realidade que conheciam. Nina é uma personagem extremamente complexa e misteriosa. Um mistério que se adensou até ao final do livro, porque a escritora soube conduzir-me através dele. No fim, as surpresas apareceram. O livro é mais do que uma história de amor. É uma história de descoberta interior, onde cada personagem se desloca numa busca pelo seu bem-estar e pela resolução de circunstâncias passadas. E nestas encruzilhadas da vida, nestas buscas por algo maior o amor acontece. Simples, sem complicações e culmina num final romântico sem aquelas lamechices que irritam alguns leitores. Eu gostei muito das histórias de vida das personagens, da forma como algumas se acabam por entrelaçar e oferecer significado ao livro. Só houve alguns aspetos que acho que mereciam uma melhor explicação, nomeadamente elementos que estão relacionados com as vivencias de Nina e Stella.
Talvez não seja um livro com a capacidade de encantar um número infinito de leitores. Acho que é preciso estar com o humor certo para se conseguir absorver a história. Além disto, é essencial manter a atenção para que se consiga juntar todos os elementos que vão surgindo de forma faseada ao longo da história.
Esta leitura acabou por comprovar que devemos sempre dar uma oportunidade aos escritores que não nos conquistaram no primeiro livro. Em 2013 li "Incertezas do Coração". Não gostei muito do livro e não ficou nada da história na minha memória. Acho que esta má experiência me fez adiar esta leitura. Precisei de tempo para deixar que experiência inicial se dissolvesse da minha memória para poder agarrar neste livro com a mente livre.
Felizmente, desta vez a leitura correu bem melhor e ofereceu-me uma boa história. Atendendo a esta minha experiência positiva quero ler os outros livros que estão publicados em Portugal, são eles: "Estou viva, estou viva, estou viva" e "O estranho desaparecimento de Esme Lennox".
"A Nona Vida de Louis Drax" estava na minha estante há mais de um ano. Gosto de livros com personagens infantis. Gosto de ler narrativas que se centrem em crianças e nas suas famílias. Por estas duas razões eu tinha interesse neste livro e em descobrir o que é que estas páginas me reservavam.
Foi uma leitura um pouco estanha. Os meus sentimentos relativamente àquilo que ia lendo iam mudando. Houve confusão, entusiasmo, desconfiança... mas a minha antipatia para com a mãe do Louis acompanhou-me ao longo de toda a leitura. Não gostei da mulher! Sempre achei que haviam ali aspetos que não estavam bem explicados. Louis é uma criança com elementos muito particulares. Foi interessante acompanhar o seu papel ao longo do desenvolvimento da narrativa e, no fim, conseguir encaixar tudo aquilo que ele nos foi oferecendo.
É um livro desconcertante e com uma narrativa negra e emocionalmente pesada. É um livro escrito de forma inteligente e com elementos perturbadores. Não deixou grandes marcas emocionais em mim. Gostei de ler, mas não teve tanto impacto como eu esperava que tivesse.
Depois de ter lido Mil Sóis Resplandecentes fiquei com vontade de ler mais livros de Khaled Hosseini. É um autor com uma escrita muito bonita e com histórias duras e que me permitem conhecer uma realidade completamente diferente da que eu conheço.
Já há algum tempo que andava atrás d' O Menino de Cabul na biblioteca. Assim que o apanhei, trouxe-o... Mas devia antes tê-lo comprado, assim como o Mil Sóis Resplandecentes. Gostei tanto dos dois que gostaria de os ter na minha estante.
Chorei com O Menino de Cabul. Foi uma história que mexeu com a minha sensibilidade. Eu já sou sensível por natureza, mas quando uma história aborda assuntos relacionados com as crianças sinto o eu coração a quebrar mais facilmente.
O nosso narrador é Amir. Um pré-adolescente afegão que lutava pelo afeto e reconhecimento do pai. Ele sentia que nunca era suficientemente bom aos olhos do pai. Para agravar a situação o talento dele estava um pouco longe das expetativas paternas. Tudo isto moldou imenso a sua personalidade e condicionou a forma como ele decidi lidar com Hassan. Hassan era o seu amigo mais fiel. Que fazia qualquer coisa por ele. Um doce de miúdo e de pessoa. Infelizmente pertencia a uma classe social inferior e isso fazia com que Amir, por vezes, fosse um pouco cruel.
Pelo meio surge um pré-adolescente tirano, Assef. Um miúdo que, aos olhos da nossa sociedade, é um delinquente. Uma personagem muito bem construída, que me ofereceu umas valentes náuseas. É daqueles miúdos odiosos que só estão bem a fazer mal aos outros. É duro assistir ao seu comportamento. As atitudes dele para com Amir e Hassan ofereceram-me momentos de leitura muito duros. Hassan fez-me chorar... Chorei de revolta, chorei pelo sofrimento dele, chorei pela injustiça de tudo... Mas o mundo é curioso... E, tal como na vida real, há pessoas que são capazes de nos surpreender. Hassan é feito de bondade e de amor. E é um material tão sólido que ele consegue sempre ver para além do comportamento menos positivo daqueles que o rodeiam. Ameio o Hassan, mas sofri muito com o percurso de vida dele.
Amir também me fez sofrer, porque transformou as coisas boas dele em comportamentos tóxicos e isso consumiu-lhe o amor e a amizade. Acho que a Soraya e o Sohrab ajudaram Amir a se perdoar, a perdoar o seu passado e mostrar-lhe o lado bom do ser humano. A Soraya mostrou-lhe que podemos usar as nossas capacidades em favor do outro, ajudando o outro a superar as suas fragilidades. Sohrab ajudou Amir a organizar as emoções do passado, ajudou-o a ser forte, mostrou-lhe que é bom dar de nós aos outros, quando tudo é feito de forma positiva.
Rahim Khan é uma personagem que eu considero muito importante na história. Ele representa o lado paternal orgulhoso na vida de Amir. Rahim oferece a Amir o amor e o reconhecimento pelas suas capacidades, acabando por colmatar um pouco as falhas paternas. É alguém que conhece Amir muito bem e conseguiu sempre ver mais além ao ponto de conduzi-lo da melhor forma possível.
É uma história com muitos contornos tristes. Há passagens que são de uma brutalidade capaz de me sugar as palavras e a alegria. Apesar de toda a dureza da história, eu acho o livro maravilhoso e com uma escrita extremamente cativante. Quero muito ter os livros do autor. Li-os porque existem na biblioteca, mas gostei tanto das histórias que, um dia, gostaria de os adquirir para a minha biblioteca pessoal.
Este é um daqueles livros (desgraçados) que vem parar à estante e acaba por lá ficar infinitamente à espera de uma oportunidade para ser lido. Isto acontece porque outros mais apelativos se vão cruzando no caminho das leituras.
Desde que adquiri este livro, através de uma promoção da Editorial Presença, que nunca me senti particularmente atraída por ele. Não tenho uma explicação racional para tal facto, mas a verdade é que ele foi ficando por ler porque não sentia uma vontade intensa de me atirar a ele.
Porém achei que já estava na estante há demasiado tempo e merecia ser lido. Aquilo que acabou por acontecer é que os meus receios em relação ao livro acabaram por se confirmar.
Revelação Inesperada é um policial e retrata um crime que ficou mal resolvido no passado.
A resolução deste crime deixou-me a pensar durante imenso tempo. Não pensem que foi pela sua complexidade ou por ter aspetos rebuscados e capazes de desafiar a mente mais hiperativa. Isso aconteceu porque identifiquei facilmente quem tinha sido o criminoso. Ora foi algo tão óbvio e com motivações tão claras que durante muito tempo me interroguei acerca da forma como as coisas foram conduzidas no passado ao ponto de não conseguirem resolver um mistério tão básico.
Aquilo que posso partilhar com vocês é que o livro não me surpreendeu, não me deixou em suspense e nem despertou em mim aquela vontade de ler de forma desenfreada só para desvendar o que estava por detrás dos acontecimentos.
Como referi anteriormente, foi um livro com um criminoso e motivações previsíveis. Aliado a esta parte policial é desenvolvido um romance que não foi capaz de me aquecer o coração. Não me emocionou nem me despertou aqueles sentimentos queridos que geralmente surgem em mim quando leio uma boa história de amor.
O final trouxe ligeiros apontamentos de surpresa. Foram estes pequenos apontamentos finais que me permitiram atribuir duas estrelas ao livro. Se não fosses estes aspetos inesperados para mim, facilmente teria atribuído uma estrela a este livro. Com o final da leitura não ficou em mim o interesse em ler outros livros desta escritora.
Nota: Esta opinião contém spoilers (estão identificados)
Eu estava com elevadas expetativas para este livro. A Denise vibrou com ele e achou-o fenomenal. Isto criou uma espécie de pressão em mim, porque tinha receio de quebrar a beleza do livro aos olhos da Denise. E claro, ela disse logo que perdia a esperança em mim (qual "assassina" de livros).
Com esta miscelânea de sentimentos lá parti para a leitura. O início causou-me sintomas de ansiedade. Houve momentos em que me senti verdadeiramente angustiada com a Grace e a situação em que ela se encontrava. Este momento inicial do livro é mesmo bom, tão bom ao ponto de me sentir claustrofóbica com as situações que iam acontecendo.
Grace e Jack têm uma relação muito rápida, porém a autora foi inteligente nesse aspeto. A alternância entre passado e presente acaba por esbater essa rapidez e faz com que tudo nos parece credível aos nossos olhos. E é assim que nasce um casal perfeito que me cortou a respiração em alguns momentos.
É uma narrativa que avança depressa nem há partes muito aborrecidas. Porém chega a um momento em que a história parece entrar num momento mais estagnado, onde não acontece nada de suficientemente significativo. Não me chegou a causar aborrecimento, pois a escrita é fluída e já estava bastante envolvida com as personagens, os seus dilemas e as suas angústias. O que me aconteceu foi não me sentir muito impressionada com o que passou a acontecer. Foi como se o livro perdesse um pouco de suspense e as cenas deixaram de ter grande impacto em mim.
Há aspetos em que o livro merecia mais. A dada altura Jack conta o seu segredo. Foi demasiado rápido, acho que seria importante contextualizar melhor este segredo de Jack e desenvolver melhor as coisas. ALERTA SPOILER - O Jack chega a referir que o nome foi alterado, para parecer mais credível e ter impacto nos outros, mas nunca sabemos qual era o seu nome verdadeiro e como é que ele tratou do processo. Dadas as circunstâncias deste segredo como é que ele chegou ao patamar profissional em que se encontra? O que é que ele faz nas suas viagens à Tailândia enquanto deixa a Grace no quarto? Porquê é que preferia a Millie para induzir o medo, quando o conseguia na perfeição com a Grace? Para mim estas foram algumas das pontas soltas que me causaram alguma insatisfação. - FIM SPOILER
Fiquei um pouco amargurada com aquele final. Foi até um conjunto de sentimentos agridoces. Gostei do diálogo entre a Grace e a Esther, mas acho que foi tudo demasiado rápido. A autora não deu o espaço suficiente para que o clímax crescesse e se findasse de forma mais completa e coesa.
Foi por estes aspetos que não atribuiu uma classificação superior a este livro. Eu gostei do livro, mexeu comigo em alguns momentos e achei credível. Só lhe faltaram algumas coisas para o tornar perfeito.
Desde já quero pedir desculpa aos meus leitores pelo uso de spoilers na opinião a este livro, mas não os consigo evitar. Quero fundamentar muito bem a classificação que atribui e que poderá surpreender-vos, uma vez que é um livro muito bem cotado no Goodreads e já conquistou imensos leitores.
Assim que saiu este livro admito que fiquei curiosa com a história, ou não fosse eu uma fã de romances com drama à mistura. A Denise foi uma querida e emprestou-me o seu exemplar (depois da experiência dela, acho que ela queria era ver-me a destilar frustração e impaciência - brincadeira).
Comecei a leitura já um pouco reticente. Aquele entusiasmo inicial diminui à medida que a Denise partilhava comigo algumas das suas impressões sobre o livro.
Visão geral do livro
Este livro tem uma das edições mais bonitas que já me passou pelas mãos. A capa está muito bem conseguida e o interior acompanha esta delicadeza. Mas a beleza do livro fica por aqui. Com uma escrita mediana, cheia de frases feitas e detentoras de uma filosofia barata que nos transforma os diálogos numa experiência surreal. Nós não comunicamos com as pessoas usando, constantemente, frases que parecem retiradas daqueles livros de citações. Este estilo de escrita fica pior nos diálogos. Quando é narração uma ou outra frase destas, inserida de forma correta e com sentido, não me atrapalha. Já nos diálogos faz-me trepar paredes por me sentir afastada da história, pois tudo me soa artificial.
A partir de agora vão começar os spoilers...
Depois de partilhar com vocês esta visão mais geral tenho de destacar certos aspetos da história que a tornam pouco credível aos meus olhos. Sim, eu sei,é um livro e não a realidade. Mas quando escrevemos um romance com características contemporâneas ou inserido no género YA, ou mesmo numa romance de época não queremos que ele pareça real aos nossos olhos? Eu gosto de sentir essa aproximação à realidade. Gosto de me apoderar da história e pensar fogo isto parece mesmo que está a acontecer aqui ao meu lado.
O prólogo tem logo um conjunto de situações mal explicadas. Paola decide fugir do marido violento, que está em casa, pois ela até sabe quais as escadas evitar para que não seja ouvida pelo marido que está... não sei onde, mas pelo comportamento da nossa personagem feminina ela sabe onde ele está. Mas, qual milagre ou poder do teletransporte, ele aparece-lhe no carro. Podem dizer, que há vários caminhos para ir para o carro, que ela não se apercebeu... A mim parece-me pouco credível pela forma como ela descreve o seu percurso até ao carro. Então o Roberto está sentado na parte traseira do carro e consegue agredi-la dali com uma facilidade que me deixou a pensar (sim, fui-me colocar na parte traseira do carro para testar). Poderia ser possível, mas os movimentos ficam muito limitados e tendo em conta a estrutura física da Paola não acho que tenha sido a opção mais correta.
A narrativa avança e temos a Paola numa clínica. Não consigo perceber de onde vem o dinheiro para a Paola ficar tanto tempo numa clínica. Dá a sensação que ela é uma "dondoca" que nunca precisou de fazer nada na vida e que os pais financiam todas as suas necessidades. E depois a "clínica" é um tanto ou quanto irreal ao misturar pessoas com incapacidade física com a pessoas que estejam a lutar contra traumas e sofrimento psicológico muito específicos. Geralmente, não se misturam estes grupos em comunidades terapêuticas, uma vez que as necessidades são muito diferentes. Mais um ponto que não abona para a criação de uma cenário real. Também aqui assisti a uma das conversas mais estranhas entre a Paola e o seu psicólogo. Foi uma espécie de consulta, com os diálogos cheios de frases feitas, sem realismo, sem emotividade e sem expressividade. E claro, era uma "clínica" tão descontraída que até permitia que os pacientes recebessem visitas no quarto e até dessem umas cambalhotas na cama.
O André também me causou muita comichão mental. Ele transpira sexo por todos os lados do corpo. Só procura a Paola para sexo, ou para sexo e depois para uma espécie de conversa. Nunca senti o carinho e amor a nascer entre os dois, nunca vi aquela relação crescer com diálogos, momentos de interação realistas... Entre eles, era tudo uma questão física. Houve um momento em que o meu cérebro parou!! Quando li a passagem em que o André experimenta um sexo algo selvagem, com direito a palmadinhas. Como é que uma mulher, sujeita a tamanho sofrimento numa relação abusiva e cheia de violência, consegue sentir prazer com uma experiência sexual tão dura e exigente (logo num dos primeiros encontros)? Sei que cada caso é um caso, mas a probabilidade de tal acontecer na realidade é ínfima. Não gostei deste André, não gostei da forma dramática que a autora o pintou. Era um homem que vivia para o trabalho, para a filha e para o sexo. E é isto que nos oferece esta personagem. Para mim, tornou-se vazio e sem empatia nenhuma.
A dinâmica entre André e Paola não é muito cativante e só piora com a tentativa de provocação de ciúmes com o Jorge. Ah! O Jorge é outra alma quebrada, que apenas serve para introduzir mais drama e não trazer nada de novo e significativo à história e às personagens.
A Sol é uma criança amorosa. Gostei de algumas coisas dela e de algumas intervenções dela, mas a carga dramática que lhe foi atribuída não faz sentido. Ela foi vítima de negligência física e emocional grave quando ainda era uma bebé de colo. Felizmente, não ficam memórias desse género em bebés. É irreal o contexto que a escritora criou. Teria feito mais sentido se ela pegasse por possíveis marcas físicas no corpo! Como ela descreve que a menina foi queimada com pontas de cigarro, poderia ter explorado por aí, criado algumas inseguranças, jogar com o facto de pertencer a uma família monoparental, onde a mãe está ausente. Agora torná-la numa criança antissocial e atribuir como causa desse comportamento algo que ela vivenciou com meses de idade, não faz sentido. A explicação para o facto de ela não ser filha do André também não é convincente. Tenho casos na família em que os avós são morenos de cabelo castanho, o mesmo acontece nos pais e os filhos nascem loiros e com olhos claros. A genética não é algo tão linear-
Por fim, quero escrever sobre o contexto social criado pela autora. Acho que ela faz uma mistura entre o contexto português e o brasileiro. Não está bem clara essa caracterização. No Brasil, até há uns tempos atrás (agora não faço ideia como esteja) os estudos universitários eram gratuitos. Vi muito gente vir para Portugal com boas bolsas de doutoramento e com tudo pago. Pelo que me contavam só pessoas de nível socioeconómico muito baixo, que vivem em favelas é que facilmente abandonam os estudo. Posso estar enganada, mas dado o lugar onde o André e os pais viviam não me parecia uma zona de famílias com poucos recursos. Eu colocá-lo-ia na classe média-baixa aqui em Portugal. Teriam apoios e ele poderia estudar. A questão dele não ter terminado os estudos por causa da Sol, também está mal explicada. Quando a criança nasceu ele já tinha idade suficiente para ter terminado o curso. Acho que houve aqui uma falha de cálculos.
Fim dos spoilers!!
Faltam muitas coisas a este livro. Aspetos que um bom trabalho de revisão por parte de um leitor beta teria ajudado a autora a esclarecer e completar. É normal ficarmos muito ligados à nossa história e não darmos conta de algumas imperfeições. Aliás, quando não temos conhecimento de causa acerca dos temas acabamos por utilizar uma versão romanceada ou conduzir a narrativa através de erros sucessivos.
A autora precisa de perceber melhor a diferença entre o contar e o mostrar. Ela conta muito e mostra pouco e isso não satisfaz um leitor assíduo. Escrever: Roberto deu-me um estalo na cara é diferente de Eu tentava desviar-me das investidas do Roberto. A sala era um labirinto demasiado simples para que eu me pudesse esconder. E, quando menos esperava, uma mão forte e certeira atingiu o o meu lado esquerdo da face. A sua passagem deixou o calor, o ardor e vermelhidão de uma mão que só conhecia a força da violência. Na minha cabeça ficou a humilhação de, mais uma vez, sucumbir a essa mesma violência.
Deve pesquisar mais e melhor sobre os assuntos que quer retratar no livro para que não caia em incongruências e coisas irrealistas.
Não é um livro sobre abusos físicos e violência doméstica. Considero que seja um livro de superação dos traumas, de viver a felicidade para além do do sofrimento.
Esta opinião não é um destilar de veneno. Quero que ela seja útil a quem a lê, quero quebrar um bocadinho o feitiço de encantamento e a sobrevalorização que está a ser criada em volta do livro. No fundo, é a minha visão dos acontecimentos é o meu desencanto por um livro que prometia tanto e que os leitores me fizeram acreditar que valia esse tanto.
Nem sou muito de expor as fragilidades de um livro assim, em opinião. Quem já levou com a minha caneta azul da censura em revisões de leitora beta sabe que eu não perdoou. Acho que chego a ser um pouco obsessiva com a história e desconstruo muito do que é escrito. A minha intenção é sempre ajudar a tornar os livros melhores e mais realistas.
Não sei se a Sofia vai ou não ler a minha opinião. Se a ler e achar ofensiva, peço desculpa por isso. Quero apenas escangalhar-lhe este livro para que ela tenha hipótese de mudar no futuro e eu ter a oportunidade de vir aqui escrever e vibrar com a evolução dela.
Aos meus leitores, as maiores desculpas pela imensidão de texto que aqui mora.