Opinião | "Verity" de Colleen Hoover
Classificação: 4 Estrelas
Partilhar a minha opinião acerca do livro "Verity" sem usar spoilers será um verdadeiro desafio. Demorei a conseguir sentar-me e escrever uma opinião acerca do mesmo porque não sabia colocar em palavras a confusão cerebral que se instalou na minha cabeça.
Assim que terminei de ler a última página, o meu primeiro pensamento foi Isto não faz o menor sentido. Desculpem-me a ousadia deste pensamento, principalmente aqueles que vibram e deliram com as obras desta escritora, mas para o perceberem tem de saber duas pequenas coisas sobre mim. Eu não consigo ler um livro e dissociar de mim dois aspetos que condicionam a forma como interpreto as coisas à minha volta. 1) Sou uma pessoa que racionaliza tudo, procuro uma explicação lógica, científica e verdadeiramente possível para grande parte das coisas que me rodeiam (daí a minha dificuldade com os livro de fantasia) e 2) Muitas vezes o meu olhar de psicóloga interfere na forma como interpreto as histórias que me vou cruzando. Muitas vezes consigo desligar estes dois botões mentais. Outras há em que eles estão em estado On e colocam o meu cérebro num verdadeiro turbilhão de sinapses.
"Verity" foi um dos livros que ativou estes meus dois lados. Era impossível isso não acontecer tendo uma mulher, Verity, com um perfil psicológico muito particular e um homem, Jeremy, bonito e atencioso com um profundo amor pelos filhos com uma aura de mistério que nos intriga. Se isto já não fosse suficiente, juntamos Lowen, uma escritora tímida com uma imaginação bastante fértil. Claro que tudo foi cuidadosamente apimentado de tragédias e dramas capazes de fazer parar o cérebro. Digam lá se eu não tinha aqui um cocktail explosivo para o meu cérebro "psico-racional".
A leitura foi compulsiva e sempre com a certeza que tinha desvendado tudo sobre a Verity (que, em alguns momentos levou a minha memória até à Amy, a protagonista do livro "Em Parte Incerta"). Lia na expetativa de constatar como é que toda aquela loucura iria terminar.
A narrativa foi construída de forma muito interessante pois tudo adensava o mistério e a expetativa que pairava sob aquelas personagens. Até os cenários físicos onde as personagens se moviam estavam em congruência com o lado negro que a escritora quis passar ao leitor. No meu caso, eu imaginei sempre aquela casa e aquele lago envoltos em neblina e com um ambiente marcado pelo cinzento. Aliás, todos os cenários que davam corpo às cenas eu imaginava-os como sendo passados em dias nublados. A meu ver é uma boa ilusão de ótica que as palavras da escritora criaram na minha cabeça. Friso que isto é um único produto da minha imaginação. A história não dá indicações precisas sobre o estado do tempo, mas como já vos expliquei mais atrás a minha atividade cerebral é um bocado estranha (nada temam, apesar de estranha é completamente funcional).
E foi neste embalo cinzento que fui até às últimas páginas e atiraram por terra todo o meu raciocínio lógico, muito bem construído e alinhado. Aquele fim dá aso a uma infindável panóplia de interpretações. É um final aberto que deixa espaço à nossa imaginação e à nossa sensibilidade emocional e racional. Eu acreditei na Verity! Isto porque, para mim, era racionalmente impossível as coisas se terem passado de outra forma. Só temos acesso à sua visão dos factos, não sabemos como Jeremy interpreta a sua vida. Porém, depois de ler aquelas últimas páginas era, para mim, racionalmente impossível viver-se com uma pessoa sem lhe conhecer alguns lados mais obscuros (a não ser que andássemos muito cegos em relação às pessoas com quem lidamos). Acho muito pouco provável que Jeremy não conhecesse a verdadeira essência da sua esposa, principalmente no que se refere à forma como cuidada e olhava pelos seus filhos.
Apesar de tudo, tenho uma vozinha interior que não deixa que o meu cérebro desligue e o coloca a pensar no lado oposto desta minha interpretação. E isto é uma sensação horrível! Não permite que o livro fique simplesmente arrumado na nossa memória.
Tendo em conta esta minha minuciosa descrição acerca do livro, devem estar a perguntar-se "Então, se sentiste isto tudo, porque é que apenas deste 4 estrelas ao livro?". É uma questão muito legítima. Eu gostei muito do livro, foi uma leitura desafiante em termos de interpretação... Contudo faltou-me algo que me encaminhasse para um desfecho mais concreto. É uma questão de gosto pessoal. Tenho a certeza, que os leitores que são apaixonados por finais em aberto irão delirar com o desfecho do livro. No meu caso, deixou uma imensa frustração.