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Por detrás das palavras

Opinião | "Ensaio sobre a cegueira" de José Saramago (Blindness #1)

Ensaio sobre a Cegueira

Classificação: 4 Estrelas

Tenho de admitir que sempre tive alguns preconceitos com os livros de Saramago. Pelo que ouvia outras pessoas falar, por aquilo que me diziam... De mãos dadas com os preconceitos andava o medo. Sim, eu tinha medo de pegar nas obras do autor e odiar. Senti que não seria algo muito justo de se escrever, ainda por cima sobre um autor vencedor de um prémio Nobel. 

Não foi uma leitura fácil. Aqui vejo-me obrigada a concordar com a Célia Loureiro. Tal como ela, acho que a escrita é uma verdadeira floresta de silvas. É genial a forma como ele articula discurso direto com indireto, mas inicialmente foi penoso para mim. Senti algumas dificuldades em adaptar-me. A partir do meio do livro, as coisas ficaram melhores. Já conseguia acompanhar melhor a história, mas a estranheza continuava lá. 

A história foi uma boa surpresa. Acho que é um daqueles livros capazes de inspirarem boas discussões em torno das interpretações que surgem desta leitura. À medida que ia lendo, dava por mim a pensar no quão bom seria ter o meu professor de Português do secundário a analisar esta obra. 
Senti-me intrigada por tanta coisa que aconteceu neste livro. Em muitos momentos pensei em Saramago e em que é que ele estaria a pensar quando escreveu aquela cena. Queria conhecer as motivações pessoais por detrás da ficção. 

Achei interessante a ausência de nomes das personagens. Não sei se é prática comum do escritor, mas aqui fez todo o sentido. Nesta história, aquilo que interessava eram as características das personagens. Interessava conhecer as suas motivações, as suas dificuldades... Era importante perceber de que forma elas passavam a lidar com a sua nova situação.

Muitas partes do livro eu interpretei como uma crítica à sociedade. A forma como os cegos viviam na clínica onde foram isolados é uma pequena amostra daquilo que nós, cidadãos, vivemos em liberdade. Há sempre aqueles que se aproveitam dos mais fragilizados, há aquele que no meio de toda a cegueira social consegue ver mais além e orientar de forma positiva os outros, há aqueles que se sentem simplesmente perdidos e desamparados e há outros que nasceram para serem lideres.
A imundice, a sujidade e as necessidades fisiológicas básicas são tão bem descritas que me causaram repulsa. Cheguei a sentir-me verdadeiramente enjoada com algumas situações.

Quero ler mais livros de José Saramago. Penso que com o hábito me consigo adaptar a escrita. Que livro do autor recomendam para uma próxima leitura?

Opinião | "O conto da ilha desconhecida" de José Saramago

O Conto da Ilha Desconhecida
Classificação: 4 Estrelas

Nunca ter lido nenhuma obra de José Saramago era uma grande falha minha. Medo, receio de não me adaptar ao seu género de escrita e porque não me sentia atraída para as suas obras alimentavam a minha resistência em ler as suas obras. Penso que, acima de todas estas questões, era o receio de me cruzar com narrativas difíceis, sem pontuação e acabar por não perceber. Ao fim desta primeira leitura, acho que me enganei.

Para colmatar esta minha falha e ter uma primeira experiência com o autor decidi começar por um conto. É uma obra mais pequena e achei que era o ideal para me familiarizar com a escrita do autor e ver como me sentia com a leitura.

Como esperava, encontrei pouca pontuação. Os diálogos não estão assinalados, há muitas vírgulas, muitos diálogos misturados com pensamentos... mas isso não interferiu com a minha compreensão da obra nem com a minha perceção acerca do desenrolar dos acontecimentos. É engraçado constatar que, enquanto lia, eu ia fazendo a pontuação na minha cabeça, tornando a leitura bastante fluída e agradável.

A escrita é muito bonita. Em cada palavras sentimos a sensibilidade do autor e a sua capacidade de nos colocar a pensar sobre a história, as personagens, o mundo e sobre nós próprios.
A narrativa d'O conto da ilha desconhecida é um verdadeiro convite à reflexão. Deixa-nos a pensar sobre a sociedade, naquilo que os outros esperam de nós e de que forma somos vistos quando ousamos abraçar a aventura, o pensar "fora da caixa". É um conto que me levou a explorar no meu interior a importância de pensar diferente, explorar aquilo em que acreditamos e não deixar de perseguir os meus sonhos. 

Só não consigo atribuir uma pontuação mais elevada porque achei que terminou de forma muito abrupta. Estava tão submersa na narrativa que senti que acabou demasiado depressa. Queria mais, queria continuar embalada por aquelas palavras e por aquela sensibilidade.
Depois desta experiência tão positiva quero aventurar-me por mais obras do autor. Qual recomendem para minha próxima leitura?

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