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Por detrás das palavras

Opinião | "O Menino de Cabul" de Khaled Hosseini

O Menino de Cabul
Classificação: 5 Estrelas

Depois de ter lido Mil Sóis Resplandecentes fiquei com vontade de ler mais livros de Khaled Hosseini. É um autor com uma escrita muito bonita e com histórias duras e que me permitem conhecer uma realidade completamente diferente da que eu conheço.
Já há algum tempo que andava atrás d' O Menino de Cabul na biblioteca. Assim que o apanhei, trouxe-o... Mas devia antes tê-lo comprado, assim como o Mil Sóis Resplandecentes. Gostei tanto dos dois que gostaria de os ter na minha estante. 

Chorei com O Menino de Cabul. Foi uma história que mexeu com a  minha sensibilidade. Eu já sou sensível por natureza, mas quando uma história aborda assuntos relacionados com as crianças sinto o eu coração a quebrar mais facilmente.

O nosso narrador é Amir. Um pré-adolescente afegão que lutava pelo afeto e reconhecimento do pai. Ele sentia que nunca era suficientemente bom aos olhos do pai. Para agravar a situação o talento dele estava um pouco longe das expetativas paternas. Tudo isto moldou imenso a sua personalidade e condicionou a forma como ele decidi lidar com Hassan.
Hassan era o seu amigo mais fiel. Que fazia qualquer coisa por ele. Um doce de miúdo e de pessoa. Infelizmente pertencia a uma classe social inferior e isso fazia com que Amir, por vezes, fosse um pouco cruel.

Pelo meio surge um pré-adolescente tirano, Assef. Um miúdo que, aos olhos da nossa sociedade, é um delinquente. Uma personagem muito bem construída, que me ofereceu umas valentes náuseas. É daqueles miúdos odiosos que só estão bem a fazer mal aos outros. É duro assistir ao seu comportamento. As atitudes dele para com Amir e Hassan ofereceram-me momentos de leitura muito duros. Hassan fez-me chorar... Chorei de revolta, chorei pelo sofrimento dele, chorei pela injustiça de tudo...
Mas o mundo é curioso... E, tal como na vida real, há pessoas que são capazes de nos surpreender. Hassan é feito de bondade e de amor. E é um material tão sólido que ele consegue sempre ver para além do comportamento menos positivo daqueles que o rodeiam. Ameio o Hassan, mas sofri muito com o percurso de vida dele.

Amir também me fez sofrer, porque transformou as coisas boas dele em comportamentos tóxicos e isso consumiu-lhe o amor e a amizade. Acho que a Soraya e o Sohrab ajudaram Amir a se perdoar, a perdoar o seu passado e mostrar-lhe o lado bom do ser humano. A Soraya mostrou-lhe que podemos usar as nossas capacidades em favor do outro, ajudando o outro a superar as suas fragilidades. Sohrab ajudou Amir a organizar as emoções do passado, ajudou-o a ser forte, mostrou-lhe que é bom dar de nós aos outros, quando tudo é feito de forma positiva.

Rahim Khan é uma personagem que eu considero muito importante na história. Ele representa o lado paternal orgulhoso na vida de Amir. Rahim oferece a Amir o amor e o reconhecimento pelas suas capacidades, acabando por colmatar um pouco as falhas paternas. É alguém que conhece Amir muito bem e conseguiu sempre ver mais além ao ponto de conduzi-lo da melhor forma possível.

É uma história com muitos contornos tristes. Há passagens que são de uma brutalidade capaz de me sugar as palavras e a alegria.
Apesar de toda a dureza da história, eu acho o livro maravilhoso e com uma escrita extremamente cativante. Quero muito ter os livros do autor. Li-os porque existem na biblioteca, mas gostei tanto das histórias que, um dia, gostaria de os adquirir para a minha biblioteca pessoal.

Opinião | "Mil sóis resplandecentes" de Khaled Hosseini

Mil Sóis Resplandecentes

Classificação: 5 Estrelas

Há muito tempo que um livro não me levava a lágrimas intensas, nem mexia tanto com o meu sistema emocional. 
A curiosidade em ler Mil sóis resplandecentes não é recente. Desde que entrei no mundo da blogoesfera que me deparei com opiniões de pessoas a quem este livro não foi indiferente. Então sempre me questionei acerca do que é que este livro poderia ter de diferente, uma vez que foi capaz de tocar muita gente de uma forma tão especial. Agora que terminei esta leitura passo dizer que este livro tem a sensibilidade estampada nas palavras e nas personagens; tem uma realidade que nos ultrapassa enquanto habitantes do mundo ocidente; tem a dureza da guerra; tem os detalhes históricos, que em nada aborrecem a leitura. Tem tanta coisa e de forma tão avassaladora que me fica a sensação que as minhas palavras, por muito bem escolhidas que sejam, não conseguem expressar de forma fiel a minha experiência com esta leitura.

De uma forma muito cuidada e bem documentada somos convidados a conhecer a realidade afegã pelos olhos de Mariam e Laila. Pertencem a gerações diferentes, com níveis socioculturais e económicos também dispares, mas a guerra acaba por colocá-las em pé de igualdade. Assim, começam a partilhar a mesma dura realidade. Se num primeiro momento tudo as afasta como pólos opostos num campo magnético, num segundo momento aproximam-se e ganham muito mais do que se cada uma se mantivesse no seu canto a olhar de lado para a outra.

Foi linda a forma como Mariam e Laila começaram a partilhar a amizade. Quanto mais se ofereciam uma à outra, mais eu me emocionava. Tenho plena certeza que cada uma delas brilhava no coração da outra mais do que mil sóis. Era esse brilho que as fazia sobreviver e resistir a Rashid, um "tradicional" marido afegão. 

Através de Rashid e de alguns outros elementos percebi o quanto devo agradecer ter nascido mulher num estado de direito, onde sou respeitada onde me permitem estudar, aceder a livros e a conhecimentos. Com este homem percebi que temos de lutar por relações felizes, estáveis, sem espaço para violência. Pois, assim, estaremos a lutar por algo que muitas mulheres que vivem sobre a pressão do Estado Islâmico não têm oportunidade de conquistar.

Cada passagem do livro, cada cena marcada pelo desrespeito, cada roquete que caía de forma aleatória sob Cabul ficaram gravados na minha cabeça e no meu coração. Quero guardar em mim a doçura e respeito que viviam no olhar de Tariq, a coragem e a generosidade de Miriam, a força de vontade e o respeito pelo conhecimento de Laila, a ternura de Aziza e o temperamento difícil de Rashid.

Um livro duro, escrito de forma excelente e sensível, que mexe com os nossos sentimentos e nos faz pensar acerca de como os direitos humanos e os direitos das mulheres são facilmente violados, deturpados e esquecidos.
Se por um lado somos fustigados com esta crueldade, por outro lado surgem os raios de esperança que as personagens guardam em cada luta por dias melhores. 

Por fim, o último aspeto que me ficou foi a importância da educação. A escola, o fomentar o interesse pelo conhecimento e pela aprendizagem moldam em muito a nossa visão sobre as coisas. No fundo, o acesso ao conhecimento permite-nos pensar e refletir de forma crítica sobre o que nos rodeia.

Um leitura avassaladora que me correrá pelas veias durante muito, muito tempo. 

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