"O cavalheiro inglês" foi a minha última leitura das férias. As expetativas estavam altas! Depois de ter adorado "O ano da dançarina" espera cruzar-me com uma leitura capaz de me oferecer bons momentos e uma história para recordar. Esta história conseguiu estar à altura das minhas expetativas e foi uma excelente forma de terminar as leituras das minhas férias.
A ação deste livro decorre no final do século XIX, num Portugal ferido pelos ingleses em consequência do Ultimato Inglês e com muito descontentamento relativamente à Monarquia. O contexto social está muito bem apresentado. Foi muito fácil conseguir-me situar naquele tempo, naquele espaço e viver o desafios sociais, económicos e políticos que marcaram aquela época.
Numa escrita muito acessível e sem floreados, a escritora levou-me numa viagem por outros tempos. As descrições dos espaços, das roupas, das personagens e do seu mundo interior são aspetos muito bem conseguidos e que oferecem um realismo muito grande ao livro.
Sofia é quem merece o destaque da obra. Ela e o irmão alimentam o dinamismo do livro. Partilham uma relação única, mas vivem a realidade de forma diferente. É uma personagem feminina capaz de inspirar as leitoras. Numa época em que as mulheres não tinham voz ativa na sociedade, Sofia ousou ser diferente. Foi muito interessante assistir às suas lutas, aos seus dilemas morais e à forma como desafiou preconceitos e vontades masculinas. Teve a capacidade de se afirmar no seu espaço e fazer conquistas que lhe trouxeram muita felicidade. Robert parecia ser mais feroz. Um inglês respeitador, trabalhador e que protagoniza diálogos muito, muito realistas. É fácil reconhecê-lo no livro.
O elemento romântico que alimenta a história é crescente e simboliza liberdade, conquista e a quebra de preconceitos. Os protagonistas desta história de amor sabem alimentá-la; se por um lado olham para a união como um negócio e uma forma de resolver a situação, por outro os sentimentos vão crescendo e permitem a criação de laços mais coesos.
Nesta narrativa há espaço para muito elementos: História, amor, aventuras, crime e fugas. É um livro cheio de dinamismo, sem espaço para aborrecimento.
É um livro que ilustra o crescimento da escritora. Comparativamente ao livro "Alma rebelde", este está mais coeso, com as passagens bem desenvolvidas e descritas e mais aprofundado na contextualização histórica. Colocando-o na balança de preferências, este é umas gramas mais leve que "O ano da dançarina".
Terminada a leitura do livro "A mão que mata" tenho dificuldade em perceber o que tanto cativou os leitores, principalmente aqueles que leem muitos livros dentro deste género literário.
Começando pelos aspetos positivos e que eu acho que foram bem conseguidos:
A capa e o aspeto gráfico do livro. Eu não sou muito de prestar atenção ou de me importante com as capas (não sou esquisita), mas esta capa captou bem a minha atenção. É visualmente bonita e tem a capacidade de me transportar para um ambiente mais sombrio. É um elemento que acaba por orientar o leitor para a atmosfera que a história pretende transmitir. O interior do livro também revela muito cuidado e tem pormenores nas primeiras páginas de cada capítulo que são muito bonitas e sugerem cuidado no momento de criar o objeto.
O título. Aos títulos já costumo prestar mais atenção. Este é daqueles que tem a capacidade de me intrigar e que me faz querer ler o livro. Na minha opinião, foi bem conseguido e tem um forte poder de atração.
Estes foram os aspetos que me cativaram. Tudo o resto que compõem este livro trouxe-me bastante insatisfação. O livro insere-se num género literário que gosto muito e que faz parte da minha rotina de leitora. Este aspeto talvez faça de mim um leitora mais exigente e mais atenta ao que encontro na história.
O que é que não funcionou neste livro?
📌 Escrita A narração é marcada pelo uso exagerado das vírgulas, pelas comparações onde falta a originalidade e pela predominância do contar. Realmente, senti muito a falta de que a escrita me mostrasse as coisas, me mostrasse o que se estava a passar. Dá a impressão que o livro recebeu uma revisão pouco cuidada, pois muitos destes elementos poderiam ter sido corrigidos. Acho que jamais me irei esquecer da expressão "Arfavam como cães (...)" (p.215). Foi uma má escolha de palavras para enquadrar uma descrição de uma cena que deveria ser caracterizada pela sensualidade. É uma expressão que tira elegância à cena e não dá o tom que deveria dar. Há partes demasiado contadas, quando deveriam ser mostradas. Por exemplo, nas cenas de interrogatório, quando a personagem precisa de falar sobre o que aconteceu, o autor atalha caminho e, em meia dúzia de linhas conta o que se passou. Seria muito importante mostrar! Como estava a testemunha? Qual a sua linguagem corporal? Que sinais dava enquanto descrevia a sua posição perante o acontecimento? Estes elementos perdem-se quando se opta por contar em vez de mostrar.
📌 Diálogos Na sequência da minha última observação surgem as limitações dos diálogos deste livro. Muitas vezes me questionei se as passagens que estava a ler tinham como real objetivo mostrar um interrogatório policial. Fez-me confusão ver investigadores e suspeitos a dissertar sobre questões sociais /pessoais (por exemplo: a decisão de uma mulher ter ou não filhos, a vida pessoal do inspetor Bruno), quando o que se devia estar a fazer era recolher informações que permitissem resolver o caso. São diálogos desconexos, que não contribuem para o desenvolvimento da narrativa. Soam de forma artificial e parecem ter sido encaixados de uma força demasiado forçada.
📌 Personagens Eu não consegui gostar de nenhuma das personagens. Todas elas carregam demasiados estereótipos, fazendo com que se tornassem unidimensionais aos meus olhos. Eu adoro personagens com muitas camadas, em que o desenvolvimento da narrativa me permite aceder ao interior de cada uma delas. Aqui, isso não aconteceu com nenhuma. Os inspetores da Polícia Judiciária são machistas, pouco profissionais e ocos. Estão tão estereotipados! É a preocupação com o aspeto físico, a necessidade de impressionar as mulheres e a preguiça que os impede de usar o cérebro. O polícia experiente preguiçoso versus o jovem polícia com capacidades sensitivas que ajudam a resolver o caso. Tanta gente a fazer tão pouco e onde os chocolates que comem ganham mais destaque. A família Ávila e todos os que a rodeavam encaixam em diferentes clichés associados a famílias de classe alta. Há adultério, há políticos, há corrupção, há depressão, há quem não tenha sorte no campo financeiro como grande parte dos familiares, há a tia irascível de quem ninguém gosta, há os jardineiros que dão cor às vidas aborrecidas das patroas chiques. Atenção, eu não sou contra o uso de clichés! Aborrece-me é o seu uso exagerado e a má exploração dos mesmos. A Susana, namorada do Bruno, é demasiado infantil e imatura. O papel dela no livro é ir preenchendo uns espaços na vida do jovem inspetor e dar algumas cenas de sexo de má qualidade ao livro. Ainda houve espaço para meter uma jornalista que nada acrescenta àquilo que o leitor quer saber, que é: Quem matou a tia que não gostava de ninguém. É uma cena descontextualizada, desnecessária e traz alguns momentos que me provocaram algumas paragens cerebrais. Não conseguia perceber a intencionalidade daquelas descrições e daqueles acontecimentos para o real conteúdo do livro, e o meu cérebro parava em desespero. A criança da história também foi demasiado infantilizada. Espera-se outro tipo de comportamento de uma criança com 7/8 anos. De acordo com as descrições e comportamentos, eu diria que esta criança tem 5 anos.
📌 Enredo (Esta parte poderá conter spoillers) O enredo precisava de ser extremamente cativante para que pudesse camuflar todas as fragilidades até aqui apontadas. Partindo de uma premissa muito usada era necessário inovar e trazer coisas interessantes e desenvolver o conteúdo de forma a causar algum impacto. Houve passagens que me ultrapassaram. Coisas em que se afiguravam como impossíveis aos meus olhos. Recolher amostras de ADN de alguém que está a dormir, justificando que o sono era demasiado pesado para dar conta? Lamento, mas por muito pesado que seja o nosso sono é impossível alguém enfiar-nos alguma coisa na nossa boca sem nos apercebermos. Isto foi uma tentativa irrealista de complexificar algo que seria simples para outras personagens (escova de dentes - entendedores, entenderão). Enfiar um abre cartas dentro de um urso de peluche sem descoser e voltar a coser? Sim, fez-me confusão. E depois há uma miscelânea de assuntos que não interessam nada para o cerne do livro e para a história que ele se propõe a contar. Parece que o escritor queria meter muitos assuntos ao barulho numa mesma obra e acabou por arriscar demasiado. Tudo o que se escolhe introduzir num livro deverá ser coerente e enquadrar-se na linha narrativa que se opta seguir. Colocar coisas só porque fazem parte da agenda sociocultural e sem que se relacionem com o conteúdo narrativo é oferecer ao leitor passagens desnecessárias.
Sei que esta minha opinião é impopular. As opiniões com as quais me tenho cruzado seguem uma tendência positiva. Por vezes, quando as leio, sinto que li um livro diferente. Eu senti necessidade de expor de forma detalhada tudo aquilo que considerei não funcionar, tal como faria numa leitura beta.
Já sabes, a caixa de comentário está aberta às tuas visões sobre o livro. Se quiseres, por favor, partilha-as.
No início do mês, a escritora Rute Simões Ribeiro ofereceu aos leitores o download gratuito dos seus livros. Eu desconhecia esta escritora e o seu trabalho. Só cheguei até ela através da Tita e da Daniela. Como confio nas recomendações delas decidi arriscar.
No início estranhei a escrita e o modo muito próprio para contar a história. A Rita tem uma escrita muito bonita, com uma tonalidade algo lírica que me encantou. A narrativa e a forma como é contada é um pouco diferente daquilo que eu costumo ler e foi isso que me dificultou um pouco a leitura.
"A breve história da menina eterna" conta-nos a história de M. e da sua relação com a finitude da vida. É um livro que tem um forte potencial interpretativo e, por essa razão, é um excelente candidato a leituras conjuntas com possibilidade de discussão em grupo. Há muito para ler e assimilar nas entrelinhas desta história aparentemente simples. São poucas páginas, mas estão carregadas de uma forte simbologia.
A forma como vivemos a morte e como encaramos o fim de vida são fortemente influenciados pelos padrões culturais. A morte acaba por ser um não assuntos, na minha realidade as pessoas têm dificuldade em falar da morte e da preparação para mesma. Vive-se a ilusão da eternidade, ofuscando o fim inevitável da nossa vida. Também é positivo que assim seja, caso contrário poderíamos ser dominados por um medo intenso que nos impedia de vivermos as coisas. M. foi vítima dessa necessidade cultural de pouparmos as crianças a assuntos complexos. Foi-lhe oferecida da visão da eternidade, mas essa oferenda permitiu-lhe a liberdade de viver de forma descomprometida. Contudo, não se prepara para a morte. Fala-se muito em oferecer condições para uma boa vida, ou para um bom fim de vida. São geralmente essas as expressões culturalmente aceites. Nunca ouvi expressões como: oferecer condições para uma boa morte; ou preparar a pessoa e a família para a morte.
A morte e o luto são assuntos dolorosos, complexos e que têm um impacto diferente nas pessoas. Não há formas melhores ou piores de reagir. Há, simplesmente, diferentes maneiras de lidar com a perda e com o sofrimento que a mesma provoca. A nossa personagem foi "poupada" no que à questão da morte diz respeito e foi vivendo confiante na sua dimensão eterna. Já sabemos a falácia que reside nesta ideia e o livro permite-nos descobrir os sentimentos, as reações e as emoções que surgem quando a inocência se quebra.
Este livro ganhou o meu coração pela escrita e pela reflexão que me ofereceu. Não adorei, mas ficou a vontade de conhecer mais livros da escritora. Esta opinião é um reflexo da minha interpretação do texto e da história que li. Se optares por ler esta obra, poderás ter uma visão diferente e está tudo bem.
Se já leste, o que é que achaste? Que reflexões retiraste desta leitura?
Se ainda não leste, ficaste com curiosidade? Porquê?
Desde o momento em que aprendi a diferença entre o contar e o demonstrar que a leitura se tornou diferente para mim. Esta aprendizagem permitiu-me olhar para a histórias de outra forma e perceber melhor o porquê de alguns livros não funcionarem comigo.
Quando o sol brilhafez-me perceber a importância do demonstrar para que uma história ganhe dimensionalidade para mim. É verdade que parti para a leitura com expetativas bastante elevadas. As pontuações e opiniões do Goodreads sugeriam uma boa leitura. Contudo, logo nas primeiras páginas senti que iria ter pela frente uma leitura exigente e que estava longe das promessas que antevi no Goodreads.
Como deves perceber pelo meu primeiro parágrafo, este livro revela algumas fragilidades estruturais. O contar é aquilo que domina o livro e pouco espaço sobre para o demonstrar. As páginas em estilo relato sucedessem-se umas às outras. Pelo meio surgem diálogos, por vezes, artificiais; contruídos através de frases feitas que não representam as personagens deste livro. Não são frases de gente simples, de um Portugal demasiado rural e a sair de um período de ditadura que o desgastou. Há excesso de purple prose que torna a leitura frustrante e onde me arrastei na esperança de que as coisas melhorassem.
Outro problema do livro é o seu foco, o seu objetivo. A minha sensação é que o escritor quis abraçar o mundo e acabou por se perder nele. As temáticas são flutuantes, os acontecimentos sucedem-se uns aos outros e os conflitos não são esgotados de forma a dar um propósito e uma orientação clara à história e às suas personagens. Temos um livro cujo início se centra quase em exclusivo na dinâmica de uma aldeia e das pessoas que lá vivem; depois aflora-se a história de Felismino e Alice, sem se aprofundar verdadeiramente as emoções e os acontecimentos; seguem-se as tragédias de Edmundo, um homem simples que gosta de ler, muito contadas e pouco demonstradas.
Sendo uma narrativa cuja a ação decorre, maioritariamente, na década de 70, está demasiado despedia de contextualização Histórica. De referências que levem o leitor para aquele espaço, para aquele tempo e para aquele lugar. No final, elas aparecem de forma mais vívida, mas em grande parte do livro senti que poderia ser uma história passada numa qualquer aldeia do interior nacional na década de 90.
Há uma enorme miscelânea de assuntos que o livro aborda: demência, luto, alcoolismo, saúde mental. Apenas faltou uma abordagem que esgotasse estes assuntos de uma forma mais realista e, no caso da saúde mental, mais respeitável e verdadeira. Na fase final do livro, há um conjunto de páginas cujo foco é a saúde mental. Confesso que a forma como o assunto foi tratado me revoltou. Achei as cenas pouco coesas e que ilustravam pouco o que era ser doente mental na década de 70.
Além da saúde mental, há outro aspeto do comportamento de Edmundo que me pareceu demasiado normalizado. Não quero entrar em pormenores para não deixar spoilers, mas não achei o comportamento coerente com a situação nem com a personagem em questão.
Desta leitura irei guardar a ruralidade presente em muitos dos momentos do livro. Viver num universo rural permitiu-me identificar com alguns aspetos e situações do livro. Há passagem que me remetem para as histórias que os meus avós, os meus pais e amigos da família partilhavam de como era viver numa aldeia mais interior nas décadas de 70 e 80.
Este não é um tipo de livro que eu opte por comprar. A verdade é que não vai muito ao encontro dos meus interesses. Porém, a A., a minha "estágiamiga" decidiu oferecer-mo de presente. Ela foi conquistada pelo livro e pela sinopse; eu comecei a leitura com alguma reserva.
O livro reúne um conjunto de texto soltos que abordam o desenvolvimento pessoal e a importância de acreditarmos nas nossas capacidades. No fundo, são textos motivacionais.
São textos agradáveis de ler, mas não me tocaram de forma particularmente especial. Acho que não têm a profundidade suficiente para me levar a reflexões. Eu procuro sempre coisas mais complexas. Um livro de ficção, com uma boa história (drama, romance, thriller), por vezes, tem uma maior capacidade de me colocar a pensar nos assuntos a refletir na minha vida. No fundo, passei pelas páginas desde livro de forma um pouco leviana.
Talvez seja um bom livro para quem se está a iniciar na leitura, para quem procura textos soltos que abordem a resiliência humana e a capacidade que pode viver em cada um de nós.
É-me um bocado difícil escrever a opinião a este livro. Gostei menos do que aquilo que estava à espera. O ter arrastado a minha leitura ao longo de muitos dias também não abonou a minha relação com a história e com o livro.
O livro é muito conhecido na comunidade. Focado no Estado Islâmico, no terrorismo, na crise dos refugiados e com foco na cultura muçulmana; “A célula adormecida” apresenta um conjunto de factos relacionados com estes temas que despertaram o meu interesse e me possibilitam aprender conteúdo.
É um livro muito factual. A história vive dos factos e daquilo que eles vão desencadeando. É claro que existem personagens, e entre eles estão desenhadas relações mais ou menos complexas que dominam o desenvolvimento da narrativa. Achei estas relações pouco dinâmicas e pouco realistas. Senti que algumas foram pautadas pela artificialidade dos diálogos, outras por comportamentos das personagens que me pareceram distantes da real personalidade que autor queria passar. Há certas passagens do Afonso e certas formas de estar que não são congruentes com a personalidade que está desenhada para ele. Senti uma certa infantilidade e imaturidade quer em algumas das suas atitudes quer em algumas das conversas que vai desenvolvendo. Isto foi condicionando a minha ligação ao Afonso e à Diana, assim como às suas problemáticas.
Sarita, Ahmad e Sami, a família síria a viver em Portugal, foram as personagens que mais me cativaram e que mais me impulsionavam a ler. Gostei imenso das dinâmicas deles e dos dramas que marcaram a passagem deles por este livro. Foram a parte que mais gostei neste livro.
Analisando a sequência dos acontecimentos, em alguns momentos senti que alguma informação estava em falta. Já no final do livro há uma situação a envolver a Diana, o Afonso e o Gustavo que não ficou muito clara para mim. Há uma certa atrapalhação temporal (o conteúdo dá a indicação de que passou mais tempo do que aquele que o comportamento das personagens num dos capítulos anteriores e no início desse deixa transparecer). Isto envolve um encontro que não nos foi mostrado que, na minha opinião seria relevante para uma melhor compreensão da relação entre a Diana, o Afonso e o Gustavo.
Quanto à escrita senti uma evolução positiva comparativamente ao anterior livro que li do escritor (“O espião português”). Só houve três aspetos mais chatos: 1) a quantidade de vezes a que o autor recorre a “corpo seco” para descrever o físico dos homens; 2) a constante utilização do nome completo das personagens (com o avançar da leitura torna-se aborrecido, porque o leitor sabe perfeitamente quem é quem); e, 3) há descrições físicas de personagens a mais, em algumas situações o escritor descreve fisicamente a personagem com um grau de detalhe que acho desnecessário.
Gostei do final e da carga dramática que o autor ofereceu àqueles momentos finais. A única coisa que senti mais forçada foi na relação de Diana e Afonso. A narrativa não evolui o suficiente para aquele desfecho. Senti que foi uma aproximação demasiado forçada. O final alternativo deixou-me com vontade de descobrir a próxima aventura do Afonso.
Esta leitura não foi completamente às cegas. Há dez anos fiz leitura-beta do livro que deu origem a este “Encontro em Itália”, por isso já conhecia os traços gerais da história (a memória já não guardava os pormenores deste livro, final incluído).
A capa e o título podem enganar um pouco o leitor e afastar quem tem um gosto por fantasia. Ao primeiro olhar parece um romance um pouco ao estilo dos young-adult, mas é bem mais do que uma história romântica. Sim, há espaço para o romance! Porém, este romance está contextualizado num universo marcado pela fantasia e pelos anjos caídos.
Fantasia não é aquele género capaz de me fazer vibrar. Há algumas exceções! Este é um deles. Apesar de todos os elementos que lhe conferem fantasia, tal como da primeira vez, eu consegui gostar da história e das suas personagens.
O livro narra a história de dois amigos, Sara e Henrique, que partilharam a infância e grande parte da sua adolescência. Aos 18 anos acabam por seguir caminhos distintos e perderam um contacto um do outro. Ao sabor de uma antiga promessa, o reencontro acontece e uma série de aventuras cruzam-se no caminho dos dois amigos, para desespero do sensato e ponderado Henrique.
E, assim, as palavras tecem uma história com uma dinâmica muito interessantes. Não há espaço para o leitor se sentir aborrecido! Os capítulos curtos e a sucessão de mudanças permitem uma leitura entusiasmante onde permanece a vontade de saber onde é que a Sara e o Henrique nos irão levar. Por vezes, o ritmo é demasiado rápido. Eu gostava que a viagem a Itália não fosse tão intensamente rápida. Porém, reconheço que este ritmo acompanha a personalidade intensa, instável e frenética da Sara.
Haari é uma das personagens mais especiais com quem me cruzei. Tal como achei quando li a primeira versão, ela merecia um livro só para ela. Nesta personagem, concentra-se a magia, o mistério e situações caricatas que facilmente arrancam um sorriso. Associada a Haari e um conjunto peculiar de personagens, existe um livro. Este objeto tem uma importância significativa na história e acho que o Henrique não foi capaz de experimentar toda a sua potencialidade.
Concluindo, “Encontro em Itália” é um livro que conjuga romance contemporâneo com fantasia urbana. Esta conjugação poderá ser útil para leitores que, tal como eu, não sejam grandes apreciadores de livros de fantasia mais “puros”.
Para mim é sempre complicado quando tenho que partilhar uma opinião menos favorável relativamente a um livro. É ainda mais difícil quando: 1) o livro é de um escritor português e 2) o livro foi-me disponibilizado pelo(a) escritor(a).
A escrita está associada a sonhos pessoais. Uma opinião menos positiva significa quebrar e estilhaçar o ego de quem ousou lutar pelos seus sonhos. Apesar disto, sinto que tenho de ser sincera. Partilhar uma falsa opinião não irá contribuir para a evolução de quem ousou seguir o seu sonho. Por esta introdução já conseguem antever a minha experiência com este livro.
Há umas semanas fui contactada pela Telma, a autora deste livro, com um convite para ler a sua obra. Tenho sido mais seletiva com estes pedidos, mas decidi arriscar (só correndo riscos tenho oportunidade de descobrir). Ela enviou-me o e-book e eu comecei a ler. Depois de ler meia dúzia de páginas, já estava completamente desmotivada para a leitura.
“A rainha desejada” tem Ana como protagonista. Ana vive no século XX, mas um incidente leva-a numa viagem pelo tempo. Estas viagens no tempo podem ser perigosas para o escritor. Exigem pesquisa, conhecimento e coerência no conteúdo que introduzem. Neste livro sente-se muito a falta deste conhecimento e do brio em colocar as coisas em consonância. É tudo “despejado” para o texto de uma forma pouco cuidada e demasiado amadora. Eu gosto de ler romances históricos e de época, mas gosto de ver as coisas com sentido e bem alinhadas. A forma como tudo foi conduzido parecia que ia culminar num desrespeito pelo que de facto aconteceu com a História de Portugal. E, em parte, acabou por se verificar.
Não apreciei a forma como a narrativa foi conduzia. Eu não conseguia visualizar a beleza de D. Manuel I (basta uma pesquisa rápida na internet para perceber que beleza era um conceito que não se aplicava ao físico deste rei). Acho que a imagem que a escritora passou ultrapassa a realidade; mexer num aspeto tão específico da história de Portugal, dando-lhe uma conotação diferente, fez-me confusão. Fez-me imensa confusão uma jovem do século XX, achar as roupas do século XV confortáveis (dada a quantidade de peças e acessórios que compunham o vestuário feminino). Fez-me muita confusão os banhos na praia em pleno século XV. O comportamento de Ana e restantes personagens estava completamente descontextualizado da época que pretendia retratar. Há poucos elementos que situam o escritor na época, e os que existem estão mal descritos e são deturpados em função dos interesses da escritora.
O desenvolvimento da narrativa não foi o único problema. A escrita é fraca e com bastantes erros ortográficos. É tudo demasiado contado e pouco descrito. A pontuação é outro aspeto que carece de uma revisão profunda. Várias vírgulas entre sujeito e predicado; ausência das mesmas quando a autora usava o vocativo; diálogos e frases totalmente mal pontuadas. Isto revela falta de cuidado na revisão e um grande amadorismo na escrita. No fundo, temos um livro com graves problemas na estrutura narrativa e mal escrito.
É uma escrita muito desleixada. Sinto que é necessário muito trabalho. É preciso ler mais e escrever mais para que isso se reflita numa escrita cuidada e cativante.
Acho que com alguns exemplos, poderão perceber o que é que funcionou mal nesta obra.
“O primeiro a despertar foi Ana, que abriu os olhos lentamente e vislumbrou o rosto de Manuel, que dormia um sono profundo e reparador. Ana acariciou-o carinhosamente no belo rosto, e assimilou amar muito aquele homem, com todo o seu coração e que desejava verdadeiramente ficar a seu lado para sempre, mesmo que isso significa-se nunca regressar ao seu século.” – Para além da má construção frásica, podemos ver o encontrar um tipo de erro que se repete até à exaustão ao longo da obra.
“Naquele dia de verão, ao pôr do sol e observando Lisboa do lado oposto, Ana sentia-se ansiosa, como se no ar crepita-se algo, como se a brisa suave que sentia nos seus longos e ondulados cabelos estivesse a sussurrar-lhe aos ouvidos, mas desvalorizou o sentimento, sacudiu os seus pensamentos e continuou o seu passeio, observando o rio e as suas cores fortes de origem vermelha que o pôr do sol espelhava nas águas calmas.” – Aqui temos um mau exemplo de pontuação (um entre muitos outros ao longo do livro).
Para além dos problemas que já identifiquei, estes parágrafos são uma ilustração de uma escrita pouco rudimentar e que precisa de bastante trabalho para que seja aperfeiçoada.
O final foi desastroso. Eu percebo o motivo que conduziu àquele desfecho, mas fez-me confusão. Sim, foi demasiado fantasioso para as minhas preferências. Houve situações em que me ri, dado a quantidade de disparates que ali foram enumerados. Foi horrível perceber a tentativa forçada de incluir a pandemia; a estupidez de dar um final feliz à Ana, aspeto que implica mexer com dados concretos da História de Portugal e o amadorismo que se espelha na forma como os acontecimentos são revelados. Os próprios comportamentos destas últimas páginas reforçam a falta de sensibilidade para colocar no papel a experiência pessoal de quem passa por um evento que lhe altera completamente a vida.
Numa frase, “A rainha desejada” é uma adaptação barata e péssima da série Outlander.
Nota: Não posso deixar de referir um aspeto que me deixou um pouco indignada e justifica o detalhe esta opinião. Penso que nunca escrevi uma opinião tão dura. No início da semana, enviei um e-mail à Telma. Expliquei-lhe o que achei do livro, dei-lhe algumas sugestões de melhoria, enviei-lhes uns links para se informar e o pdf com alguns comentários que fui fazendo ao longo da leitura. A autora revelou uma enorme falta de humildade. Ela afirmou que ia não ler a opinião, porque não queria desanimar agora que a convidaram a escrever um novo livro. Está no seu direito. Porém, senti que desprezou a informação que lhe passei e todas as minhas observações. Não sou uma perita em livros (tenho muito para aprender), mas considero que tenho experiência suficiente para identificar o que é ou não um bom livro. De boa vontade, partilho o que achei e tento dar sempre soluções para uma melhoria dos manuscritos. É óbvio que não espero que aceitem tudo, mas achar que o trabalho está bom e que não precisa de melhorias releva uma falta de humildade atroz. Talvez deva deixar de aceitar estes pedidos e de dar sugestões. Há pessoas que não merecem o nosso tempo nem a nossa bondade.
"À procura de Sana" encerrou o meu ano literário de 2020. Já há muito tempo que queria experimentar ler um livro de Richard Zimler. Por diversas vezes já me tinha cruzado com opiniões muito positivas ao trabalho deste escritor. Surgiu a possibilidade de trazer o livro da biblioteca e, assim, criou-se a oportunidade de conhecer o trabalho deste escritor.
O que é que sobressaiu aos meus olhos desta leitura? Sem dúvida que a escrita. É tão agradável e bonita que quase me senti embalada na leitura. É claro o cuidado dispensado à escolha de palavras e à forma como elas se articulam. Este foi um elemento essencial para criar uma narrativa apelativa para uma história que se revelou demasiado complexa e cheia de recantos desconhecidos.
A complexidade da narrativa é da responsabilidade de Sana. A vida desta mulher cruzou-se com a de Zimler e ele sentiu necessidade e responsabilidade em contar a história desta mulher. E, assim, viu-se arrastado para um conjunto de vidas marcadas por um conjunto infinito de pontas soltas. Isto causou alguma entropia na minha compreensão mais profunda da história. Senti-me perdida com alguns avanços e recuos. Senti-me com alguma dificuldade em criar uma ligação com as personagens e com os acontecimentos.
No fim ficou-me a sensação de não ter conseguido absorver tudo aquilo que a história tinha para oferecer. Acho que não consegui reter com eficácia a sequência dos acontecimentos, cujo seu encadear se traduz naquele final. Após a leitura sobreviveu a vontade de voltar a ler mais livros do escritor.
Não li a primeira edição de "Demência". Vi muitas opiniões positivas em relação a este livro. Vi quem o achasse melhor que "O funeral da nossa mãe". Pessoalmente, acho que são livros diferentes, cada um com o seu valor. Têm um ponto em comum: a sua capacidade de mexer com as emoções.
"Demência" dá voz à violência doméstica e à demência. As palavras embalam-nos em direções mais ou menos previsíveis, mas que em nada diminuiu o entusiasmo e o interesse pelo livro. É uma viagem literária em constante desassossego. Desassossego por Letícia que procura manter-se inteira depois de ter sido despedaçada. Desassossego por duas crianças que sabem quanto custam os momentos de terror. Desassossego por uma mulher que lida com a doença e com a perda da melhor forma que consegue. E no meio destes sobressaltos e desassossegos há espaço para a importância que uma amizade pura pode ter nas nossas vidas. Há espaço para o poder curativo que só o amor consegue. Há espaço para olhar para o passado e encaixá-lo numa explicação do presente.
Infelizmente, a voz de Letícia ainda faz muito eco na sociedade atual. As feridas que esta mulher transporta são comuns às de outras tantas mulheres. A violência doméstica é, mais do que a Letícia, a personagem principal desta história. Um problema que atravessa gerações e deixa marcas emocionais demasiado profundas e com uma cicatrização imune ao tempo. É interessante ver como a Célia, apesar de ser muito jovem quando escreveu este livro, conseguiu imprimir uma maturidade enorme naquilo que quis contar ao público. Além deste aspeto, a história tem uma tonalidade tão realista que é fácil chegar àquela aldeia e visualizar o comportamento de todos aqueles que povoam estas páginas.
O tempo da ação é que me deixou um pouco baralhada. O início foi complicado. Em termos de tempo parece que passam mais dias do que aqueles que na realidade passaram. Há também uma transição, mais ou menos a meio do livro, que é pouco clara. Foram estes os dois aspetos que me não foram tão bem concretizados.
A história andou muitos dias na minha cabeça. A resiliência de Letícia fez-me acreditar na força feminina para enfrentar um problema. Por outro, a fragilidade e a personalidade dura de Olímpia tornaram-na demasiado humana. Foi a doença e a perda que a deixou mais fragilizada, mas foi o passado que a endureceu e que lhe deu uma visão diferente da condição humana. Duas mulheres que ficam na história do meu percurso literário e de quem, muito dificilmente, me irei esquecer.
Precisamos de vozes como a da Célia. Precisamos de pessoas que coloquem de forma realista amor, dor e tristeza nas histórias que escolhem contar. Precisamos de abrir espaço às boas publicações nacionais.
"Demência" irá levar-te a uma aldeia beirã, cheia daquelas preconceitos e "diz-que-disse" tão típicos de zonas mais solitárias e acanhadas. Vais encontrar o inferno e o paraíso de uma relação amorosa. Vais cruzar-te com o envelhecimento, com a doença que apesar de roubar parte das memórias de Olímpia será incapaz de lhe tirar do coração a amizade que a ajudou a sobreviver.