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Por detrás das palavras

Opinião | "A terapeuta" de Gaspar Hernández

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O título deste livro foi a primeira coisa que despertou o meu interesse. Através da sinopse percebi que poderia ser um livro interessante para ser lido. A história deste livro acompanha a vida de Hèctor Amat, um ator famoso que sofre de ataques de ansiedade. Este ator acaba por se ver envolvido num terrível crime, mas por mais que se esforce não se consegue lembrar do que aconteceu, não conseguindo explicar porque é que apareceu num parque de estacionamento, junto de uma mulher assassinada. Deparado com este problema, Héctor opta por recorrer à psicóloga Eugènia Llort. 

Partindo daqui, o leitor acompanha a jornada de Hèctor nas consultas e acaba envolvido numa teia um pouco confusa. Até um pouco mais de metade do livro, o que sobressai da história é a relação de dependência que Héctor constrói com Eugènia. Esta dependência, o fascínio do cliente pela terapeuta e a obsessão que o cliente vai construindo em volta da sua terapeuta foram os elementos que mais me cativaram no livro. Pareceram-me bem caracterizados, bem descritos e credíveis. É certo que, enquanto profissional, me fui sentindo irritada com os comportamentos quer da terapeuta quer do cliente. Irritou-me, principalmente, a falta de brio profissional da terapeuta. 

Considero que as consultas poderiam ter sido um pouco mais exploradas e detalhadas. Acredito que este elemento traria mais informação e dinamismo ao livro. Achei que o escritor queria acelerar um pouco estas partes o que contribuiu para alguma confusão relativamente ao objetivo da história. Eu sei onde comecei a história, sabia para onde queria que me levassem, mas não senti que isso tenha acontecido.

A narrativa vai avançando e a poucas páginas do fim, há uma mudança de direção que me baralhou ainda mais. Percebi porque é que ela aconteceu, mas não foi benéfica para a compreensão dos acontecimentos que motivaram o início deste livro.

Tudo fica confuso e prevaleceu a sensação de que o fio condutor que norteava o livro se perdeu algures. Pessoalmente, eu não consegui perceber o que de facto aconteceu com Hèctor e isso deixou-me bastante frustrada. 

Para mim, esta leitura valeu pela exploração dos limites pessoais e profissionais inerentes a processo terapêutico. Foram elementos que me fizeram refletir na prática profissional e naquilo que deve ser feito.

Classificação

Opinião | "Fica comigo" de Noelia Amarillo

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Pouco conhecia acerca deste livro. Mesmo assim, decidi arriscar em comprá-lo e ver se o mesmo se tornaria numa boa leitura. Este pouco mais de um ano na parte da estante onde habitam os livros não lidos. No princípio de fevereiro, achei que era a altura de pegar no livro e experimentar a leitura.

Fica comigo é uma história intensa que se desenvolve de forma rápida e cativante. Um livro para quebrar alguns preconceitos e mostrar o verdadeiro poder da solidariedade. 
Dolores confiou no Jared. Conseguiu ler além do seu aspeto físico e perceber que Jared era apenas um jovem a quem a vida mostrou as garras da dificuldade. Irritou a sua neta, Nuria, a forma como acolheu Jared. E foi exatamente esta forma de acolher que permitiu que este jovem ganhasse um propósito, mostrasse as suas qualidades humanas e quebrasse cada um dos preconceitos que a Nuria tinha acerca dos sem abrigo.

O livro é de uma doçura mágica e que mostra o poder de uma comunidade. Mostra o lado bonito de se unirem para ajudar uma pessoa e essa pessoa agarrar com as suas mãos cada uma das oportunidades que iam aparecendo à sua frente.

Senti, em alguns momentos, que a escritora deveria ter tido menos pressa na apresentação e desenvolvimento dos acontecimentos. Apesar da história funcionar muito bem assim, há passagens que mereciam uma maior profundidade.

A história é muito empática que aborda as consequências da crise económica. Se para quem tem uma vida profissional estável ou um emprego mais ou menos garantido, é complicado viver; para quem vive na instabilidade laboral e perde o pouco que tem, a dureza das situações afigura-se ainda mais crítica. Jared viveu isso na pele, mas nunca perdeu a dignidade e a sua força de vontade em transformar a sua vida e sair do buraco para onde as circunstâncias o tinham atirado.

Apesar da sua força de vontade, ele precisava de ajuda. Conseguiu conquistar uma comunidade e essa comunidade fez com que, aos poucos, as coisas fossem mudando para ele. Há muitas pessoas que dizem que um sem abrigo, se quiser muito consegue sair da situação em que se encontra. Infelizmente, as coisas não acontecem só porque queremos muito, ou é um objetivo que perseguimos com toda a nossa força. É importante termos consciência que a nossa vontade e o nosso comportamento nem sempre são suficientes. Querer muito uma coisa, ter um objetivo definido, incita ao comportamento e à procura por aquilo que queremos. O Jared mostrou isso! Apesar da dureza das suas circunstâncias ele procurava manter a sua higiene, procurava ganhar dinheiro de todas as formas dignas possíveis e não desistia. Porém, por vezes, precisamos que haja alguma mudança do outro lado e nos permita concretizar aquilo que tanto procuramos. Se a Dolores não tivesse acreditado nele, lhe ter dado uma oportunidade e alimentando uma rede de suporte, talvez ele não se tivesse libertado da sua situação.

Por tudo isto, devemos ter muito cuidado quando acusamos outra pessoas de que se não conseguiu algo foi porque não quis muito. Dificilmente, saberemos o esforço que cada pessoa coloca para a realização dos seus sonhos. Por isso, não devemos menosprezar o insucesso de alguém e reduzi-lo ao facto de que ele se deve exclusivamente àquilo que a pessoa é.

Ler este livro relembrou-me esta minha visão sobre o ser humano e a sua condição. Caso escolhas ler este livro, espero que possibilite o desenvolvimento desta empatia e solidariedade.

Como é esperado, toda esta realidade é adoçada com uma bonita a intensa história de amor. É um amor doce, intenso e com um toque de sedução que acelera o coração de quem lê.

Classificação

 

Opinião | “Quando o sol brilha” de Rui Conceição Silva

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Desde o momento em que aprendi a diferença entre o contar e o demonstrar que a leitura se tornou diferente para mim. Esta aprendizagem permitiu-me olhar para a histórias de outra forma e perceber melhor o porquê de alguns livros não funcionarem comigo.

Quando o sol brilha fez-me perceber a importância do demonstrar para que uma história ganhe dimensionalidade para mim. É verdade que parti para a leitura com expetativas bastante elevadas. As pontuações e opiniões do Goodreads sugeriam uma boa leitura.  Contudo, logo nas primeiras páginas senti que iria ter pela frente uma leitura exigente e que estava longe das promessas que antevi no Goodreads.

Como deves perceber pelo meu primeiro parágrafo, este livro revela algumas fragilidades estruturais. O contar é aquilo que domina o livro e pouco espaço sobre para o demonstrar. As páginas em estilo relato sucedessem-se umas às outras. Pelo meio surgem diálogos, por vezes, artificiais; contruídos através de frases feitas que não representam as personagens deste livro. Não são frases de gente simples, de um Portugal demasiado rural e a sair de um período de ditadura que o desgastou. Há excesso de purple prose que torna a leitura frustrante e onde me arrastei na esperança de que as coisas melhorassem.

Outro problema do livro é o seu foco, o seu objetivo. A minha sensação é que o escritor quis abraçar o mundo e acabou por se perder nele. As temáticas são flutuantes, os acontecimentos sucedem-se uns aos outros e os conflitos não são esgotados de forma a dar um propósito e uma orientação clara à história e às suas personagens. Temos um livro cujo início se centra quase em exclusivo na dinâmica de uma aldeia e das pessoas que lá vivem; depois aflora-se a história de Felismino e Alice, sem se aprofundar verdadeiramente as emoções e os acontecimentos; seguem-se as tragédias de Edmundo, um homem simples que gosta de ler, muito contadas e pouco demonstradas.

Sendo uma narrativa cuja a ação decorre, maioritariamente, na década de 70, está demasiado despedia de contextualização Histórica. De referências que levem o leitor para aquele espaço, para aquele tempo e para aquele lugar. No final, elas aparecem de forma mais vívida, mas em grande parte do livro senti que poderia ser uma história passada numa qualquer aldeia do interior nacional na década de 90.

Há uma enorme miscelânea de assuntos que o livro aborda: demência, luto, alcoolismo, saúde mental. Apenas faltou uma abordagem que esgotasse estes assuntos de uma forma mais realista e, no caso da saúde mental, mais respeitável e verdadeira. Na fase final do livro, há um conjunto de páginas cujo foco é a saúde mental. Confesso que a forma como o assunto foi tratado me revoltou. Achei as cenas pouco coesas e que ilustravam pouco o que era ser doente mental na década de 70.

Além da saúde mental, há outro aspeto do comportamento de Edmundo que me pareceu demasiado normalizado. Não quero entrar em pormenores para não deixar spoilers, mas não achei o comportamento coerente com a situação nem com a personagem em questão.

Desta leitura irei guardar a ruralidade presente em muitos dos momentos do livro. Viver num universo rural permitiu-me identificar com alguns aspetos e situações do livro. Há passagem que me remetem para as histórias que os meus avós, os meus pais e amigos da família partilhavam de como era viver numa aldeia mais interior nas décadas de 70 e 80.

Classificação

Opinião | "O Ano da Dançarina" de Carla M. Soares

O Ano da Dançarina
Classificação: 5 Estrelas

O Ano da Dançarina foi uma leitura maravilhosa. Daquelas que me completa os sentidos e me enche a alma de energia positiva. 
Eu adoro a escrita da Carla. Mesmo quando há algo na história que não gosto ou com que simplesmente não me identifico tanto, a leitura continua a ser bastante prazerosa por que as palavras têm uma espécie de magia que me encanta e me liga ao livro.
Este livro, para mim, conseguiu reunir tudo. Por um lado encontrei o encanto de uma história bonita e cheia de acontecimentos inesperados, por lado tudo tudo me foi dado a conhecer através de uma dança de palavras muito bem coreografada. 

Assim que comecei a ler facilmente viajei no tempo. Entrar nestas páginas é respirar o ambiente de 1918. No livro povoam muitos elementos que me permitiram ver com clareza tudo o que vivia nessa época. Achei que algumas referências aparecem um pouco forçadas ao longo da narrativa, mas na sua maioria foram pertinentes e permitiram-me sentir uma boa contextualização da época e da agitação que se vivia num Portugal marcado pela participação na Primeira Guerra Mundial e pela instabilidade política. 
São poucos os livros que li que se debruçam sobre este período histórico. Eu sou, por natureza, muito curiosa. Com os anos e com o amadurecimento passei a apreciar de forma especial os romances históricos. Saciam a minha curiosidade, permitem-me visitar outras épocas e outros costumes e deixam-me bonitas histórias de amor que a minha alma romântica recordará até eu ser bem velhinha. E neste livro vivem todos estes aspetos que foram tão bem desenhados pela mão da Carla. Quando mais leio dela, mais sinto que o dom dela centra-se neste género literário. Ainda me falta ler O Cavalheiro Inglês, mas adorei o Alma Rebelde e os momentos do passado descritos no livro A Chama ao Vento foram a parte que mais gostei do livro. Por tudo isto, acho que a Carla tem mão para este escrever este género. 

Afinal, o que é que esta história pode oferecer aos leitores? Para mim, há muitos pontos de interesse. O Nicolau traz-nos as dificuldades de sobreviver ao pós-guerra. Só muitos anos mais tarde se começou a falar em Stress Pós Traumático, mas de certeza que ele já estava presente. Pelas mãos da Carla e através da pele de Nicolau, consegui perceber bem o que a guerra faz a quem dela faz parte. Um homem interessante, cheio de ângulos muito bem explorados no livro e que protagoniza uma das histórias de amor mais bonitas do mundo literário que eu já conheci. 
Para além de Nicolau, toda a sua família tem um contributo muito importante. Todos os seus irmãos têm as suas particularidades, mas eu tenho que destacar Bernarda. Uma mulher à frente do tempo e a quem a família alimenta os sonhos. Adorei-a desde o primeiro momento em que apareceu. Amei o espírito livre dela e gostava de ter a sua audácia. É fiel e a amizade que constrói com Cecília teve um enorme significado para mim. Talvez porque tenha olhado para elas duas e identificar tudo aquilo que eu valorizo e respeito numa amizade. 
Também a Cecília me ficou no coração... Mas é algo que terão de descobrir com a leitura. É forte, inteligente, sensível e reúne um conjunto de aspetos que a tornam especial. 

São todas estas personagens que dão corpo a uma sem fim de acontecimentos que me marcaram a leitura. Não há lugar para aborrecimentos! Eu não tive tempo para isso. O livro tem a dinâmica necessária capaz de me deixar presa às personagens, aos momentos e amor que brota no meio do desespero.
No fim só queria ter a oportunidade de abraçar todas as personagens. Perante esta impossibilidade só me restou fechar o livro, abraçá-lo, fechar os olhos e sonhar com toda a energia positiva e de esperança que recolhi do livro. 
É com orgulho que escrevo sobre ele. Esta obra representa o que de melhor se faz a nível da literatura nacional. Para todos aqueles que gostam de históricos, corram para ler este livro. Todas as vossas expetativas serão superadas. 

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