Em 2013 li o livro "Equador". Dessa leitura ficou-me a escrita agradável e uma história interessante e cativante. Ficou-me, também, a vontade de ler mais obras do escritor. Fui sempre adiando! Este ano, e depois do miserável números de escritores nacionais que li no ano passado, tinha de pegar neste livro.
A escrita bonita e agradável mantém-se. Em nada aborrece a forma como o escritor escolhe contar a história dentro da História de Portugal e do Mundo. Fui avançando na leitura, umas vezes com mais rapidez, outras com a velocidade lenta imposta pelas rotinas do dia. Assim, a demora na leitura deste livro (quase um mês) em nada se deveu à falta de qualidade do mesmo ou à existência de algum tipo de aborrecimento.
Achei este livro mais masculino. A história é muito centrada nos homens da família Ribeiro Flores e as mulheres que vão surgindo não têm o destaque merecido. O livro apresenta-nos uma viagem de 30 anos de História. A Primeira República Portuguesa, a Guerra Civil Espanhola, o Estado Novo e agitação política Brasileira na década de 30 servem de cenário a Manuel e Maria da Glória, a Diogo e Amparo, a Pedro e a Angelina.
De todas as personagens, Maria da Glória foi aquela que reuniu a minha maior simpatia. Os meus sentimentos por ela foram consistentes ao longo de todo o livro. Para as outras personagens desenvolvi sentimentos um pouco antagónicos. Simplesmente, havia coisas que eu gostava e coisas que não gostava. Não é uma experiência necessariamente má, o problema foi aborrecer-me com algumas coisas que faziam. Diogo deixava-me os cabelos em pé. Gostava do seu perfil liberal e idealista, mas depois tinha comportamentos demasiado imaturos, que não acompanhavam a minha ideia de evolução pessoal. Pedro é muito consiste ao longo da obra. Uma personagem muito dura, muito agarrada ao regime e às hierarquias sociais. Um homem embrutecido que o amor amoleceu, transformou. Porém, foi este mesmo amor que o embruteceu ainda mais. Houve rasgos de humanidade em algumas situações de maior brutalidade, mas não foram suficientes para que eu criasse uma boa ligação com esta personagem. Quanto às mulheres, gostei de Angelina e da forma como manifestava a sua independência e feminilidade. Uma personagem que soube a pouco. Amparo também me deu cabo dos nervos. O escritor descrevia-a como sendo detentora de uma fibra e de uma personalidade vincada que eu não consegui identificar. Chegou a uma altura em que ela optou por uma posição mais passiva, de vitimização... Acho que foi incapaz de lutar por aquilo que ela dizia fazê-la feliz.
O que alguns leitores acham aborrecido, os conteúdos históricos, eu achei interessante. De todos os períodos históricos narrados, confesso que o contexto brasileiro foi o que mais despertou o meu interesse. Algumas coisas já conhecia (os acontecimentos relacionados com Olga Benário e Luís Carlos Prestes), outros foram novidade (agitação política brasileira).
Apesar de ter gostado muito do livro, não me conseguiu cativar tanto como o "Equador". Porém ficam as boas memórias da leitura, a aprendizagem história e a escrita suave que embalou ao longo destas páginas.
Autor: Miguel Sousa Tavares Ano: 2003 Editora: Oficina do Livro Número de páginas: 528 páginas Classificação: 5 Estrelas Desafio: Novos autores / Ler em Português de Portugal / De A a Z...
Sinopse
Quando, naquela manhã chuvosa de Dezembro de 1905, Luís Bernardo é chamado por El-Rei D. Carlos a Vila Viçosa, não imaginava o que o futuro lhe reservava. Não sabia que teria de trocar a sua vida despreocupada na sociedade cosmopolita de Lisboa por uma missão tão patriótica como arriscada na distante ilha de São Tomé. Não esperava que o cargo de governador e a defesa da dignidade dos trabalhadores nas roças o lançassem numa rede de conflitos de interesses com a metrópole. E não contava que a descoberta do amor lhe viesse mudar a vida.
Equador é um retrato brilhante da sociedade portuguesa nos últimos dias da Monarquia, que traça um paralelo entre os serões mundanos da capital e o ambiente duro e retrógrado das colónias.
É com esta história admirável, comovente e perturbadora, que Miguel Sousa Tavares inaugura a sua incursão no romance.
Opinião
Esta leitura foi o meu primeiro contacto com a escrita de Miguel Sousa Tavares e fiquei agradavelmente surpreendia com aquilo que encontrei nestas páginas. Desde já afirmo que não vi a série baseada nesta obra que foi produzida e emitida pela TVI (que pelo que me contaram está muito fiel ao livro), pelo que não tinha nenhuma ideia daquilo que poderia encontrar no livro, para além daquilo que a sinopse deixa antever.
Nestas páginas, a História de Portugal e as vivências portuguesas no início do século XX aparecem descritas de uma forma que nos possibilita imaginas todo o cenário daquela época. São páginas em que um pedaço da História de Portugal é oferecido aos leitores de uma forma bastante apelativa.
É nas primeiras páginas do livro que nos é apresentado o personagem central desta narrativa. Luís Bernardo Valença, um homem da cidade que cultiva os seus gostos pelos bailes, jantares... Um homem com opiniões bem definas acerca do clima político da época e que desde sempre se assumiu como anti-escravatura. É devido à sua posição em relação à escravatura que é convidado a assumir um cargo de governador numa das colónias portuguesas.
Aquilo que ele encontra não vai de encontro às suas convicções. É aqui que ele se vê envolvido em conflitos de interesses de ordem económica que tornam o seu percurso como governador penoso, difícil e solitário. É muito interessante ver que as descrições reflectem muito bem o antagonismo social entre a metrópole e a colónia de São Tomé e o quanto isso é desorganizador do equilíbrio mental que vai afectando Luís Bernardo.
David e Ann são um casal com um relevo bastante importante em todo o livro. David é colocado na ilha de São Tomé com uma missão muito específica. Ann, sua esposa, é uma mulher exageradamente bonita que ofusca a sociedade envelhecida da colónia. Por acaso, é uma personagem que nunca conquistou a minha simpatia. Desde o momento em que é narrada a sua história provocou em mim sentimentos negativos. Nunca achei que ele fosse capaz de amar alguém... De todas as suas atitudes, sempre a associe a uma mulher calculista, fria, interesseira e com um gosto particular pelas experiências sexuais. Acho que era este último aspecto que a fazia ter comportamentos muito específicos. Com ela penso que nada era por acaso. Cada um dos seus passos era bem medido e calculado... Infelizmente era suficientemente bonita e sedutora para ofuscar a clareza de pensamento dos homens a quem lançava o seu charme... Assim, nunca conseguiam ver a verdadeira Ann (embora ache que com o marido já não funcionava).
Confesso que cada uma das personagens revela uma boa construção por parte do escritor. São personagens complexas e bem definidas, que facilmente permitem ao leitor criar as suas opiniões e afinidades.
O final é surpreendente e do qual não estava particularmente à espera... Imaginei mil e um cenários possíveis para cada uma das personagens centrais mas nunca me passou pela cabeça que tal terminasse daquela forma. Confesso que, o único final que não achei merecido foi o de Ann... Ela merecia um castigo! Penso que o marido conhecia muito bem a esposa, mas estava tão cego de amor que fechava os olhos aos comportamentos dela. Mas não devia!!!
É um livro que recomendo. Apesar de ser muito descritivo (existe poucos momentos de diálogo) essa descrição só me aborreceu mais no início. Facilmente consegui entrar no ritmo e o aborrecimento desapareceu.