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Por detrás das palavras

Balanço | Os seis primeiros meses do ano em livros

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No final do mês de junho gosto de partilhar o balanço de seis meses de leituras respondendo a uma tag bem engraçada, a Tag dos 50%. Este ano, o balanço chega de forma diferente e, claro, com (muito) atraso. Não tenho leituras suficientes para conseguir responder à tag, por isso, o balanço chega em forma de narrativa pessoal. Espero que gostes!

Nos primeiros seis meses do ano li quinze livros. Foram algumas viagens e os destinos foram diversificados. Andei por thrillers psicológicos que não ficaram na minha memória literária. Aliás, nenhum dos que li conseguiu estimular muito a minha mente inquieta e, por isso, não tenho nenhum deles na minha lista de melhores leituras do primeiro semestre de 2022.

Para aligeirar os crimes e o suspense, fui até a um mundo de fantasia e refresquei-me nas águas de um universo escondido no fundo do mar (Aquorea, M. G. Ferrey); andei por outras épocas; mas regressava sempre a minha zona de conforto contemporânea. Ainda houve espaço para algumas excursões a universos mais infantis (culpa da sobrinha que é sedenta de histórias). 

Foram quatro os livros que marcaram a minha memória e o meu coração. O meu ano literário começou muito bem. Deborah Smith ofereceu-me uma história sobre a diferença e onde cada um é respeitado por aquilo que é. Foi bom ler sobre valorização do ser humano, pelo respeito pela diferença e onde a doçura das relações inspirava a cada parágrafo lido (A doçura da chuva, Deborah Smith). Sei que é uma escritora de fórmula, mas há uma tonalidade positiva nos seus livros que geram otimismo, inspiram e deixam um rasto de energia positiva no coração. Além disso, lidos com moderação não deixam espaço para criar aborrecimentos.

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Depois de uma pequena viagem pela história de Portugal (A maldição do Marquês, Tiago Rebelo), que me deixou uma sede angustiante por uma boa história, cruzei-me com o livro que considero a revelação de 2022. Um livro com menos de 200 páginas guarda uma história diferente e que se agarrou com uma grande facilidade ao meu coração (Fica comigo, Noelia Amarilo). Jared foi a verdadeira estrela deste livro. Uma personagem diferente, cativante e que conquistou o meu afeto logo nas primeiras páginas. É uma história com muitas passagens ótimas para refletir sobre empatia e competência emocional e que marcou o meu mês de fevereiro.

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Precisei se chegar ao final do mês de março para encontrar mais uma história capaz de fazer com que o coração falhasse umas batidas. Cruzei-me com aquele que se tornou o meu livro preferido deste primeiro semestre. Na solidão do Alasca, encontrei uma jovem com uma história de vida pesada e com acontecimentos que mexeram com o meu lado emocional (A grande solidão, Kristin Hannah). Há amor, há dor, há raiva e há a natureza que se transforma para acolher a vida de pessoas simples, que vivem em comunidade. Leni deixou um rasto de destruição emocional no meu mundo interior. Identifiquei-me com muitos aspetos da sua personalidade o que me aproximou dela e do seu sofrimento. Jamais esquecerei a sua força e a sua resiliência. A alma dela pinta-se de branco e verde como as selvagens e solitárias paisagens do Alasca.

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No final de uma sequência de leituras medianas, andava sedenta por um livro com uma escrita poética, bonita e inspiradora e uma história capaz de aquecer o coração. Na minha estante mora um escritor que reúne estes requisitos. Assim, pelas palavras de Marc Levy encontrei aquilo que estava a precisar. Acabei por me perder numa história de amor marcada pelo insólito e o inexplicável; adornada com uma escrita elegante, singular, poética e inspiradora que restabeleceu a minha vontade de ler (Voltar a encontrar-te, Marc Levy). Perdi a conta ao número de citações que retirei deste livro.

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Espero que esta segunda metade do ano me ofereça boas histórias, bem escritas e capazes de se tornarem inesquecíveis. 

 Qual foi a tua melhor leitura deste primeiro semestre? 

As leituras obrigatórias estão fora de validade?

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Tenho-me cruzado com algumas vozes a alertarem para a necessidade de se alterarem as obras de leitura obrigatória na disciplina de Português. As opiniões fundamentam-se na antiguidade das obras, no facto de serem de difícil leitura para os jovens, por não cativarem a população mais nova para a leitura, entre outras.

Eu não me revejo nestas opiniões. Não acho que se devam mudar as leituras que integram os programas curriculares. O que acho que deve mudar é a forma como convidamos os jovens para a leitura.

Mas vamos por partes. Há jovens que gostam de ler. Porém, nos dias de hoje, a oferta ao nível dos conteúdos digitais e de outros elementos de distração oferecem aos jovens de hoje conteúdos mais apelativos e de consumo mais instantâneo. Este tipo de oferta sacia (por vezes falsamente) as suas necessidades imediatas. Tudo acontece demasiado depressa e a leitura exige tempo, contemplação e reflexão. E grande parte dos jovens considera um desperdício de tempo ler. Acho que daria um estudo interessante perceber o que é que está por detrás de um jovem e de um jovem que não lê e nem demonstra interesse para a leitura.  

É aqui que reside a luta: como motivar os jovens para a leitura quando eles têm outras coisas para fazer e que acham mais interessantes. Eu não tenho a receita! Vou tentando alinhar livros com os jovens que vou conhecendo, vou-lhes falando das histórias e vou permitindo que eles explorem os livros. Contudo, perdem o entusiasmo muito facilmente. A maior parte dos miúdos com quem trabalho nunca foram cativados para os livros. Em casa não há esta cultura de leitura. Isto pode condicionar os hábitos, mas não determina o comportamento de nenhum deles. Os meus pais nunca foram leitores e eu tornei-me leitora.

Tornei-me leitora porque na escola primária fizerem um bom trabalho. Líamos imenso e, todos os meses, tínhamos a visita da biblioteca itinerante que era sempre uma animação. É claro que nem todos se tornaram leitores, mas no meu caso foi determinante. Assim, acho que a receita poderá passar por aqui: trazer as crianças e os jovens para o mundo dos livros.

É frequente ouvir “Para que é que vai ler o livro se pode ver o filme? Acaba por dar tudo no mesmo!”. Costumo dizer-lhes que não é bem assim e tento dar exemplos concretos, mas isso não os convence. Segundo os “meus” jovens ler dá demasiado trabalho, não sentem que seja uma coisa apelativa.

Se não gostam de ler, se não sentem curiosidade pelos livros é óbvio que irão sentir mais dificuldade com as leituras para escola, independentemente de qual seja o livro que lhes é apresentado. Também é óbvio que quando confrontados com a necessidade de ler “Os Maias”, mais facilmente se atirem aos resumos ou a ver as adaptações que foram surgindo.

As leituras obrigatórias no ensino secundário (que não são assim tantas, podem consultá-las neste documento) reúnem um conjunto de autores que espelham a evolução da literatura portuguesa. São conteúdos que mostram a história de um país e que pretendem dotar as pessoas de cultura e conhecimento. Se são leituras complexas, claro que são! Mas não é suposto a escola contribuir para o desenvolvimento cognitivo e estimular o sentido crítico dos alunos?

(Uma leitora alertou-me para o facto do documento partilhado estar desatualizado. Existe um novo que aborda as aprendizagens essenciais, por disciplina e por ano de escolaridade. Coloco aqui o que ela me deixou em comentário:  "Em vigor estão as aprendizagens essenciais juntamente com o Perfil dos Alunos. Além disso os professores de português têm projetos de leitura, em algumas escolas têm que ler um livro por período e noutras um por ano. E é um livro à escolha deles, normalmente dentro da lista do plano nacional de leitura que como dizes é atual e vasta.")

Do meu ponto de vista, acho que o problema é a falta de equilíbrio, ou seja, a par destas obras mais complexas o programa curricular poderia ter um projeto de leitura com livros mais próximos da realidade deles. Por exemplo, pegar em livros que abordem o consumo de drogas, os comportamentos de risco e, a partir deles, criar fóruns de discussão. Há unidades curriculares mais relacionadas com a promoção da cidadania onde um projeto deste género poderia ser maravilhoso. Também seria uma forma de valorizar o Plano Nacional de Leitura que tem obras mais diversificadas e recentes e que me parecem capazes de cativar o público mais jovem e proporcionar boas discussões (e.g. “Wonder”, “O Rapaz do Pijama às Riscas”, entre outros). Porém, é importante escolher uma boa metodologia de ensino-aprendizagem. Quero dizer com isto que não basta dizer “Podem ler o que quiserem para depois discutirmos”, pois não é o livro ser “mais fácil” que o vai trazer para a leitura. É importante criar um contexto estimulante e em que os alunos se sintam como parte fundamental do projeto.

Em suma, eu acho que as leituras obrigatórias são importantes para conhecer a nossa história literária e para transmitir cultura. A pouca adesão dos jovens à leitura é um problema que ultrapassa as obras e os autores que fazem parte do plano curricular. É algo mais estrutural. Para mim, o grande desafio estará sempre do lado dos professores de Português que, desde muito cedo, poderão ser responsáveis por ativar o bichinho da  leitura que vive dentro de cada um de nós.

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