Opinião | "A breve história da menina eterna" de Rute Simões Ribeiro
No início do mês, a escritora Rute Simões Ribeiro ofereceu aos leitores o download gratuito dos seus livros.
Eu desconhecia esta escritora e o seu trabalho. Só cheguei até ela através da Tita e da Daniela. Como confio nas recomendações delas decidi arriscar.
No início estranhei a escrita e o modo muito próprio para contar a história. A Rita tem uma escrita muito bonita, com uma tonalidade algo lírica que me encantou. A narrativa e a forma como é contada é um pouco diferente daquilo que eu costumo ler e foi isso que me dificultou um pouco a leitura.
"A breve história da menina eterna" conta-nos a história de M. e da sua relação com a finitude da vida. É um livro que tem um forte potencial interpretativo e, por essa razão, é um excelente candidato a leituras conjuntas com possibilidade de discussão em grupo. Há muito para ler e assimilar nas entrelinhas desta história aparentemente simples. São poucas páginas, mas estão carregadas de uma forte simbologia.
A forma como vivemos a morte e como encaramos o fim de vida são fortemente influenciados pelos padrões culturais. A morte acaba por ser um não assuntos, na minha realidade as pessoas têm dificuldade em falar da morte e da preparação para mesma. Vive-se a ilusão da eternidade, ofuscando o fim inevitável da nossa vida. Também é positivo que assim seja, caso contrário poderíamos ser dominados por um medo intenso que nos impedia de vivermos as coisas. M. foi vítima dessa necessidade cultural de pouparmos as crianças a assuntos complexos. Foi-lhe oferecida da visão da eternidade, mas essa oferenda permitiu-lhe a liberdade de viver de forma descomprometida.
Contudo, não se prepara para a morte. Fala-se muito em oferecer condições para uma boa vida, ou para um bom fim de vida. São geralmente essas as expressões culturalmente aceites. Nunca ouvi expressões como: oferecer condições para uma boa morte; ou preparar a pessoa e a família para a morte.
A morte e o luto são assuntos dolorosos, complexos e que têm um impacto diferente nas pessoas. Não há formas melhores ou piores de reagir. Há, simplesmente, diferentes maneiras de lidar com a perda e com o sofrimento que a mesma provoca. A nossa personagem foi "poupada" no que à questão da morte diz respeito e foi vivendo confiante na sua dimensão eterna. Já sabemos a falácia que reside nesta ideia e o livro permite-nos descobrir os sentimentos, as reações e as emoções que surgem quando a inocência se quebra.
Este livro ganhou o meu coração pela escrita e pela reflexão que me ofereceu. Não adorei, mas ficou a vontade de conhecer mais livros da escritora.
Esta opinião é um reflexo da minha interpretação do texto e da história que li. Se optares por ler esta obra, poderás ter uma visão diferente e está tudo bem.
Se já leste, o que é que achaste? Que reflexões retiraste desta leitura?
Se ainda não leste, ficaste com curiosidade? Porquê?
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