Por detrás da tela | "Doce" (2021)
No ano passado, a RTP 1 exibiu a série Doce. Esta série retrata a vida da primeira girls band e, pelo que li, é uma versão mais alargada do filme Bem bom.
Acho que esta banda povoa o imaginário de muitos portugueses. A mim deixa-me uma especial reflexão: a banda terminou antes de eu nascer, mas as músicas delas fizeram parte da minha vida. Tinha primas mais velhas que tinham as músicas das Doce, gravadas em cassetes. Hoje temos música acessível através da internet. Naquela altura, esperava-se que a música passasse na rádio para a gravar em cassetes. Eu também fiz as minha gravações em cassetes.
Há sempre uma curiosidade mista em conhecer melhor a história de pessoas que fazem parte da História cultural de um país. Esta curiosidade é ainda maior, quando temos consciência que a obra venceu o esquecimento e se impõe ao tempo. Eu sentia isso em relação às Doce.
Ter a oportunidade de conhecer a história de vida deste grupo de mulheres foi um enorme privilégio. Num país onde as marcas da ditadura ainda se faziam sentir, quatro mulheres desafiaram uma sociedade conservadora, cinzenta e brilharam com as suas músicas divertidas e contagiantes. Em muitos momentos tiveram de se impor, de mostrar a sua força e fazer frente ao machismo que não lhes reconhecia o talento e a forma especial de dar voz às suas canções.
Além disso, conseguimos acompanhar o crescimento delas enquanto artistas e a forma como a relação entre elas foi sofrendo com as pressões e com o mediatismo que cresceu à volta delas. É muito interessante olhar para esta história de vida e refletir sobre a evolução das relações, a conquista dos sonhos e a condição feminina num Portugal dos anos 80.
Esta minha perceção resulta daquilo que eu inferi da série. Acredito que o argumento tenha sido o mais próximo possível da realidade. As atrizes referiram que chegaram a conversar com os elementos das Doce para construir as suas personagens.
A série está muito bem conseguida. Eu fiquei vidrada nos cenários, nas interpretação e a banda sonora fez-me viajar até à infância. Estou com imensa curiosidade em ver o filme, mas estou ciente que os assuntos não foram abordados com a mesma profundidade.